sexta-feira, 1 de junho de 2012

V - Salvador Correia de Sá e Benevides

Pouco depois de chegar ao Rio, recebia ordens para, juntamente com um feitor que lhe enviaram, recolher o maior número de abastecimentos para enviar às capitanias do Norte. As capitanias do Rio, S. Vicente e S. Paulo é que forneciam a Baía naquele tempo, «por serem fertilíssimas de farinhas, assim de trigo, como de mandioca e de toda a criação» de animais domésticos.
Salvador de Sá e Benevides podia, para esse efeito, usar o dinheiro da Fazenda Real, ou o seu crédito de Capitão-Mor e Governador. Do Reino recebia o sal para temperarem as carnes que adquiriam. Os exércitos e praças do Norte eram abastecidos pelos grandes armazéns, que ficavam sediados no Rio de Janeiro, «pois era certo que sem mantimentos todo o socorro de gente e armadas que se mandar ao Brasil não somente será de proveito ao intento que se pretende, mas será causa de ruína, e total destruição de tudo.» (Norton, pp.36)
No dia 6 de Março de 1639 nasceu o primeiro filho de Salvador que era, então, um grande proprietário. Tinha construído um armazém para recolher o açúcar, a farinha e outros géneros da terra. Aí instalou uma balança que obtivera o privilégio de ser a única na cidade, porque não podia haver outra, e cobrava pela pesagem de cada caixa de açúcar dois vinténs. (Lessa, pp.21/22) Esta armazém que, inicialmente, tinha um contrato de exploração por dezanove anos, assinado pelo Conselho Municipal, viria a tornar-se vitalício, inclusive para os seus herdeiros, que obtiveram um investimento muito lucrativo porque, ao longo de dois séculos, apesar de todos os esforços das autoridades para o comprar, não foi possível negociá-lo. Até 1850, o governo imperial não conseguiu, nem mesmo por uma quantia elevada, comprá-lo à sua família. (Boxer, pp. 115)
Apesar de toda a sua riqueza, solicitou um aumento do seu salário, o que lhe veio a ser concedido, como Mestre-de-Campo, a 15 de Novembro de 1639, quando foi, também a seu pedido, nomeado administrador das minas de S. Paulo. Ser-lhe-iam atribuídos os largos poderes de governador das capitanias do Sul, devido aos seus argumentos da "maior facilidade de manobra em tempo de guerra com os Holandeses."
O Conde da Torre, D. Fernando de Mascarenhas, chegou à Baía a 19 de Janeiro de 1639 para substituir Rojas, depois de ter saído do Tejo a 7 de Setembro de 1638. Tinha permanecido em Cabo Verde muito tempo e perdeu muitos dos seus homens. Durante a abordagem que fez no Recife, a 10 de Janeiro de 1639, os seus oficiais aconselharam-no a atacar os holandeses imediatamente, mas ele recusou. Comandava uma esquadra de socorro, composta por 25 navios portugueses e oito espanhóis, que Madrid resolvera enviar para travar o ímpeto conquistador de Nassau. Esse estendia-se à Baía, onde já tinha tomado duas fortalezas e continuado para Salvador, onde foi derrotado pelo conde de Bagnuolo.
O governador-geral pediu que se reunissem aos seus navios todos os que estivessem disponíveis nas diversas capitanias, assim como o recrutamento de homens e provisões, para a guerra. Salvador Correia de Sá providenciou para que fossem pagos 4.000 reis, adiantadamente, a todos os voluntários que se alistassem. Como resultado do seu esforço, reuniu uma força mista de 428 soldados e 385 marinheiros, 30 cavaleiros e 37 canhoneiras. Numa carta que dirigiu ao Conde da Torre, Salvador dava-lhe conhecimento de que o pagamento aos homens recrutados, tinha sido feito do fundo da coroa e do seu próprio bolso. Também referia que tinha reforçado os cofres da tesouraria local com a imposição de uma taxa sobre a venda do vinho, coisa que nenhum dos anteriores governadores tinha conseguido. Uma segunda vez, Salvador prometia enviar 250 brancos e índios, do distrito do Rio e, dava ordens rigorosas para que ninguém de S. Paulo fosse "caçar" índios ou explorar minas no interior, enquanto durasse a guerra com os holandeses. Nesse despacho acrescentava que havia cerca de 900 homens em expedições no interior, e que teriam sido melhor empregues nas lutas em Pernambuco do que em "profanar os acampamentos da Missão onde iam procurar índios." (Boxer, pp.119)
_________________________________
(continua) 

Sem comentários:

Enviar um comentário