O Professor Hernani Cidade não deixa de referir os grandes portugueses, estadistas, filólogos e professores, que dedicaram momentos da sua vida a estudar esse tempo de Seiscentos. Agradece "a colaboração moral (...) que, em estímulos e sugestões de ordem vária" lhe vieram do "ambiente de honesta actividade da Faculdade de Letras do Porto". Deste apoio solidário ficaram inscritos vários nomes de amigos, entre os quais realça o do Professor Doutor Joaquim de Carvalho, sem o qual, provavelmente, este livro não teria sido publicado. Na nota prévia à segunda edição, o autor diz-nos aquilo que procurou fazer ao "compendiar quanto, não apenas da literatura, senão também das formas de cultura" que levaram "a actividade mental portuguesa, do formalismo quase vazio ou de uniforme estreiteza do século XVII, à profunda, renovadora inquietação e riqueza espirituais do século XIX."
No Prefácio da terceira edição, menciona que reviu o seu livro com a "serena vontade de acertar, o saboroso fervor do esforço honesto, de quem põe o que há de perene na cultura - a sua finalidade humana - em plano muito superior ao das instituições, obras e pessoas." Alude que, quanto ao "amor da Verdade pela Verdade" não sabe "bem o que seja, senão na ordem do transcendente. Na relatividade do imanente - de cujos limites obras deste teor não deverão sair," sabe "o que é o amor da dignidade espiritual do homem, aquela que pode ser comum a crentes, agnósticos ou ateus." Diz-nos ainda que , "no caso presente do estudo da cultura seiscentista cumpre evitar o panegírico verbalístico tanto como o verbalístico denegrimento. No entanto cabe à Companhia de Jesus a responsabilidade do "desfalque" que na Metrópole havia, no que se refere a uma "empresa pedagógica assumida," uma vez que ela se espalhava pelo "vastíssimo mundo português." Mais que "cultivar os espíritos era dever sagrado preservar ou salvar almas. E esta missão impunha, na escola e no livro, reservas que estão na lógica do Instituto - e foram, por seu inevitável exagero, a causa do desnível da nossa cultura."
Este esclarecimento do autor, tinha intenção de tornar mais clara a ideia "que presidiu à 1ª edição" do seu livro. "Em face das analogias entre a literatura gongórica e a filosofia escolástica de seiscentos, e entre a simultânea reacção, no século imediato, de letrados e filósofos contra o formalismo de Gongora e os formalismos escolásticos, que Cruz e Silva põe a par, no Reino das Bagatelas", sentiu "que o fenómeno literário só será compreensível em plenitude, uma vez que metodologicamente reintegrado no complexo Cultura, de que faz parte."
Quando saiu a 3ª edição, terá sido mais poupado à crítica e esse facto é referenciado no prefácio à 4ª edição do livro por H. Cidade. No prefácio à 5ª edição, datado do ano de 1967, já livre do ensino oficial por limite de idade, diz-nos o autor que quando apareceu a 1ª edição em 1929, este Ensaio "tentava esclarecer a evolução que levou a literatura do formalismo barroco às tendências realistas do neoclassicismo, pelo mesmo impulso mental que na filosofia fez triunfar Descartes contra Aristóteles e Newton contra Descartes."
A Resenha que aqui fica, abrange a I e II parte. A sua relação será o mais minuciosa possível, dentro do limite imposto a este trabalho e, muitas vezes, com as próprias palavras do autor, muito melhores que outras sinónimas, para a clareza das ideias e do texto.
Nascia em Portugal um novo mundo intelectual, aberto a Copérnico, a Kepler, a Galileu e a Newton. Todos os filósofos modernos, franceses, italianos, ingleses e alemães entravam nas salas de aula e as ciências naturais, físicas e matemáticas faziam parte dos currículos escolares. Era "concebido o mundo social em que vivemos." Vamos na sua peugada, conhecer um pouco melhor os homens que tornaram possível estas reformas mentais que abriram a todos nós novos horizontes, e nos tornaram pela sua cultura, um pouco mais, cidadãos do mundo.
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(Continua)
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