Houve, porém, apóstolos da nova filosofia e para além dos Reis D. João V e D. José I, que sempre apoiaram, ainda no reinado de D. Maria a sua obra era considerada de mérito. A revolução intelectual iria fazer-se com verdadeiras inteligências, como Frei Manuel do Cenáculo, que foi Bispo de Beja e Arcebispo de Évora. O padre F. J. Freire (Candido Lusitano), o padre António P. Figueiredo da Congregação de S. Filipe de Neri, que teve vultos como o padre Manuel Bernardes. Iriam ser, como se calcula, concorrentes da Companhia de Jesus, onde todo o valor era atribuído à obediência. O facto é que os frades do Oratório tinham um estatuto "sobretudo residindo no «self-controle», na ausência de predomínio pessoal, na perfeita igualdade perante a Criação - segundo ainda os termos do fundador, que pensava só os princípios deveriam governar na terra, não a vontade versátil, falível dos homens. (...) A modernidade da cultura dos Néris envolvia a instituição de um prestígio que a Corte não podia deixar de reconhecer." (pp.161)
Houve ainda outros emissários da cultura Moderna como João Jacinto Magalhães, que em "Memória" nos conta "os últimos dias de Rousseau de que foi testemunha, em casa do Marquês de Girardin" (pp.187), Jacob Rodrigues Pereira, que foi o primeiro mestre de surdos-mudos, padre João Chevalier, e padre Teodoro de Almeida entre tantos outros.
Todo este movimento intelectual viria a conduzir à reforma pombalina da Instrução. Ele foi o homem com a coragem necessária pela sua "omnipotência da teimosia inteligente" que conduziu Portugal a uma "mais aberta comunicação espiritual com a Europa." Controlou tudo. Desde escolher as telhas que deviam cobrir os telhados até à colocação de professores e à selecção das matérias a ensinar. Esta reforma da universidade data de 1772, "todavia, já em 1759, quando do encerramento das aulas dos Jesuítas, que de pouco precedeu a expulsão destes padres, tinha o Primeiro Ministro lançado com a lei de 28 de Junho desse ano, as bases da grande reforma, pela organização dos Estudos Menores (secundários), regulamentada e definitivamente executada, com a da Instrução Primária e Superior, em 1772." (pp.196)
As dificuldades foram múltiplas desde monetárias, à falta de professores habilitados para as novas disciplinas como Filosofia Natural e Grego, ou à falta de alunos que não se inscreviam com receio de serem recenseados para a guerra de 1763. A própria expulsão da Companhia de Jesus deixou um vazio no que se refere a mestres para os diversos graus de ensino. "Apesar de tudo, em 1762 são 379 os mestres de letras, (...) são 236 os professores de Latim, 38 de Grego, 49 de Retórica, 35 os de Filosofia. (...) A língua pátria entra pela primeira vez nas escolas oficiais, sendo exigidos seis meses de preparação em Português a quem quisesse frequentar o Latim."
A organização do ensino secundário caracterizou-se pelo predomínio das Humanidades Clássicas, uma vez que não se ensinavam as línguas modernas, e a Filosofia tinha muito menos carga horária que o Latim e o Grego.
A Reforma da Universidade foi elaborada por uma Junta de Providência Literária, que se preocupou de imediato em fazer um libelo acusatório contra o ensino ministrado pelos Jesuítas. Destruía-se para construir. O que prenunciava já os tempos difíceis que se iriam seguir.
Duas criações pombalinas foram as Faculdades de Filosofia e de Matemática. Os professores vinham de Itália, e estavam abertas as portas a todos os autores, filósofos, e cientistas que até aí não tinham sido ensinados. Os projectos de Verney e de Ribeiro Sanches, e de outros Iluministas, eram colocados, em grande parte, em execução.
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(Continuação)
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