segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Boas Festas

Mais um ano está a chegar ao fim. O Solstício anunciou o Inverno e a nova estação trouxe muito frio, mas com lindos dias de sol. Parece que a chuva surgirá com o dealbar do ano novo, contudo é, quase sempre, por poucos dias. Em Lisboa temos tido temperaturas entre os 16 e 14 graus para as mais elevadas e entre os 6 e os 10 graus para as mínimas. Claro está que, para o Norte e para as serras, há neve e algumas temperaturas mínimas negativas. É com este esplêndido tempo que vamos festejar o Natal e reunir a família. Por isso estou a escrever aos meus estimados leitores a desejar um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo. Nestes dias, rodeada de crianças e de adultos, à volta da mesa da consoada, do Presépio e do pinheiro natalício, lembro-me dos meus amigos que me lêem  na Rússia, nos Estados Unidos da América, na Ucrânia, na França, na Alemanha, em Portugal, no Brasil e em tantos outros países, e peço a Deus que sejam abençoados nestes dias e que vivam as festas com a alegria que todos nós as vivemos. Termino desejando que o novo ano traga a Paz para todo o mundo, que acabe a fome e a miséria, o desemprego e a crise, para que possamos viver num mundo melhor com amor e fraternidade. Boas Festas.     

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Doutrinas da Filosofia

"A morte de Alexandre da Macedónia, em 323 a. C., marca o encerramento do período propriamente helénico, que fez nascer a filosofia nas cidades livres da Grécia. O período seguinte, chamado helenístico, corresponde à expansão do espírito grego em todos os países mediterrânicos; mas a conquista macedónica, a hegemonia  de Roma e, por fim, a expansão do cristianismo atestam a decadência progressiva do ideal cívico e das tradições intelectuais da Grécia sob o influxo da imaginação oriental e da devoção semítica.
A dissolução das cidades, o advento de grandes impérios, privam o indivíduo dos seus quadros tradicionais e da sua actividade política, deixando-o espiritualmente desamparado. O que o homem então exige da filosofia é uma ordem de princípios de conduta e um ideal de felicidade, isto é, um «bem» supremo cuja conquista represente um nobre emprego para a energia moral abandonada a si mesma. A esta aspiração correspondem  as doutrinas opostas  de Epicuro e dos estóicos.
Desprendido da política da Cidade, mas de raça e espírito gregos, o epicurista transfigura a sua própria indiferença pela delicadeza e a perfeição moral que lhes confere. O estóico, pelo contrário, é inicialmente um meteco influenciado por semitas. Tais foram Zenão de Cítia, «o Fenício», Cleanto, o moço de fretes, e Crísipo, o segundo fundador do estoicismo. Homens novos, mostram-se abertos às novidades políticas da sua época: as suas simpatias voltam-se para os reis, para os grandes conquistadores de povos, para os construtores de impérios. Os príncipes sentem por eles e pelas suas escolas, de resto, um respeito em que se traduz o reconhecimento do seu poder moral. Se os estóicos não fazem política, as suas lições, pelo menos, preparam homens a quem a política não assustará; sabem ensinar ao mesmo tempo o amor pelo esforço e o desprezo pela fortuna material. Por isso a sua doutrina filosófica tem por símbolo uma espécie de tensão íntima que, segundo eles, existe em todos os corpos que vivem no seu seio sustentados por uma espécie de «alento» (pneuma), cuja tensão retém as suas partes componentes. O mundo é um «todo», semelhante aos grandes corpos políticos, que contém nele mesmo o seu fim. Todas as partes que o compõem são solidárias e hierarquizam-se segundo graus de tensão, desde a consistência do corpo vulgar até Deus, alento incendiado, chama impregnada de arte, agente e tensão supremos. O Deus estóico não é um Deus grego, como os que habitavam no Olimpo, ou como Dioniso, que suscitava o delírio sagrado: é um Deus semita, cuja acção providencial envolve toda a existência dos homens, nos mínimos pormenores. O filósofo compreende essa harmonia divina e aceita a obra do Destino, a lei que esse novo Zeus impõe ao mundo como sua razão e providência - e colabora nesta obra porque a compreende. Por isso o Destino não contradiz a liberdade do filósofo.
A razão absorve e domina todas as coisas, divinas e humanas. O mundo é uma simpatia ; uma conspiração universal de que o filósofo possui a chave : a virtude - e esta basta, só por si, para dar a felicidade. Esta visão estóica das coisas e da vida vai impregnar todas as doutrinas filosóficas e todas as ideias religiosas até ao fim da Antiguidade e ainda uma parte dos tempos modernos; mas, nesta longa história, a doutrina despoja-se pouco a pouco das suas ideias cósmicas e das subtilezas lógicas, conduzindo progressivamente à simplicidade incomparável de Epicteto, o escravo liberto, que pretende arrancar o homem a tudo o que não depende de si mesmo: «Suporta e abstém-te».» A razão estóica conclui pela afirmação descarnada dessa tensão inicial, do culto da vontade moral que era a alma da doutrina."

