quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Boas Festas!

Quando se aproxima o fim deste terno Outono, em que os dias de Sol foram aprazíveis e o frio só se instalou, mais severo, durante cerca de quinze dias, quando estamos no dealbar do Solstício de Inverno, em que a chuva faz a sua aparição de mansinho, estamos a chegar ao Natal de 2013.
Mais um ano está a chegar ao fim. De Janeiro a Dezembro, muitos foram os acontecimentos que, possivelmente, modificaram as nossas vidas. No entanto, nem por isso deixamos de estar unidos num universal e fraterno coração que nos enlaça a todos os povos, a quem desejamos umas Boas Festas  e um Feliz Ano Novo.
Daqui de Lisboa vão as minhas saudações a todos os leitores que continuam a pesquisar nos meus trabalhos alguma ajuda para as suas dúvidas, ou um modesto apoio para os seus trabalhos. Desejo que as buscas sejam frutíferas e que acrescentem sempre um pouco mais aos vossos conhecimentos, mesmo que seja por simples curiosidade. Receber ecos de todos os Continentes de milhares de leitores tem sido para mim muito gratificante. Fez-me compreender, com grande surpresa, que fiz um percurso universitário algo invulgar com muita inocência e uma modéstia desconhecedora do mérito da minha escrita e do meu labor. Tenho, hoje, graças a todos os meus leitores, a consciência de que devo continuar a investigar e a dar-vos conhecimento das tarefas que tenho entre mãos.
Estou numa nova etapa da minha vida que será preenchida, totalmente, pelo meu contínuo gosto pelo conhecimento que prometo não deixar esmorecer. 
Até depois das festas, que desejo sejam para todos com muita alegria, saúde e confiança num futuro melhor, num Mundo em Paz e prosperidade.  
    

sábado, 9 de novembro de 2013

Leituras ...(3ª)

O prazer da leitura ocupa-nos todos os momentos livres e não nos deixa tempo para a escrita. Regressar ao meu blogue é mais difícil quando me embrenho num ou noutro romance ou nos livros de contos que tenho andado a ler. É destes últimos que vos vou falar, a propósito do Prémio Nobel atribuído a Alice Munro. Ainda só li dois: Amada Vida e Progresso do Amor, editados pela RELÓGIO D'ÁGUA. O primeiro tem catorze contos e são todos com uma prosa cantante, melodiosos e repletos de ritmo. É, por isso, uma prosa repleta de alegria, mesmo quando os contos encerram alguma história mais triste. Ali há vida. Respira-se uma "amada vida" que deverá ser, ela mesma, a vida amada pela escritora. A sua maneira de escrever é leve, com um estilo muito próprio, que não se cansa de nos surpreender. Considero que foi uma revelação para mim, visto que não costumo comprar muitos livros de contos.
O Progresso do Amor é composto por onze contos. O primeiro conto dá o título ao livro, enquanto que,  curiosamente, Amada Vida é o último conto que lhe dá o título. Os temas são tão comuns à vida do dia a dia das comunidades ou das pessoas, individualmente, que mostra como o Homem é profundamente parecido qualquer que seja o país, cidade ou campo em que viva. Mesmo sendo comuns, o que me surpreendeu, por exemplo, foi o conto Monsieur les Deux Chapeaux, pois não me parecia plausível que um enredo tão simples pudesse dar um conto tão interessante e fora do comum. A vida inteira dedicada à escrita, não admira que tenha conseguido uma maestria na arte do conto. Nascida em Ontário, no Canadá, a 10 de Julho de 1931, publicou a sua primeira história em 1950, quando ainda andava na faculdade. Recebeu imensos prémios literários, o que prova que foi reconhecida dentro e fora do Canadá.
A propósito destes contos gostava de vos falar de "Teresa Veiga" (é um pseudónimo) uma nossa escritora, que nasceu em Lisboa em 1945, e, apesar de ter publicado um romance em 1999, é através dos contos que eu a conheço. São cinco volumes de contos e novelas, sendo o mais antigo de 1988, e o mais recente de 2008. É uma contista de primeira água que sempre nos encanta e nos prende. Porque será que é tão pouco reconhecida? Não sei. É o país que temos. Voltei a ler o livro História da Bela Fria, que é uma antologia de nove contos encantadores, pela prosa tão perfeita e pelos temas tão variados. Lia para poder comparar com Alice Munro. As histórias são passadas no nosso Alentejo e em Lisboa e são contos que também podem ser universais. Era tempo de se tornar mais conhecida, pois é uma escritora de muito mérito.
Para terminar tenho que corrigir um erro que dei, pela precipitação, acerca da Colecção Prémio Nobel do Diário de Notícias. Não é em 2001 que acaba a mesma, mas em 2003, com o livro: A Vida e o Tempo de Michael K  de J.M. Coetzee. Outro exemplo de como a vida de um rapaz e de sua mãe (uma pequena parte) pode resultar num romance tão belo, que nos leva a lê-lo de um fôlego e a ficar com pena de não conhecer-mos o que de facto aconteceu a Michael K na sua luta por ser um homem livre, num período de guerra. J.M. Coetzee foi Prémio Nobal em 2003. A colecção P. Nobel do D.N.  não é contínua e tem alguns dos muitos Prémios que foram atribuídos até hoje. Fica o erro ressalvado.   
    

