sexta-feira, 20 de julho de 2012

Cartas Familiares de Cavaleiro de Oliveira

Foi seu tio, o "Padre Manuel Ribeiro, teólogo da Congregação do Oratório e qualificador do Santo ofício," (3) que veio a ser "pessoa importante como capelão na embaixada de Madrid, e que em 1732, na ausência do Marquês de Abrantes, fez de encarregado de negócios." (3) Por essa altura, iria proporcionar a Cavaleiro de Oliveira a sua primeira saída de Portugal, para uma estadia, de alguns meses na Corte Real Espanhola.
Outro tio, Frei Francisco do menino Jesus, foi prior do Convento dos Carmelitas Descalços. Teve também duas tias que foram religiosas: Soror Josefa Teresa e Soror Filipa das Bernardas. A convivência com estes seus tios, e com a própria mãe, profundamente religiosa, iria reflectir-se na sua educação que se processou num "ambiente quase conventual, tridentino e barroco." (3) Contudo, foram as visitas às freiras, suas tias, que vieram proporcionar a sua correspondência com Soror Catarina Rosa de Figueiredo, e que, segundo parece, lhe ditaram a sua sina - e não a cigana Vitorina - uma vez que ele durante os dois anos em que manteve essa paixão, conta que lhe "caía muitas vezes a mão cansada de lhe escrever, dez, doze, e vinte vezes por dia!" (4)
O facto é que seriam as suas epístulas que o iriam fazer nascer para a posteridade na opinião de António G. Rodrigues que diz: as Cartas Familiares, são (...) a única das suas produções que lhe dá jus a figurar como artista da prosa na história literária nacional. (5)
Essa veia literária também a tinha o seu pai. Era dotado de inteligência e dedicou-se às letras, para além de ser "contador dos Contos do Reino e Casa."(2) Serviu "o marquês de Alegrete e conde de Tarouca em Utrecht e Viena, de 1708 a 1734, na qualidade de escrivão do tesoureiro e secretário da embaixada".(2) Segundo consta, possuía uma "preciosa e abundante Livraria." (6) Como autor de um "poemeto chamado: Epitalamio en los Felicissimos Desposorios,"...(2) "em honra de D. João V e D. Mariana de Austria," (6) virá a figurar na Biblioteca Lusitana.
Aquilino refere uma quadra desse Epitalamio poetado em espanhol, e que segundo este autor mostra "o gosto alambicado da época." Era assim:
"Llegára la espos al tlamo suyo/ En lazos de oro calsado el coturno/ Al ala sucedan la antorcha,y el mudo/ Y cante Hymeneo, pues calla Mercurio."(2)
Mas que influência teve o pai na sua educação? Que princípios e ensinamentos é que lhe legou se esteve quase sempre ausente da sua vida? verificamos pelas datas que se foi embora de Portugal tinha o filho seis anos. Onde estava o ombro, a mão que acarinha e educa, o ouvido que ouve todas as alegrias e tristezas, de um rapaz que se faz homem? Longe. Não soube o que era ter um pai que o aguarda e o afaga à noitinha, que lhe ensina o que sabe, que ri e brinca ou lê para ele um soneto ou redondilha! Talvez tenha sido essa falta que o levou a tanto gostar dos livros e a referir todos os seus mestres.
A primeira educadora que ele assume é a sua mãe. Que o ajudou a crescer e "a ela ficou a dever o melhor da sua formação moral e intelectual." (7) isso iremos ouvi-lo contar nas cartas. Dirá, recordando a idade escolar:
"Aos doze anos de idade sabia melhor do que agora sei, Vergílio, Horácio, Ovídio, Valério Maximo e Quinto Cursio... (...) Comecei a amar os livros com tanto excesso, que nem de dia nem de noite me tirava de cima deles. Esta é a razão porque conservo muitas ideias dos Santos padres, dos Expositores Sagrados, dos Historiadores antigos e modernos, dos Filósofos Peripatéticos e Estóicos, dos Moralistas severos e indulgentes, dos Teólogos tomistas e escotistas, dos Fabulistas idólatras e Cristãos, dos Poetas sacros e profanos e dos Pregadores missionários e apostólicos; sem me esquecer de alguns Juristas, Médicos e Astólogos de quem li os Reportórios, os Récipes e as Ordenações..." (7)
Quando o pai regressa da Holanda era ele adolescente. Devido à dedicação ao estudo e, possivelmente, à vida desregrada que fazia, caíra doente. Os médicos proibiram-lhe os livros. Após um repouso no campo em casa de um dos tios, regressa a Lisboa e vai começar a trabalhar. A família resolve torná-lo Morgado. Acrescentavam-lhe responsabilidades perante os seus e a sociedade.
____________________________________________________
Notas:
(3) RODRIGUES, Goncalves, António, O Protestante Lusitano, Coimbra, MCML, p.3.
(4) Idem, pp.4.
(5) Idem, pp.95
(6) Idem pp.3
(7) Idem, pp. 3,5,6. 
_______________
(Continua)

Sem comentários:

Enviar um comentário