terça-feira, 3 de julho de 2012

Lições de Cultura e Literatura Portuguesas

Todas estas ideias iriam provocar uma imensa polémica. Os peripatéticos insurgem-se contra ele, quer no que se refere ao estudo da história, jurisprudência ou teologia. Quanto ao estudo desta última, Verney formula "a verdadeira doutrina científica: «O Principal ponto da nossa religião é a verdade de ambos os Testamentos; esta não se prova senão com a fundada notícia da história profana»" (pp.137). Isto era quase uma heresia porque "as Escrituras são verdadeiras, são Verbum Dei Scriptum, segundo afirmam a tradição apostólica"... A independência  do seu espírito e da sua inteligência não estava de acordo com o magister dixit dos que o contestavam. Ele defendia que se deviam ler os textos bíblicos na língua original e para isso era preciso que os padres possuíssem um grau elevado de cultura o que não acontecia. O moderado F. de Pina e de Melo observa com a sua lucidez de visão e moderação de linguagem: «Os eclesiásticos das outras nações têm a vantagem de beber as doutrinas nas fontes, nós bebemos nos tanques, onde a qualidade dos aquedutos poderá trazê-la com algum sabor estranho" (pp.141). Poucos eram os moderados. Mas "o Barbadinho afirma que em Roma «onde os Jesuítas não tinham um único lente» florescia com a protecção do Papa, a Filosofia Moderna.» (pp.144)
H. Cidade chama a atenção para o aspecto de se sacrificar o ensino da língua materna ao estudo do latim. Diz-nos: Lembremos que o estudo do latim, de que se obtinham tão poucos resultados ao fim de sete anos, não era, como é hoje, embaraçado pelo da Geografia ou da História; e muito pouco o era pelo das Matemáticas ou das Ciências Físicas e Naturais, cujos programas secundários actuais só são comparáveis aos antigos programas do ensino superior, mesmo da reforma pombalina. Nem sequer eram os alunos distraídos pelo estudo da língua materna - que não se ensinava (...) o sacrifício do ensino da língua vernácula ao da língua latina, prática comum a todos os colégios de Jesuítas, portugueses e estrangeiros, desde o início da sua actividade ensinante, até ao segundo quartel do século XVIII. Foi preciso que institutos seus rivais - os padres de Port-Royal e os Oratianos - abrissem os seus colégios, para que, já no séc. XVII, começasse a fazer-se o ensino da língua materna, e o seu uso, em vez do latim. (pp.146) Verney também defendia que: «...na verdade, o princípio de todos os estudos deve ser a gramática da própria língua.» O que já se fazia há um século em Port-Royal, com o ensino do francês. 
O iluminismo constituía uma "perigosa aventura intelectual" em Portugal, onde segundo o que escreve Macaulay o ensino da Companhia de Jesus "procura atingir o ponto a que se pode levar a cultura, sem chegar à emancipação intelectual." (pp.156)
Apesar de todo o seu labor, só no reinado de D. Maria I, Verney "foi nomeado deputado honorário do Tribunal da Mesa da Consciência e Ordem" (pp.97). Faltavam dois anos para falecer, o que ocorreu em 1792.
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(Continua)   

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