Interrogo-me se não será "na sua substância erudita (...) que devemos procurar a qualidade mestra das Cartas" (4) Se não terá sido essa erudição que lhe permitiu escrever com "gentil graça latina," (5) mantendo ao longo de toda a sua correspondência a "juvenil agilidade intelectual, (...) a graça difusa e fina, na arte perfeita de contar (...) no estilo nervoso e ductil," numa "atitude mental de racionalismo cosmopolita e céptico" e exprimir-se com "uma ironia ligeira e penetrante." (6)
Na dedicatória que faz à condessa de Vimioso, no Tomo I (p.3) das Cartas, o autor diz-lhe:
"Quem encontrar o meu carácter nestas cartas julgará que todas são minhas (...) do rocio de diversas flores forma a abelha a doçura do seu favo. O fruto da leitura consiste em emular o que mais agrada nos autores, convertendo em próprio uso o que neles mais se admira. Ordena Túlio que sigamos os melhores ditos dos escritores insignes. (...) O grande Lipsío fez admirável este género de escrever nas suas Políticas: falando com o discurso de todos, todos falam por ele. Tem muita graça e gravidade o estilo formado por muitos engenhos."
Ir ao encontro, à busca desse "carácter," desse "fruto da leitura" e aprofundar o conhecimento do autor como ser moral, historiador e filósofo é o desafio deste trabalho. Seguindo o exemplo de Túlio e Lipsío, irei falar "com o discurso de todos". Tentar mostrar que "nenhum outro escritor do seu tempo, ou anterior a ele, o excedeu na leveza espiritual e epigramática de certas epístolas, pequenas obras primas..." (6)
Não esquecendo que foi ele o primeiro a levantar a questão da censura literária e a rebelar-se contra essa atitude, "no prefácio das Mèmoires Historiques Polítiques et Litèraires Concernant de Portugal (1741)" naquilo que se considera "o primeiro manifesto de um escritor português em defesa da liberdade de expressão." (7) E que "O Amusement Periodique é a primeira obra em que um homem de letras português pratica abertamente o princípio do livre-exame; " (8) tornando-se também no "único que se preocupou com a crítica de costumes e a reforma da mentalidade em Portugal." (8)
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Notas:
(4) RODRIGUES, António Gonçalo, O Protestante Lusitano, Estudo Biográfico e crítico sobre Cavaleiro de Oliveira, Coimbra, MCML, pp.94
(5) Idem, pp. 282.
(6) Idem, pp. 93
(7) Idem, pp. 195
(8) Idem, pp. 221/222.
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