O objectivo de alguns ministros era que as duas frotas navegassem em conjunto até à Baía sob o comando de António Teles. Mas Salvador contrariou de imediato essa solução e mostrou não se encontrar ainda preparado para fazer a viagem e a evidência de que não se entendia bem com o governador-geral do Brasil. Ele sentia-se capaz de assumir a inteira responsabilidade da sua missão. Escrevia: «Senhor, estou ansioso por servir, e é isso que tenho feito há trinta e dois anos, tendo atravessado a linha dezoito vezes. E a respeito de navegação marítima, e a ter a sorte nela, não me submeto a ninguém em Portugal; tenho sempre dado bem conta do recado... e quem deu boa conta de fortes, de frotas, de galeões e navios expedicionários quando era novo, parecerá que saberá como fazer isso agora.» Não se inibiu de dizer ao próprio Rei, que se não fosse assim, que nomeasse outro que o substituísse. Tanto ficou D. João IV a admirá-lo, que se demoveu imediatamente de enviar as duas frotas em conjunto. (Boxer, pp. 247/249)
A esquadra de Salvador chegaria ao Rio de Janeiro em 23 de Janeiro de 1648 e aí encontraria mais cinco galeões enviados por António Teles, com a recomendação de que partisse o mais breve possível para Angola, antes que no Recife se soubesse da sua expedição. De facto, em 19 de Abril de 1648 dava-se a primeira batalha de Guararapes, onde os holandeses foram derrotados pelos portugueses comandados por Francisco Barreto de Menezes. A vinda de escravos de Angola trazidos pelos holandeses, permitiria o seu reforço de armas contra os portugueses; por isso, era necessária a rápida recaptura de Angola.
Salvador preparava as provisões de alimentos e de sal, para a manutenção da sua tripulação, que era composta, segundo o próprio, por «lixo das cadeias de Lisboa» e em condições tão pobres que muitos morriam. Recrutou homens no Rio, a maior parte, e em S. Paulo, apesar de os paulistas serem avessos ao voluntariado, dizia Vieira, que eram dos melhores combatentes do Brasil. Os moradores do Rio concederam um empréstimo de 60.000 cruzados para financiar a expedição, talvez porque eram dos mais interessados nos escravos prometidos, mas também num esforço cooperativo digno de nota, uma vez que o próprio general da armada disse ao Rei que sem esse empréstimo a viagem não se tinha realizado. O seu espírito empreendedor e de diplomacia manifestava-se em tudo o que conseguia obter. Ele próprio e a família empregaram dinheiro nessa aposta arriscada.
A chegada da armada With ao Recife, dividiu as opiniões acerca da partida de Salvador, mas o general resolveu empreender a jornada a 12 de Maio de 1648. Com 15 navios, levava entre 1400 e 1900 homens e mantimentos para seis meses. Todos os navios, além dos seis galeões cedidos pela coroa, foram pagos pelos fundos angariados no Rio de Janeiro. Alguns dos navios eram ingleses; doutros não se sabe a procedência. (Boxer, pp.256/258)
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(continua)
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