INTRODUÇÃO
No prefácio à primeira edição, do «Ensaio sobre a crise mental do século XVIII», Hernani Cidade fala-nos da necessidade que teve de sacrificar muita coisa "à frequentação interrogadora de fantasmas esquecidos nas bibliotecas." Esse seu trabalho de pesquisa permite-nos hoje, como no seu tempo, melhor compreender os nossos dias. Ele próprio nos diz que a contemplação demorada do passado só se pode justificar o viver-se por ela mais conscientemente o presente.
"A audácia dos grandes mestres de setecentos, ao serviço de cuja razão, esclarecida de toda a luz da cultura do seu tempo, fremia num ardoroso, vitorioso esforço combativo;" erguia-se perante o investigador e, hoje, perante nós, viva e forte. Repercutia "o eco das suas vozes" numa conjugação de esforços pela renovação de "hábitos mentais de raízes seculares (...) que por quase dois séculos nos manteve alheados da Europa culta." Porque não quiseram continuar a "vender fumo por substância" pugnaram por um novo "mundo espiritual" em que "o permanente exercício de uma razão regressada ao bom senso" e com "uma curiosidade universalista", deixava para trás "a estreiteza da biblioteca e claustro conventuais." Ficavam de parte todas as subserviências do "magister dixit", e todas as marcas impostas pelos aristotélicos, tomistas, "pela Ratio Studiorum e até pelas Mesas Censórias." Renovava-se a mentalidade e a moral, e os "malabarismos verbais," e as filigranas na escrita, deixavam de usar-se. Optava-se pela observação e pela pesquisa directa, da natureza física e moral da humanidade.
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(continua)
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