No final do século XVII, dos 528 engenhos do Brasil, 136 eram do Rio de Janeiro, que produziam uma média de 2.630 arrobas (38 toneladas) de açúcar por ano (Schwartz, pp.215). Na década de 1630, 80% do açúcar vendido em Londres era oriundo do Brasil. A guerra da Restauração (1641-1668) e os compromissos da política externa de Portugal para com os seus aliados foram financiados em larga medida pelo aumento dos impostos que incidiam sobre a indústria açucareira. (Schwartz, pp.218)
Salvador Correia de Sá e Benevides era a pessoa indicada para combater os holandeses em Angola, no interesse de se manter o Brasil e, com ele, a própria existência de Portugal. Tinha poderio económico e o poder de conseguir as ajudas necessárias ao empreendimento. O Rei sabia da sua intrepidez no comando de navios e do seu conhecimento do Atlântico. Recebia-o na corte como um conselheiro do mais alto valor e concedeu-lhe todas as regalias precisas e liberdade de acção. Nomeou-o capitão-geral e governador de Angola por decreto de 8 de Abril de 1647, e ordenou que lhe fossem dados dois galeões reais e tantos navios quantos fosse possível fretar a armadores privados.
Esses navios destinavam-se ao transporte de 600 homens que seriam recrutados em Portugal, Madeira e Açores. Salvador devia desembarcar em Angola para ajudar à construção de uma base fortificada que servisse de comunicação entre os defensores da Muxima e de Massangano. Não havia inicialmente o projecto de ataque a Luanda. Entretanto chegavam notícias de que a Baía corria perigo. Tinha-se dado o desembarque de Von Schoppe na ilha de Itaparica. Nesse mesmo dia iniciaram-se os preparativos de uma frota para socorrer a sede do poder no Brasil. Os navios que estavam destinados a partir para Angola foram, muitos deles, retirados a Salvador, assim como homens, munições e canhões que lhe tinham sido prometidos. Os pedidos do Conde de Vila Pouca de Aguiar, D. António Teles de Menezes, tinham de imediato prioridade. As duas frotas tinham sido preparadas com empréstimos de dinheiro conseguido pelo P. Vieira que era confessor e conselheiro do Rei, junto de cristãos-novos, seus amigos.
Durante este verão de 1647 discutia-se no Conselho Ultramarino a necessidade de atacar Luanda para retirar o poder definitivamente aos holandeses. No entanto, o objectivo oficial da missão a Angola era construir uma fortificação na foz do rio Dande, do Cuanza ou em Quicombo. Segundo Boxer, outros documentos relacionados com esta expedição mostram que desde o início esteve subjacente a ideia de expulsar os holandeses e recapturar a colónia. A própria nomeação de Salvador e as suas cartas-patente de governador e capitão-general de Angola, mostram-no. Também, porque era feita menção àquilo que era necessário para atacar os fortes de Luanda e para guarnecer a praça após a sua captura. Os documentos, no A.H.U., em Lisboa, são evidentes quanto a estas intenções.
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(continua)
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