O ponto de encontro de toda a frota era em Quicombo, se algum dos navios se atrasassem ou desviassem, por qualquer motivo, uma vez que todos tinham de navegar em linha. Segundo Boxer, o navio Almirante de Salvador ia na vanguarda e o navio Almirante, S. Luís, na retaguarda. Este galeão perdeu-se várias vezes, e só reencontrou a armada a 9 de Julho, enquanto um dos escaleres se juntou à frota ao largo de Luanda. Salvador avistou a Costa Africana em 12 de Julho, um pouco abaixo de Cabo Frio. A travessia durou dois meses e a frota ancorou na enseada de Quicombo a 27 de Julho, para recolher lenha e água. Segundo Lessa, chegaram a 26 de Julho e desembarcaram em Cabo Ledo onde levantaram dois redutos. Aqui, perderam dois navios Almirantes com umas centenas de homens, numa tempestade originada por um verdadeiro sismo submarino. Um grupo de homens que tinham desembarcado também foram apanhados por este desastre e muitos deles foram comidos por canibais.
Salvador mostrou ser um digno herói da tragédia e levantando-se das cinzas, continuou a navegar com o resto da frota para Luanda. Fez uma paragem na foz do rio Suto e desembarcou de novo um grupo de homens, que não foi mais feliz que o primeiro. Os holandeses eram agora informados das intenções de Salvador, pela captura de alguns destes emissários de Massangano. A esquadra de Salvador chegou defronte de Luanda a 12 de Agosto. Havia dois navios holandeses no porto: Noort-Holland e Ouden Eendracht, que logo se fizeram ao mar a fim de reconhecer os recém chegados. Ao descobrirem a nacionalidade dos navios da frota desapareceram rapidamente no horizonte. Salvador Correia de Sá tinha a glória à sua espera, uma vez que, pela captura de dois pescadores angolanos, soube que 225 militares holandeses, comandados por Symon Pieterszoon, estavam para o interior a ajudar a Rainha N'zinga contra os portugueses. Outros 250 tinham recolhido ao forte do Morro e para o adjacente (o da Guia) na sua base, quando viram chegar a esquadra.
Salvador entrou na baía de Luanda a 13 de Agosto e mandou três emissários a terra a pedir a rendição pacífica. Os holandeses pediram oito dias, mas os portugueses deram-lhes dois ou três dias. No dia 15 de Agosto, Salvador desembarcou os seus homens e deixou nos galeões bonecos com bandeiras, a simular uma tripulação que não tinha. Ordenou aos seus soldados e marinheiros que marchassem sobre a cidade. Ele deslocava-se a cavalo, porque estava doente de uma perna. A vanguarda foi mandada atacar a cidade e os holandeses acabaram por ter apenas uma reacção simbólica e retiraram-se para o abrigo dos fortes do Morro e da Guia, dando-se o sucessivo assalto ao do Morro e da Guia, em três ondas sucessivas de portugueses, durante a noite e a aurora. Houve mais de 150 baixas nas tropas e Salvador mandou reunir.
Alguns canhões tinham rebentado e outros estavam sem concerto. Eis senão quando, após frustrado assalto ao Morro, surgem mensageiros holandeses com uma bandeira branca para negociar condições. Salvador disse que podiam redigir as suas condições. Estas foram assinadas a 21 de Agosto. Havia uma rendição holandesa. Eles comprometiam-se a evacuar os seus homens com honras de guerra e ser-lhes-ia permitido levar os seus bens, escravos e navios, para os fazer transportar. Cerca de uma centena de soldados católicos, mercenários franceses e alemães, ao serviço dos holandeses, pediram para ficar e ser respeitados, ao serviço dos portugueses.
Cardornega, que era um dos resistentes de Massangano, conta que os homens, com a alegria, comportavam-se "mais como loucos do que como seres racionais". O mesmo acontecia em Luanda, onde se tornava a consagrar a cidade a Nossa Senhora da Assunção, e se baptizava a fortaleza com o nome de S. Miguel, patrono da viagem de Salvador. (Boxer, pp.263/270)
O espírito de cruzada aliava-se a esta reconquista. Angola era novamente cristã, apesar da história de violência que marcava o destino deste povo, nas jamais desaparecidas marcas dos ferros com que se marcavam os corpos e estigmatizavam as almas.
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(continua)
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