quinta-feira, 21 de junho de 2012

Lições de Cultura e Literatura Portuguesas

"Portugal ortodoxo, receoso das especulações perigosas, retoma mais íntimo contacto com a França livre, e através da França, com a Inglaterra, mais livre ainda. A filosofia, depois de substituir, numa vasta extensão dos domínios da ciência, muitas verdades que se julgavam da Revelação por verdades da razão, vai agora substituindo cada vez mais as verdades da razão pelas da experiência. A literatura, por seu turno, - e com um paralelismo que é a ideia principal deste livro - hemos de vê-la descer da esfera da fantasia caprichosa para o plano da realidade física e moral." (pp.46)
"Na modéstia dos seus talentos, reflecte Bluteau as curiosidades que conduziram os seus contemporâneos da própria ou seguinte gerações - Fontanelle, Voltaire, o próprio Rosseau e outros - a variar a imaginação literária pela observação científica, a abraçar no mesmo esforço compreensivo o mundo moral e físico, como que reconstituindo a grandiosa Unidade do Universo. (...) A sua actividade é, na verdade, a de primeiro agitador," (pp.47) A ele irão seguir-se Castro Sarmento, Rbeiro Sanches e Verney. Todos eles recordam-nos o movimento "que a filosofia, a ciência e a literatura" realizaram em simultâneo. O impulso, a colaboração e a iniciativa ficou-lhes do exemplo da entrega à sabedoria, de D. Rafael Bluteau.
Manuel de Azevedo Fortes (1660-1749), engenheiro-mor escreveu a sua Lógica Geométrica e Analítica, que foi publicada em 1744, e nela "reduz a lógica escolástica à clara simplicidade do método geométrico". Acusaria de ignorância os nossos filósofos, no que se refere à geometria. Dirá: «Não passam da Aritmética ordinária.» A obsessão por um aristotelismo que tinha "sido deformado por Avicena, Averrois e outros comentadores" originava a infecunda filosofia que se ensinava. Dirá: «Tudo nos seria incógnito até ao presente, se Copérnico, Tycho-Brahe, Regiomontano, Roberválio e Galileu nos não descobrissem tantas maravilhas.» Ele reconheceria "a necessidade da dúvida como ponto de partida para a certeza." Como Descartes aceita a dualidade, alma e corpo, e adere ao seu método analítico-sintético. Aproveitava-se pela primeira vez, "o que tem de essencial e fecundo na filosofia de Descartes. O seu "livro, segundo Inocêncio, teve grande vulgarização, muito tempo servindo de instrução e prémio." (pp.49) Teria sido esta obra que preparou, dois anos antes, o surgimento no panorama cultural português do Verdadeiro Método de Estudar . Azevedo Fortes era um apaixonado pelas novas doutrinas e dotado de uma curiosidade que conseguiu transmitir.
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(continua)   

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