sábado, 2 de junho de 2012

V - Salvador Correia de Sá e Benevides

Relatórios holandeses, contemporâneos e fidedignos, informam que chegaram à Baía, em segurança, dezasseis navios e 1200 soldados, vindos do Rio de Janeiro, com grandes quantidades de carne e farinha, para abastecer a força expedicionária da Torre. Estes fornecimentos adicionais de mercadorias vieram de Buenos Aires, cujo governador, D. Mendo de la Cueva y Benevides, era um parente de Salvador. (Boxer, pp.120) D. Fernando de Mascarenhas endereçou-lhe muitos elogios e agradecimentos por todo o apoio obtido.
O conde da Torre conseguiu, assim, reunir cerca de 90 navios bem guarnecidos.Mas, durante o tempo que mediou essa preparação para a guerra, Nassau também se reforçou e quando se deu o encontro das duas esquadras inimigas, o Conde da Torre, apesar de inicialmente estar a vencer, após quatro dias de combate foi obrigado a dispersar a esquadra e foi destroçado em Potengy. A derrota foi clamorosa. A custo o governador-geral conseguiu chegar à Baía. D. Fernando de Mascarenhas foi mandado regressar a Lisboa e encarcerado na torre de S: Julião da Barra, donde só seria liberto, após a Restauração de Portugal em 1640.
Um total de 1500 a 2000 homens aportaram em Touros, no Rio Grande do Norte, e sob o comando de Luís Barbalho Bezerra, percorreram 400 léguas a pé até à Baía, constantemente atacados por inimigos. Morreram 100 homens durante esta marcha épica. Outros navios fugiram para as Antilhas. Os espanhóis sofreram em poucos meses esta derrota e a destruição da armada do Almirante Tromp, em Downs, a sul da Inglaterra, que coincidiu também com a revolta da Catalunha.
O Brasil seria então governado por um Vice-Rei, o Capitão General de Mar e Terra D. Jorge de Mascarenhas, Marquês de Montalvão. A administração do Brasil tinha passado pela centralização do governo-geral, divisão administrativa em dois governadores-gerais, por duas vezes, mas sempre com o "comando" da sua administração em Lisboa. As vilas e cidades eram geridas tal como eram as do reino. A justiça era exercida por juízes ordinários que estavam à frente das câmaras e, os governadores acumulavam os cargos de militares que procediam à defesa das capitanias desde a lei das ordenações de 1569 e da lei dos capitães-mores de 1570. (Magalhães, 1993)
A separação administrativa e política que resultou da criação do Estado do Maranhão em 1621, foi a mais longa experiência de governação pois, duraria até 1774.
Aquando da chegada do novo governo, andavam os colonos paulistas em discórdia com os padres, porque o Papa Urbano VIII, tinha enviado uma bula em que se garantia a liberdade dos índios, e os Jesuítas lutavam pela sua liberdade. Desde 1570 que se proibiam as "entradas" com o intuito de aprisionar índios e os escravizar; no entanto, apesar de, no início do século XVII, se dizer que no Brasil se há criado outra Guiné, nem por isso se substituíam os índios. Padre António Vieira, a propósito do Maranhão, escrevia que, "Tendo o Estado tantas léguas de costa e de ilhas e de rios abertos, não se há-de defender, nem pode, com fortalezas, nem com exércitos, senão com assaltos, com canoas, e principalmente, com índios e muitos índios; e esta guerra só a sabem fazer os moradores que conquistaram isto e não os que vêm de Portugal."
Sabemos que estas palavras de Vieira se aplicavam a todo o Brasil e que Salvador de Sá e Benevides teve sempre, quase como braço direito, os índios. E, apesar de no Rio o problema do trabalho escravo dos índios não ter a gravidade do de S.Paulo, Salvador de Sá, que era muito amigo dos padres, resolveu intervir para conseguir um acordo ente os jesuítas, o povo e a Câmara. Escreveu-se uma acta a confirmá-lo, que se assinou, no Colégio, em 22 de Junho de 1640. Os padres deixavam de poder intervir na administração dos índios que os moradores tivessem em sua casa. Passavam a só poder proteger os índios nos seus aldeamentos. Os próprios padres tinham índios ao seu serviço, no seu muito vasto património, o que gerava, entre o povo, a controvérsia, no entanto, Martim de Sá, em 1630, atestava que lhes pagavam soldo. Quando se revoltaram e teceram amargas críticas aos Jesuítas, os populares afirmavam que só no colégio do Rio havia 600 escravos, mas os padres desculpavam-se argumentando que os escravos "eram quase todos negros". (Boxer, pp.139) O próprio Salvador tinha cerca de 700 escravos, empregados nas suas várias plantações de açúcar e ranchos de gado, e era, quase certamente, o maior proprietário de terras, na capitania e, possivelmente, na verdade, o maior proprietário de terras individual, em todo o Brasil. (Boxer, pp. 140)
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(continua)   

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