Os colonos de S. Vicente aceitaram bem, mas alguns, de S. Paulo, continuaram revoltados, e atacaram o colégio a 13 de Julho, prenderam os padres e expulsaram-nos do planalto. Salvador escreveu a 6 e 20 de Setembro aos paulistas para acatarem, tal como os do Rio de Janeiro, estas novas directivas, mas estes ficaram surdos às ameaças do governador. Em Janeiro de 1641 voltava a escrever, mas foi completamente em vão. Salvador C. de Sá e Benevides estava resolvido a ir pessoalmente mediar o conflito, quando, entretanto, recebeu a notícia, a 10 de Março, da Restauração de Portugal. Serenaram-se os ânimos, mesmo que provisoriamente.
D. João IV, Duque de Bragança, era o Rei. Salvador de Benevides prescindiu dos bens que tinha no território espanhol e aderiu à causa portuguesa, tal como o Vice-Rei. Nesta questão, Boxer coloca bastantes reticências quanto à imediata adesão do governador e explana toda uma série de razões para que assim não tivesse sido. No entanto, as manifestações de regozijo descritas por todos os historiadores lidos, levam-nos a concluir, instintivamente, que Salvador se sentia português. Os anos do resto da sua vida seriam suficientes para provar isso mesmo.
O governador mandou fazer muitos festejos na cidade, que duraram dias e ficaram famosos. Foram um verdadeiro Carnaval. Abriu a sua casa a uma representação teatral e a banquetes, próprios da opulência duma colónia que glorifica o seu Rei. A 19 de Março de 1642 recebeu uma carta de El-Rei, quando estava a assistir a uma homilia. Sentiu uma alegria tão manifesta, que começou a beijá-la e colocou-a em cima da cabeça, para que todos pudessem ver que a coroa de D. João IV era, agora, a sua. Deram-se, de imediato, vivas ao rei e o governador e capitão-mor do Rio recompensou o mestre da caravela, que lhe tinha trazido a carta, com isenção de imposto, o que era uma competência da Câmara, mas ele próprio prometeu que a pagaria do seu bolso. (Lessa, pp. 25/26)
D. João IV confirmou os poderes de Salvador, como governador das capitanias do Sul com a administração dos quintos e da casa de fundição de S. Paulo, e a mercê do soldo de mestre de campo. Resolveu-se então ir a S. Paulo serenar a revolta da população. Deixou Duarte Correia Vasqueanes no governo do Rio. Chegou a Santos e receberam-no, mas os habitantes da serra danificaram os caminhos, cortaram as pontes e impediram a sua ida. Benevides contemporizou e escreveu novas cartas a aconselhar o acatamento e a obediência das ordens régias e a prometer esquecer as ofensas.Apresentou diversos pontos a cumprir para que um acordo se firmasse, o que veio a acontecer, embora precariamente, e regressou ao Rio de Janeiro. (Lessa, pp. 28/29)
Anos mais tarde, quando se deu a passagem do controle das missões dos índios para as autoridades seculares, Salvador Correia de Sá fez uma declaração para o Conselho Ultramarino onde dizia: «eu sou testemunha ocular do facto de que em S. Paulo e Rio de Janeiro, onde fui governador durante muitos anos, os conselhos municipais desejavam obter jurisdição secular nas aldeias da missão, colocando-as sob controle de capitães nomeados por eles próprios. A dada altura, quando os padres deixaram esses lugares, havia 1000 famílias na aldeia de Marueri, 700 nas de S. Miguel, 300 tupis na de Pinheiros e mais de 800 na de Guarulhos. Quando regressei a S. Paulo, alguns anos mais tarde, encontrei apenas 120 famílias em Marueri, 80 em S. Miguel, 20 em Pinheiros e 70 em Guarulhos.» (Boxer, pp. 127)
Boxer escreve que, em qualquer caso, o sistema jesuíta desencorajava fortemente a iniciativa individual e o desenvolvimento da personalidade dos seus índios.
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(continua).
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