sábado, 23 de junho de 2012

Lições de Cultura e Literatura Portuguesas

O Dr. Jacob de Castro Sarmento (1691 - 1762) foi um homem sapiente que se graduou em Artes e Medicina pelas universidades de Évora e Coimbra respectivamente. Partiu para Londres em 1721, e aí, entrou no Real Colégio dos Médicos e na Sociedade Real. Doutorou-se pela Universidade escocesa de Aberdeen, e veio a pertencer ao seu corpo docente. É ele que em Londres irá acolher Ribeiro Sanches. Era um newtoniano convicto, um iluminista. D. João V vai procurar os seus conselhos para "reformar os estudos médicos em Portugal." O médico vai aconselhar o Rei a mandar traduzir a obra de F. Bacon, e a enviar estudantes de mérito para se formarem no estrangeiro. Após concluídos os cursos, estes voltariam para Portugal e aqui ensinariam o que tinham aprendido. Era uma maneira de as escolas se abrirem a novos conhecimentos. Depois de ele mesmo começar a traduzir a obra de Bacon, encarregado pelo conde da Ericeira e de ter enviado em 1731, uma primeira parte, esse trabalho não lhe foi pago. Ficou incompleto. Em 1737 tentou outra obra «para se introduzir neste reino a verdadeira filosofia Natural ou Newtoniana.» Frei Francisco de S. Luís dirá, "na memória que lhe consagra", que era a «Teórica verdadeira das marés, conforme a filosofia do incomparável Cavalheiro Isaac Newton.» Ele procurou comunicar aos portugueses o seu entusiasmo pela Moderna filosofia. O Rei enviou para o estrangeiro o Dr. Bento de Moura Portugal, que em quinze meses "viajou mais longe no Mundo Filosófico do que em muitos anos se podia esperar de um grande engenho." Sarmento considerou que estaria próximo o triunfo da filosofia de Newton, quando se publicou em 1737 os Elementos de Geometria do padre Manuel de Campos.
O Dr. António Ribeiro Sanches (1699 - 1782) foi um sábio que se formou em medicina e Direito. Frequentou a Universidade de Coimbra e de Salamanca, e de ambas veio a fazer "uma áspera crítica" quanto aos seus métodos pedagógicos e científicos. Viajou para os países do norte da Europa onde as ciências físico-químicas estavam mais desenvolvidas. Depois de Génova e Paris vai para Londres. Dirá que em país nenhum se ensinam as ciências como aí. Em Leide frequenta as aulas de Boerhaave, professor holandês, que lhe irá reconhecer a sabedoria e o levará a ser médico da Czarina da Rússia, Ana Ivanowa. Médico em Moscovo, dos exércitos imperiais, do Nobre Corpo de Cadetes, é por fim médico da Corte com título de fidalgo heriditário. Em 1747 fixa-se em Paris com uma pensão do governo moscovita e entrega-se à leitura e escrita.
"A obra de Ribeiro Sanches é a obra de um sábio (...) ele realiza o tipo de uomo universale, à maneira dum italiano de Quatrocentos." (pp.58) Apesar de toda a sua sabedoria assentar na experiência científica e na observação directa, para além dos estudos teóricos, nunca se desviou das realidades sociais. Vai escrever para contribuir com os seus conhecimentos a bem dessa mesma sociedade. "O historiador da Medicina Portuguesa, Prof.Silva Carvalho, (in: notas, pp.57) Possuía o catálogo da livraria da Livraria de Ribeiro Sanches que foi vendida em leilão, no ano de 1783 em Paris. Aí temos uma panorâmica da cultura que possuía. Autores espanhóis e portugueses como Gomes Pereira, Amato Lusitano, Fonseca Henriques, e filósofos como Platão, Aristóteles, Galileu, Newton, Hume, Bayle, Montesquieu, muitos livros em inglês, mas também a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, e O Verdadeiro Método de Estudar  de Luís António Verney. Foi "eleito sócio correspondente das Academias das Ciências de Paris, Berlim e S. Petersburgo e membro da Sociedade Real de Londres." Para tentar reformar a educação portuguesa, vai escrever duas obras, que servirão de guia ao Marquês de Pombal. São elas: Cartas sobre a educação da mocidade nobre e o Método para aprender a estudar a Medicina, ilustrado com os Apontamentos para estabelecer-se uma Universidade, na qual deviam aprender-se as Ciências humanas de que necessita o  Estado Civil e político. "A elaboração do primeiro destes trabalhos determinou a extinção, em 1759, dos colégios dos Jesuítas." E veio a dar origem à fundação do Colégio dos Nobres, em 1761, pelo conde de Oeiras. Aí pugnava Sanches pelo ensino das línguas modernas, pelas matemáticas elementares, geografia, história, noções de direito civil e político, mas também pela ginástica, esgrima e dança. Patenteava ideias como a liberdade de consciência, e uma organização do Estado com base na obra de Rosseau, em que fosse possível um contrato entre o povo e o soberano. As suas ideias não admitiam clérigos na Universidade, uma vez que o ensino devia ser do Estado, e "os clérigos, súbditos da Igreja Romana, eram estrangeiros na própria Pátria." (pp.61) Nem mesmo o Marquês de Pombal concebia ideias tão modernas. Será com Ribeiro Sanches e Luís António Verney que se irão dar as verdadeiras modificações de mentalidades, que levarão a uma "revolução" nas Universidades. O Marquês de Pombal irá ser o obreiro que levará a cabo a maior reforma de ensino que alguma vez se fez no nosso país. Não podemos esquecer que já tinha vinte anos de governo, quando realizou a sua maior obra - uma Nova Universidade - mesmo que depois, as reformas, não tivessem sido todas do melhor lustro.
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(Continua)      

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