In: Ducassé, Pierre, As Grandes Correntes da Filosofia, Publicações Europa-América, Lisboa, 5ª Ed. s/d, pp.37 a 39.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Estoicismo (3)

Se recorrermos a outra enciclopédia já encontramos, um pouco mais explanado, este termo da filosofia. Vejamos então: estoicismo, nm Filosofia. Escola filosófica greco-romana, de influência decisiva na patrística, na escolástica árabe e latina e no Renascimento. De modo geral, podem distinguir-se nela três períodos: estoicismo antigo, fundado por Zenão de Cítio (cerca de 300 a. C.) e dominado por problemas de natureza física, lógica e ética; estoicismo médio, de que foram figuras máximas Panécio de Rodes e Possidónio de Apamea, com afinidades platónico-cépticas, orientado especialmente para a problemática humana, e cuja influência se fará sentir no mundo romano; estoicismo novo, de feição ético-religiosa e que se estende ao longo da época imperial, tendo como principais representantes Séneca, Epicteto e Marco Aurélio. Abstraindo das diferenças consideráveis existentes nos diversos períodos e nas principais figuras, é possível encontrar traços comuns que caracterizam a escola. (...) O estoicismo parte de um monismo tendencialmente materialista e panteísta. O ideal do estoicismo não consiste no prazer mas no exercício da virtude, consistindo esta em viver de acordo com a razão cósmica que tudo governa. A felicidade estóica reside na aceitação do destino e no combate às paixões.

In: A Enciclopédia, PÚBLICO, Editorial Verbo, Lisboa, 2004, Vol. nº 8, pp. 3405.

Temos então que Epicteto pertenceu ao estoicismo novo, de feição ético-religiosa. Ao consultarmos  a história da filosofia (1) (que nos serviu de guia nos três anos de estudo desta disciplina), verificamos que Epicteto viveu no século I e II d. C.( 50-125). Das leituras que fiz, encontrei várias datas para o nascimento e morte deste filósofo, por isso, não pude verificar com inteira precisão. Sendo esta a data escolhida como mais fidedigna, verificamos que o estoicismo romano tem como filósofos, neste período, Séneca que viveu  de 4-65 d. C. (foi professor de Nero) e Epicteto. No que se refere a acontecimentos políticos viveu-se a dinastia  dos Flávios. Tito (79-81), Domiciano (81-96). Segue-se a dinastia dos Antoninos: Nerva (96-98) Trajano (98-117). Os acontecimentos culturais mais relevantes são: Morte de Cristo (28) Conversão de S. Paulo (30), a erupção do Vesúvio e a destruição de Pompeia (79) e a conclusão do Coliseu (82).  
No século II d. C. temos como filósofo mais relevante Marco Aurélio, que viveu de 121-180. Os acontecimentos políticos  dão-se com a vigência do poder de Adriano (117-138) Antonino (138-161) e de Marco Aurélio (161-180), aquele que deixou os seus Pensamentos  estóicos para todos nós e, por isso, vive sempre no nosso coração. Outros acontecimentos culturais deram-se com Ptolomeu; Galeno; Apuleio; Suetónio e Luciano. Podemos, por estas figuras extraordinárias que viveram nesta época, constatar como foi rico de cultura este período do estoicismo romano.