domingo, 13 de outubro de 2013

Leituras... (2ª parte)

Hoje começo por vos falar de Pearl S. Buck que foi prémio Pulitzer de ficção em 1932, e Nobel da Literatura em 1938. É uma das autoras que vem representada nesta colecção do DN, com o livro Histórias Maravilhosas do Oriente. Esta romancista norte-americana nasceu em 1892 e faleceu em 1973. Os cenários e temáticas habituais da sua narrativa desenrolam-se na China, pois aí foi educada e viveu a maior parte da sua vida; mas, nesta leitura, também encontrei contos de encantar da Turquia, do Japão, uma graciosa história da Arábia, da Índia, e da Rússia. O conto que mais me encantou foi: A história de Ming-Y. E, por fim, foi-me dado ler a escritora Nadine Gordimer, que foi prémio Nobel da Literatura em 1991 e está representada nesta colecção do DN com o romance Um Mundo de Estranhos. Trata a problemática do apartheid na África do Sul, com muito conhecimento de causa, pois é sul-africana. Posso dizer que foi uma descoberta para mim, não só no plano da tecitura do seu romance, com histórias de amor e vivências quotidianas das personagens, mas também na sua escrita bela e perfeita, a lembrar o romance inglês do século XIX. Seguidamente dediquei-me a ler, da mesma autora, o romance A História de Meu Filho que trata a a mesma problemática com uma estrutura semelhante. Este segundo livro é da Colecção Mil Folhas, vendida pelo jornal Público (que são cem livros da melhor qualidade).
Tenho que reconhecer que são só estas quatro escritoras que estão representadas na colecção Prémio Nobel, que comporta cinquenta livros que abrangem o Nobel desde 1907 a 2001, tirando aquele período em que o Nobel não foi atribuído. Digamos que as mulheres escritoras têm sido um pouco "relegadas" neste prémio, uma vez que só foram contempladas treze vezes.
A escritora que está mais representada nas minhas estantes, em obras lidas por mim, sendo prémio Nobel da Literatura, é a Doris Lessing, talvez porque havia várias traduções das suas obras aquando lhe foi atribuído o prémio e depois porque a temática sobre a África me interessa sobre maneira.
Em 1949 foi prémio Nobel da Literatura William Faulkner. Reli com a mesma paixão a Luz em Agosto e O Som  e a Fúria . Devo dizer-vos que Faulkner é único e magistral na sua escrita. Apaixona quem gosta de apreciar a técnica de narrar e ao mesmo tempo a beleza poética das palavras, mesmo quando duras como pedras, como setas que magoam e fazem doer ao leitor.Vou continuar sempre a lê-lo. 
Cada vez estou mais entregue aos autores americanos, ingleses e também aos alemães. Penso para mim: fosse eu jovem com um percurso de estudos normal e teria seguido os Estudos Ingleses e Alemães! Sonhava com o conhecimento do meu País e nossa cultura, a nossa literatura, uma vez que passei quase metade da minha vida em África, afinal que desilusão! Que ensino, que paupérrimo é o nosso meio literário que damos quase sempre o dinheiro por mal gasto quando compramos novos autores. Valham-nos os clássicos que são o nosso refrigério, o nosso calor de alma.
Mas adiante que estou a fugir ao tema! Li Hermann Hesse. Curiosamente comecei a lê-lo através do seu livro O Elogio da Velhice (da Difel) Os seus poemas, a sua escrita sempre recorrendo à natureza, à beleza do quotidiano, ao observar os mais pequenos pormenores...prendeu-me para sempre. Vou transcrever um poema que vem mesmo ao terminar este livro:

OUTRORA, MIL ANOS ATRÁS

Acordado de um sonho incoerente
Inquieto, sempre ávido de viagens, 
Escuto noite fora a sua canção, 
O sussurro dos meus bambus selvagens

Não consigo descansar ou ficar deitado, 
Os velhos hábitos tenho de largar,
Faz-me voar, projecta-me para longe,
Viajo para onde o infinito me levar.

Houve uma pátria, um jardim,
Outrora, mil anos atrás.
Por entre a neve espreitava o açafrão
No canteiro onde o pássaro jaz.

Gostaria de poder estender asas
Escapar-me aos feitiços que me assombram
Voltar a viver os bons tempos,
Cujas riquezas ainda hoje me deslumbram.

E depois li o Peter Camenzind que está na colecção Prémio Nobel do DN, porque Hermann Hesse foi Nobel da Literatura em 1946. Bebi todas as palavras sem me cansar, apaixonei-me pelo autor, pela personagem, pelos amigos de Peter, pela sua solidão senti tristeza, e rejubilei quando ele voltou a casa depois de tantos anos a errar por Zurique, por Paris, pela Itália, onde em Assis tinha o seu adorado S. Francisco, por Basileia, enfim, eis que regressa às suas amadas montanhas. É indescritível a beleza desta prosa. Foi uma descoberta. Em seguida dediquei-me à leitura de Siddhartha (colecção Mil Folhas). Um "poema indiano" como o definiu H. Hesse. A procura da explicação do Eu, de um "todo" que vai desde a ascese até à experiência das paixões e vícios mundanos e, por fim, o despojamento de toda a riqueza e a realização  total encontrada numa vida simples, simples, simples. 

