segunda-feira, 4 de junho de 2012

V - Salvador Correia de Sá e Benevides

Tinham sido 60 anos de domínio espanhol que deixavam a Portugal parte do Brasil ocupado pelos holandeses e Angola em rebelião. Em 1640, a metrópole teria cerca de 2 milhões de habitantes e iria, ainda por mais 20 anos, suportar a guerra com os espanhóis e os holandeses.
Esse socorro, em defesa de Angola, não se mandou sem dificuldades e sem sacrificar o Rio de Janeiro que ficava sem defesa e provisões. Em carta ao Rei, deu conta dessa missão espinhosa. Partiria para Angola para combater e expulsar os holandeses que ocupavam Luanda há 7 anos.
De 1620 a 1623 tinham saído de Angola para Pernambuco 15.430 escravos, e para as minas americanas sairiam, por volta de 1630, cerca de 15.000 escravos por ano. (Barléu, 1974, pp. 42, 214) Se pensarmos que a História de Gaspar Barléu se destinava a enaltecer os feitos de Maurício de Nassau no Brasil holandês, perante estes dados, compreenderemos melhor o porquê de Nassau se ter deslocado para a conquista de S. Tomé e de Angola. Cornelis Jol tomava de assalto S. Paulo de Luanda, em 1641, e logo a seguir, era tomada a fortaleza da ilha de S. Tomé. O socorro enviado da Baía foi em vão, porque Nassau reclamou a anexação de Angola e Pernambuco. Quando deixou o governo em Maio de 1644, era evidente o seu domínio do Atlântico.
O "filão" de Angola eram os escravos, necessários ao desenvolvimento do Brasil e da América em geral. Para povoar e fazer trabalhar tão vasto e rico continente era necessária a mão-de-obra que faltava aos europeus. Os escravos eram o principal móbil do comércio. Em 1625, o governador João Correia de Sousa enviou cinco navios de Angola para o Brasil com um total de 1.211 escravos, dos quais 628 (49%) sobreviveram à travessia (Matoso, 1986, pp.35). O Brasil tornara-se numa sociedade de escravos, onde estes realizavam praticamente toda a espécie de trabalhos. (Schwartz, pp.247) P. António Vieira, contemporâneo de Salvador Correia de Sá e Benevides, escrevia nos seus Sermões do Rosário: 
«Gente toda da cor da mesma noite, trabalhando vivamente e gemendo tudo ao mesmo tempo sem momento de tréguas, nem de descanso: quem vir enfim toda a máquina e aparato confuso e estrondoso daquela Babilónia não poderá duvidar, ainda que tenha visto Etnas e Vesúvios que é uma semelhança de Inferno». (Schwrtz, pp.213)
...«Olhai para os dois pólos do Brasil, o do Norte, e o do Sul, e vede, se houve jamais Babilónia, nem Egipto no mundo, em que tantos Cativeiros se fizessem, cativando-se os que fez livres a Natureza, sem mais Direito que a violência, nem mais causa que a cobiça, e vendendo-se por Escravos.» (Sermão, 27º do Rosário) ...«Fê-los Deus a todos de uma mesma massa, para que vivessem unidos, e eles se desunem: fê-los  iguais, e eles se desigualam: fê-los irmãos, e eles se desprezam do parentesco...» (sermão 20º do Rosário) (Vilela, pp. 93)
Este é, talvez, um dos retratos mais fidedignos desta época. Nem o cativeiro dos Judeus na Babilónia nem no Egipto, se poderia comparar a semelhante cobiça e miséria humana. Os homens tinham deixado de ser irmãos, sendo-o de origem. Numa das suas Cartas dizia Vieira: «...eu já fora morto de dor do que vejo, se me não animara a viver da fé do que esperamos ver.» (a  Duarte Ribeiro Macedo, 27/3/1675)

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