(1) Cordon, Juan Manuel Navarro,Tomás Calvo Martinez, História da Filosofia, os filósofos e os textos, 1º volume, Dos pré-socráticos à Idade Média, Edições 70, 1985, pp.14.  

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Estoicismo (2)

Se consultarmos uma ou outra enciclopédia encontramos, de uma maneira geral, o «estoicismo» definido como uma "corrente filosófica  greco-romana predominante de c. 300a.C a 200d.C e uma das mais marcantes na cultura ocidental (depois de platonismo e aristotelismo). Mais do que em construir vastas sínteses científicas, o estoicismo preocupa-se em fixar o «como viver» e o «para que viver». (...) O ideal do estoicismo não consiste no prazer mas no exercício da virtude, consistindo esta em viver de acordo com a Razão. A felicidade estóica reside na aceitação do destino e no combate às paixões. Defende o estoicismo que o homem nasce bom, sendo a sociedade que o torna mau."

In: Enciclopédia Fundamental Verbo, Lisboa/S. Paulo, Editorial Verbo  1982 pp. 559.    

Estoicismo (1)

Se formos a um dicionário encontramos estoic- el. comp. antepositivo, do gr. stoikós, é, ón ' dos estoicos, da escola do Pórtico', der. de stoá, âs ' pórtico ou galeria com colunata', ou, mais propriamente de stoá poikile' Pécilo  (o pórtico ornado de pinturas onde ensinava o filósofo Zenão)', pelo lat. stoicus, a, um.' id.'; ocorre em voc. atestados desde o sXV: estóica, estoicidade, estoicismo, estoicista, estoicístico estóico.

Mais abaixo encontramos  o substantivo masculino estoicismo que nos diz em 1 Fil. doutrina fundada por Zenão de Cício (335-264a.C.) e desenvolvida por várias gerações de filósofos, que se caracteriza por uma ética em que a imperturbalidade, a estirpação das paixões e a aceitação resignada do destino, são as marcas fundamentais do homem sábio, o único apto a experimentar a verdadeira felicidade [o estoicismo exerceu profunda influência na ética cristã.] 2 p.ext. rigidez de princípios morais 3 p. ext., resignação diante do sofrimento, da adversidade, do infortúnio. ... 
In: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Ed. Temas e Debates, Lisboa, 2005, Tomo VIII pp.3611.

(continua)

domingo, 14 de dezembro de 2014

Epicteto

Quando andava às compras de livros para oferecer no Natal, aos amigos e a mim própria, aproximei-me das estantes da livraria onde se podem escolher livros de filosofia e encontrei, com grande alegria, um livro de Epicteto. 
Primeiro: foi com admiração que vi o nome do filósofo escrito como soa melhor em Português, e como aparece nas Enciclopédias ou nas Histórias de Filosofia. Epitecto, como aparece na minha edição mais antiga, o c encaixando o e entre duas consoantes abre a (terceira) vogal, e a palavra, tal como no francês, surge acentuada na primeira e na terceira vogal: Épictète. Creio que estará bem das duas maneiras e que não será erro nenhum. 
Segundo: o livro contendo em si o "Manual de Epitecto", tem por nome «a arte de viver». 
Terceiro: a tradução é a partir do grego. Assim temos que "A Arte de Viver" de Epicteto, é uma 2ª Edição da Colecção Sophia (4) das Edições SÍLABO, Lisboa 2010. A autoria da tradução do grego e notas é de Carlos A. Martins de Jesus e a Revisão é de Maria do Céu G. Z.Fialho.
Quarto: ao contrário da minha primeira edição, este livro dá títulos a todos as diatribes, máximas e aforismos de Epicteto. Por fim, aqui fica a máxima nº 53 do "Manual de Epitecto", trabalho de Pedro Alvim e edição da vega, Passagens, 1992. Um muito obrigado.

