sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Nossa Senhora da Alegria

Neste Outono ora alegre ora triste, viajava ao passado buscando os dias assombrados de alegria, que sempre lhe quiseram roubar. Alegria tão pura, tão risonha, que enchia os dias de espanto e espantava em redor. Sorria às árvores, às flores e aos frutos, aos passarinhos que arrulhavam nos ninhos, às águas revoltas do mar, às crianças e aos jovens, a todos sem distinção.
Tola! Diziam às escondidas. Não sabe que não se pode rir para tudo e para toda a gente? Que falta de siso! Nem Nossa Senhora da Alegria a protegeu! Rir, ser ingénua, sem malícia, era pecado. O caminho da vida foi tão recto, tão sem história, sorrindo sempre a espalhar alegria! Até que um dia, já não chegava dizerem que lhe faltava o siso. Irmanavam-na, caluniosos insanos, com as "jovens" que se compram pelas esquinas. Pobres desgraçados que não reconheciam numa Mulher a serena alegria da vida. Era irmã de todos os que sofriam e oferecia-lhes a sua franca alegria.
Hoje, o seu coração tão doente, tão cansado, já lhes perdoou e ora alegre ora triste, como este Outono, continua a sorrir à vida.