quarta-feira, 18 de julho de 2012

Do Carácter Histórico, Moral e Filosófico das Cartas Familiares de Cavaleiro de Oliveira

Cícero escreveu que Sócrates fez descer a filosofia do céu à terra. Creio que Cavaleiro de Oliveira foi um filósofo espontâneo que se interessou pelo céu e pela terra, na leitura que fazia daquilo que o rodeava, e do Homem em si mesmo. Possuidor de um "saber positivo," revestido "de autoridade histórica," possibilitado pelos estudos e as suas vivências, empírico - no sentido da palavra grega empeiria, que significa experiência - ele foi "alheio à especulação filosófica," (9) mas apelou à razão numa "atitude geral de simpatia pelo racionalismo crítico" (10) Mesmo que mais tarde nas suas Reflexões sobre política venha a contradizer-se dizendo que:
"a razão humana nos engana a cada passo, e que a ley de Deos não pode nunca enganar." (pp.54), (11)
Com sinceridade procurou resposta para todas as questões, que lhe eram colocadas pelos seus amigos, dando-lhes o seu parecer, entendimento e sensibilidade. Nestas Cartas encontrei "o homem honrado, o cidadão obediente, o cristão virtuoso" (12) que, no entanto, "gostava de viver." (13)
Neste convívio epistolar se ia grande parte do tempo que não sacrificava às exigências da sociabilidade, e se por vezes ele é apenas o sorriso artificial do homem do mundo ou do galanteador, outras vezes aproveita-o para discussão de temas eruditos ou morais, verdadeiros ensaios sobre mil e um assuntos de composição e interesse vários.
"Em seis anos, o número de cartas por ele escritas deve ter subido a milhares. De muitas guardava cópias" (14) que vieram a ser publicadas e deram origem às suas Cartas Familiares onde encontramos o seu gosto pela sabedoria, o seu próprio ser.
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Notas:
(9) RODRIGUES, António Gonçalo, O Protestante Lusitano, Estudo Biográfico e crítico sobre o Cavaleiro de Oliveira, Coimbra, MCML, pp.170.
(10), (11), (12)  Idem, pp. 185
(14) Idem, pp.94
(13) PIMENTA, Alberto, musa anti-pombalina, A Regra do Jogo, Edições Lda., 1982, Lisboa.

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