segunda-feira, 25 de junho de 2012

Lições de Cultura e Literatura Portuguesas

Hernani Cidade mostra-nos que antes de Verney existiram homens que lhe lavraram os campos, para receber a sua semente. Refere, por isso, ainda os nomes do Dr. José Rodrigues de Abreu, médico de D. João V, que escreveu o livro Historiologia Médica (1735, 1739 e 1752), no qual "facilita ao leitor mais largo percurso pelo mundo das ideias" e Martinho de Mendonça de Pina e de Proença, que, amigo de Abreu, foi um homem muito viajado, e conviveu com homens como Wolfio, S'Gravesande, de quem ouviu conferências sobre os "sistemas e princípios de Leibnitz e Newton. "Na carta que escreve ao amigo, publicada na revista de Filosofia nº 14, num artigo do Dr. Alberto Andrade, podem ver-se as suas ideias de erudito de setecentos," que seguia mais Descartes do que os escolásticos.
Todas estas ideias novas foram transformando, mesmo que timidamente, a própria literatura. Vão surgir as primeiras Academias e com elas a reacção na literatura contra o gongorismo e a escolástica que tinham vigorado longo tempo.
A Academia dos Generosos viveu desde 1647 a 1667. Foi novamente restaurada em 1717. Aí as ideias de Bluteau puderam frutificar, e ele troçará do reportório dos Singulares. Fará a primeira crítica séria à literatura do século XVII. A Academia dos Singulares, de 1663 a 1665, fará ouvir a voz de D. Francisco Manuel de Melo. Em 1669, organizam-se na casa do conde da Ericeira As Conferências Discretas e Eruditas. A Academia Teológica "defendia que não há assunto mais próprio para discursos académicos do que a suma perfeição do ser divino..." (pp.64) Frei Lucas de Santa Catarina que, provavelmente, conheceu Boccacio dos Decamerone, no seu livro Serão Político irá procurar fazer rir os leitores do lirismo gongórico. E D. Francisco Xavier de Meneses vai traduzir a Arte Poética de Boileau.
A Casa do Cunhal das Bolas, no bairro alto, era o "primeiro foco do Século das Luzes"(pp.73). "Ericeira constituía, no ambiente seiscentista, uma excepção" era de uma "cultíssima inteligência" e um mecenas.
A Academia Real da História Portuguesa foi fundada em 1720 por impulso do Padre Manuel Caetano e teve todo o apoio do Rei Magnânimo, D. João V. Criada para escrever a História Eclesiástica destes Reinos, irá ser comparada num discurso do seu fundador ao Danúbio: «Melhor Danúbio do que o Danúbio germânico, porque nasceu da altíssima compreensão de El-Rei Nosso Senhor. E se o Danúbio germânico é uma reunião de sessenta rios, o Danúbio lusitano é um congresso caudaloso de rios de erudição e eloquência...» (pp.82) "Nesta Academia, não se pode negar, houve capacidades para trabalho útil. Basta citar os nomes de Bluteau, Diogo Barbosa de Machado e, sobretudo, D. António Caetano de Sousa, autores respectivamente do Vocabulário, Biblioteca Lusitana e História Genealógica da Casa Portuguesa." (pp.83)
"O marquês do Alegrete, na sua História desta Academia de que foi secretário perpétuo, julga criteriosamente os que nesse campo (da historiografia) tinham até então trabalhado. (...) Hubner diz desta Academia que «apresentou pela primeira vez investigação propriamente histórica em substituição à literatura por assim dizer monástica, em que se haviam baseado até então todas as indagações históricas e arqueológicas.» (pp.84)
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(Continua)
      

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