Vejamos, diz o autor, que "bastaria reparar na esdrúxula da título (da qual, aliás, a estudiosa não é responsável) e continuar a ler a presente nota e os trechos citados ao longo do ensaio para se perceber, com certeza, que Esther de Lemos se referia à edição de 1945." (pp.140)
A diferença, para Barahona, reside entre uma antologia que constitui um todo, e uma colectânea, entre a 1ª edição de 1920 e as posteriores, "falseadas." Aponta a conclusão de António Falcão Rodrigues de Oliveira como não menos pertinente, apesar de contrária à de P.F., e refere que este autor, ao escrever o ensaio O simbolismo de Camilo Pessanha, tendo por base "a edição de 1969, muito pior do que a de 1945," afirma que a obra de Pessanha constitui um todo, "uma profunda unidade, embora esteja arrumada em duas partes: Sonetos e Poesias". O elemento principal do livro: a água, donde se extrai o título, segundo o mesmo autor, daria ao texto uma "unidade fluida e fluente."
Barahona interroga-se como podem duas opiniões opostas gozar de pertinência. Quanto a Esther de Lemos, diz-nos que foi influenciada por João de Castro Osório de viva voz e por escrito. O seu trabalho de pesquisa não se teria encaminhado no sentido de encontrar a unidade do texto, uma vez que trabalhou e conviveu com a "primeira edição adulterada." E conclui que o próprio João de Castro Osório na edição de 1969 (pp.119), defende a Clepsydra como «Poema uno, com início e final de intensa e profunda explicação psicológica.»
O posfácio avança com a defesa de que a Clepsydra autêntica é a de 1920 e que o seu estudo exige a leitura e a retenção dos 30 poemas que a compõem. Só depois de decorados e muito repetidos é que se começa a vislumbrar a "sua extrema e rigorosa unidade, obtida por despojamento, sem uma falha: afinal um uno e único Poema em quadra (Inscrição), 15 sonetos e 14 Poesias. Neste Poema, os quatro primeiros versos introduzem todos os restantes e o título é retomado nos últimos versos para fecho e epílogo." Este poema uno, para Barahona, estabelece estreitas relações entre a poesia, a música e a arquitectura.
Segue-se a condenação da recolha de "manuscritos flutuantes ou outros achados precários, fragmentários e extrapolados do contexto" que só demonstram "a falta de sensibilidade auditiva, aliada a total ignorância da génese poética, sua elaboração e percurso até à versão definitiva, à qual não se pode mudar uma vírgula sem que a harmonia se altere e se desmorone com fragor." (pp.141)
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(continua) p.5
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(continua) p.5