LIII

                                         1- Que de imediato digamos em qualquer ocorrência:

"Conduz-me, ó Zeus, e tu , Destino,
ao lugar por vós fixado em que me devo 
   encontrar.
Seguir -vos-ei sem hesitar; se o não fizesse,
possesso do mal, na mesma vos seguiria (11)!"

2 - "Aquele que cede à Necessidade
é um sábio para nós e conhece o
divino (12) ."

3- "Mas, Críton, se as coisas assim são
agradáveis aos Deuses, que as coisas sejam 
assim (13)!"

4 - "Anitos e Mélitos podem matar-me,
 mas nunca prejudicar-me (14)."

Notas:
 (11) Versos de Cleanto, filósofo estoico, que, nascido em Assos, na Sicília, se tornou notado pelos anos 
260 a. C.
(12) Versos de uma tragédia ignorada de Eurípedes.
(13) Resposta de Sócrates a Críton, de Platão, 42 D.
(14) Resumo do que Platão faz dizer a Sócrates, na Apologia de Sócrates, 30 C.
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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

«Manual de Epitecto» (5)

XI

Não digas nunca do que quer que seja: "Perdi-o". Antes diz: "Devolvi-o". O teu filho morreu - pois tão só o devolveste. A tua mulher morreu - pois também a devolveste. A felicidade foi-me arrebatada. Ora bem: a tua felicidade foi igualmente devolvida. "Que celerado não é esse raptor!" Mas que importa que, caro, quem algo te deu, caríssimo, tenha exigido o que te dera? Até seja permitido, desfruta o que te foi dado como um bem estranho, à semelhança de quem passa, e por uns dias se demora, numa hospedaria...

X

Por cada acidente que te sobrevenha, recorda-te, dobrando-te sobre ti em profunda concentração, de apelar à força que porventura possuas e cujo efeito te possa de momento ser útil. Se encaras com um homem formoso ou com uma bela mulher, encontrarás em ti uma faculdade que se oporá à sedução de ambos: a temperança. Se a fadiga se apossa de ti, recorre à resistência - e tudo faz ante uma injúria para que a paciência te assista. E se a tais hábitos te deres, nunca as tuas más ideias te levarão a melhor.

IX

A doença é um estorvo para o corpo, mas não para a vontade se ela o não desejar. O ser-se coxo  é um estorvo para as pernas, mas não o é para a vontade. Assim pondera todo e qualquer acidente, e chegarás à conclusão de que o acidente estorva sempre uma ou outra coisa - e que só para ti, movido de vontade, não é estorvo de espécie alguma.

VIII

Não exijas aconteça como tu desejas aconteça. Antes queiras aconteçam as coisas como acontecem - e quão feliz, então, não serás tu!

VI

Não te ufanes de qualquer qualidade que, por estranha, não seja tua. Se um cavalo se gabar dizendo: " Eu sou belo" - eis uma afirmação tolerável. Mas se tu te ufanares através das tuas próprias palavras simplesmente dizendo: "Eu tenho um belo cavalo" - bom é que saibas que tão só te orgulhas de uma virtude que é pertença do teu cavalo. Verdadeiramente, o que é teu? Somente o recurso às tuas ideias, o hábito de as saberes utilizar. Quando te serves das ideias em conformidade com a natureza das coisas, ah! sim, então é legítimo o orgulho em ti, pois te ufanas de uma virtude que unicamente é tua.