Tudo o que o Brasil deu a Angola, Salvador Correia de Sá lhe restituiu com largueza (Norton, pp.125). A sua riqueza e poder era agora mais do que nunca. A partir de 17 de Setembro de 1658, voltava ao Brasil com o título de Governador das capitanias do Sul, nomeado pela Regente D. Luísa de Gusmão, e inaugurava a grande campanha para a exploração do ouro e das pedras preciosas. A ideia da serra das esmeraldas e da serra resplandecente de Sabarassú mantinha-se, por isso, nova bandeira comandada por seu filho João Correia de Sá, partia em busca desse sonho. Todas as despesas das pesquisas foram pagas por Salvador, mas a viagem, tormentosa nas aventuras e desvarios, revelou-se infrutífera. Mais sorte teve Salvador em S. Paulo, onde se revelaram novos "filões auríferos." Inaugurava-se o ciclo do ouro. A expulsão dos holandeses do nordeste em 1654, o regresso dos Jesuítas a S. Paulo em 1653, permitiram pensar numa possível concentração de esforços para o trabalho nas minas.
Porém, nesse tempo, os moradores do Rio de Janeiro estavam empobrecidos pelas consecutivas partidas dos seus homens para a aventura do sertão e das conquistas guerreiras. Durante a ausência de Salvador criaram-se partidos que traziam uma política de dissidência e revolta. As velhas acusações contra a família dos Sás ressurgiram motivadas pela sua tão desmesurada riqueza e poder oligárquico. Os motins revolucionários sucediam-se e Jerónimo Barbalho Bezerra encabeçava as revoltas. Salvador teve que reunir os seus índios e criados para assaltar a fortaleza que tinha sido tomada, e retomar o governo usurpado pelos revolucionários. Jerónimo Bezerra foi condenado à morte em 1661 e com a ajuda da Armada de Manuel Freire de Andrade, que se encontrava de chegada ao Rio, Salvador conseguiu retomar o poder e serenar os ânimos.
Houve autores que viram nesta revolta o fermento daquilo que viria a ser, mais tarde, a necessidade da independência do Brasil. O jugo dos poderosos começava a atormentar o povo do Rio. As «fazendas de potência» de Salvador e de Tomé Alvarenga foram sequestradas. Nada voltaria a ser como até aí, porque o Conselho Ultramarino mandou um novo governador para substituir Salvador e ser-lhe-ia, novamente, ordenada uma devassa. Apesar de lhe ser consentido retirar das suas terras sequestradas o necessário para continuar a trabalhar na sua grande obra, o "Padre Eterno", o maior navio construído no Brasil daquele tempo; e, um dos maiores galeões construídos no século XVII, saído da fábrica dos galeões do Rio de Janeiro, não chegou a vê-lo concluído. Mais tarde viria a ser vendido à Coroa. Logo após a tomada do cargo do novo governador, D. Pedro de Melo, a 29 de Abril de 1662, a família de Sá e Benevides preparava a sua partida.
Salvador regressou à metrópole em 24 de Junho de 1663, "ao cabo de 49 anos contínuos de serviços" para nunca mais voltar ao Brasil, onde tinha vivido a maior parte da sua vida. (Norton, pp.144/146)
D. Afonso VI fê-lo morgado do Paul da Asseca, no ano de 1664 e dois anos depois concedeu ao seu filho Martim, o título de Visconde de Asseca. As acusações perseguiram-no e se não fossem os padres, depois de supostamente ter intervido no golpe de Estado contra D. Pedro II, teria sido condenado a cumprir pena de degredo em África. Espoliado dos seus bens, foi-lhe concedido viver e morrer no seu palácio de Santos-o-Velho em Lisboa. Voltou a trabalhar no Conselho Ultramarino desde 1671 até 3 de Dezembro de 1680, dia em que assinou a sua última consulta.
Faleceu a 1 de Dezembro de 1688 e foi sepultado no antigo Convento de Nossa Senhora dos Remédios dos Carmelitas Descalços. Na lápide da sua sepultura, que veio a desaparecer, estavam escritas as seguintes palavras:
«AQUI JAZ SALVADOR CORREIA DE SÁ E BENEVIDES,
SENHOR DO COUTO DE PENA BOA E DAS VILAS
DE TANQUINHOS, ARRIPIADA E ASSECA,
RESTAURADOR DA FEE DE XPTO NOS REINOS
DE ANGOLA, CONGO, BENGUELA, S. TOMÉ
VENCENDO OS OLANDESES, E COMPROU
ESTA SAN CHRISTIA COM MISSAS E SUFRAGIOS PERPETUOS
PEDE A QUEM LER ESTE LETREIRO O ENCOMENDE A DEOS»
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(continua)
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