«...na vida, ninguém alcança a glória merecida.»
LUÍS DE CAMÕES
CONCLUSÃO
As palavras gravadas na lápide da campa de Salvador, mostram bem a dor dos seus últimos anos de vida. Não havia uma única referência ao Brasil. Era como se, de facto, nunca lá tivesse estado. Muitos dos dissabores que sofreu terão sido motivados por intrigas e calúnias, segundo afirmou quando do regresso a Portugal.
Ao concluir-mos este trabalho, não temos a mesma visão edílica que trazia-mos da infância do herói da Restauração de Angola. Reconhecemos que como dizia John Betjman, a infância é medida em sons, cheiros e imagens, antes da chegada da hora escura da Razão. Os sons que se ouviam eram os de glórias ao herói, os cheiros os dos jardins, que os zéfiros brandos da matina solarenga ou de cacimba, transportavam e misturavam com os odores do mar, ao longo da rectangular avenida que levava ao Liceu Salvador Correia. As imagens eram as do quadro a óleo de um Salvador jovem, fidalgo honrado, que transpareciam igualmente do busto que admirávamos.
A chegada da hora escura da Razão não deixa margem para tintas coloridas. A ida para Angola deveu-se a interesses económicos, políticos e religiosos. O seu dever patriótico, o seu espírito de aventura, a sua coragem destemida, a sua Fortuna ou Fado levou-o a cumprir o que lhe estava traçado ou aquilo que para si traçou. O Brasil precisava de mão-de-obra africana para se construir como uma nação. Os engenhos de açúcar, as grandes propriedades de gado, as minas, as construções de caminhos, estradas e pontes, de baluartes e fortalezas, de igrejas e de conventos, de palácios, etc. não se teriam feito sem os homens que se compraram ao Continente Africano.
A realidade da escravatura é, em todos os tempos da História do Homem, uma nódoa imperecível na história de todos os povos. Todos a praticaram e as culpas estão em todos até à eternidade dos tempos. Na Idade Moderna constituía prática comum. A teoria de Aristóteles ajudou a que se aceitasse a inferioridade de outros seres que eram em tudo iguais a cada um. As missões tinham escravos e os missionários não estão ilibados do próprio tráfico e lucro que daí advinha.
Perante o quadro doloroso que foi a colonização, fica-nos a ideia que era de facto um inferno, de abuso de poder de exploração do homem pelo homem. No entanto, à luz do tempo que viveu, continuamos a afirmar Salvador Correia de Sá e Benevides como um Herói Nacional que não merece o esquecimento. Enriqueceu e fez enriquecer Portugal, mantendo-lhe a posse do Brasil, de Angola e de S. Tomé. Foi digno herdeiro do nome que recebeu. A História de Portugal da Idade Moderna não se faz sem o contributo da sua própria história e a dos seus ascendentes e descendentes, resta-nos honrá-lo em nome do orgulho e respeito que sentimos pela nossa História.
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Lisboa, 25 de Setembro de 2004
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