quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

«Manual de Epitecto» (3)

                                                                            XXXIX

As necessidades do corpo são a justa medida do que cada um de nós deve possuir. Exemplo: o pé só exige um sapato à sua medida. Se assim considerares as coisas, respeitarás em tudo quanto faças as devidas proporções. Se ultrapassares estas proporções, serás, por tal maneira de agir, necessariamente desregrado como se um precipício te seduzisse. O sapato é exemplo ainda deste estado de coisas: se fores para além do que o teu pé necessita, não tardará muito que anseies por um sapato dourado, por um sapato púrpura depois, finalmente por um sapato bordado. Uma vez que se menospreze a justa medida, deixa de haver qualquer limite que justos torne os nossos propósitos.

                                                                          XXXVIII

Assim como evitas pisar um prego, e tens todo o cuidado em não torcer o pé, assim também evita pôr em causa os teus princípios. Se, nesta ou naquela tarefa, tivermos este cuidado, mais seguros nos sentiremos na execução da mesma.

                                                                           XXXV

Quando reconheceres que deves proceder desta ou daquela maneira, não te envergonhes da tua acção mesmo que façam má opinião de ti. Se a acção do teu procedimento se revestir de mal, coíbe-te, na verdade, de a praticar. Mas se o bem  presidir à tua acção, porque deverás temer os que te censuram de maneira vã?

                                                                            XXVIII

Se alguém entregasse o teu corpo ao primeiro desconhecido, indignado ficarias certamente. E tu, quando a tua alma entregas ao primeiro que encontras para que a perturbe e arruíne, e ele a tua alma injurie deveras, não sentes vergonha por tal acção tua?

                                                                             XXVII 

Assim como o alvo não é colocado para ser atingido, também o mal, do mesmo jeito, não existe no mundo.

                                                                              XXIII

Caso concedas, por acaso, a tua atenção ao exterior, num acto de pura condescendência por alguém ou por alguma coisa, que saibas perdeste a autoridade que até esse momento de todos merecias. Contenta-te, por conseguinte, em ser filósofo em todos os teus actos. Mas se verdadeiramente o desejas ser, sê-o primeiro face a ti mesmo - e que isso te baste!


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