    

sábado, 12 de outubro de 2013

Leituras...

Como é que cheguei ao interesse pela leitura da colecção Prémio Nobel editada para o Diário de Notícias  e vendida, aqui há uns anos, com o mesmo jornal? Afinal tinha-a comprado fielmente; encheu uma prateleira da estante e, por falta de tempo, nunca a tinha lido.Tudo começou com a leitura de América, América do Jorge de Sena, editado pela Guimarães, nas suas Obras Completas. Queria conhecer o seu "testemunho pessoal sobre viver nos Estados Unidos da América", "sobre a cultura norte-americana", a sua História,  os estudos de Português na América e tudo o mais de que é composto este livro.
 A leitura deste levou-me a interessar-me por outro livro: a américa e os americanos e outros textos de John Steinbeck, da editora Livros do Brasil, publicado para comemorar o centésimo aniversário do nascimento do autor. Gostei muito do livro, mas não era já a escrita dos romances de Steinbeck! Claro está que os textos são uns ao estilo da crónica, outros autobiográficos, com muito interesse, com uma escrita escorreita, mas que não lembravam a paixão com que eu tinha lido as obras fundamentais do autor: As Vinhas da Ira e A Leste do Paraíso. Ao arrumar o livro encontrei o título: A Um Deus Desconhecido do Steinbeck, na colecção Prémio Nobel do DN, porque o autor recebeu o prémio em 1962. Continuei com a leitura deste livro, até porque não o conhecia, que me encantou logo pelo poema que abre o romance e que dá o título ao livro. Assim despertei para esta colecção.
Voltei depois à Maria Ondina Braga e ao seu livro: Mulheres Escritoras, porque vi que no meio de tantos escritores Prémio Nobel quase não se viam mulheres! Li com curiosidade como leio sempre as biografias das autoras já de mim conhecidas. 
Procurei e encontrei a Selma Lagerlof na dita colecção com O Livro das Lendas. Esta romancista sueca  foi prémio Nobel em 1909, nasceu em 1858 e faleceu em 1940. 
Curiosamente, tal como Alice Munro, escritora canadiana, que esta semana ganhou o prémio Nobel da Literatura, também Selma escreveu contos. Fui procurar mais livros de Selma na FNAC e só encontrei O Imperador de Portugal, na colecção: Clássicos da Literatura Contemporânea, da Ulisseia. Lindo e trágico mas que nos faz recuperar o encantamento da leitura.
Outra escritora, mas norueguesa, que foi Prémio Nobel da Literatura em 1928 e está presente na colecção do DN,  é Sigrid Undset. Li com espanto esta escrita tão desassombrada e tão bela, que nos mostra a força de uma mulher que dá o seu nome ao título: Vigdis, a Indomável. A sua "obra reflecte experiências autobiográficas centradas na problemática feminina contemporânea," assim como romances históricos onde ressalta a contradição entre o amor divino e o amor humano. Escreve também sobre as suas convicções religiosas. Confesso que gostava de possuir a sua obra completa.
Como já se faz tarde continuo amanhã a dar-vos conta de como tem sido uma surpresa para mim esta colecção de livros do DN. Agora que a crise está instalada, volto às minhas estantes para ler com prazer estas autoras e autores magníficos.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Estamos no Outono!

Nuvens pontuam o céu azul como flocos de algodão. Vemo-las caminhar ligeiras indo de encontro a outras para formarem um leve sombrear do céu em tons de cinzento prateado. Outras, mais pesadas, aqui e além, anunciam a chuva que em breve nos brindará. Estamos no Outono!
Os ventos deixam Zéfiro para trás e dão a primazia a Éolo para os conduzirem. As noites estão mais frescas e os dias nascem com Auroras rosadas, mas sem o pulcro reluzente do quente Verão.Estamos no Outono!
Deixa saudades o Verão? Não.
As chamas irromperam pelas serras, pelas terras, e deixaram o negrume da dor. A alma das Terras, das Serras, das Gentes, chora as árvores destruídas pelo fogo que num sussurro se deixaram morrer. Nelas já não voltam a cantar os passarinhos, já não brotam as pinhas, já não contam os seus segredos, nem com a sua aragem adormecem os pastores ou os lavradores. Terra negra de dor e o céu em rolos de fumo fica rubro de espanto e quase do dia se faz noite e da noite se faz o inferno de Dante. A terra, a perder de vista, fica negra no delírio do declínio e da impotência para salvar a natureza verde que enfeitava as suas arribas, os seus vales as suas serras. 
As serras não se reconhecem sem a sua verdura, os seus esquilos , os seus coelhos, os seus passarinhos que nas suas árvores faziam o ninho. 
As gentes ficam mudas de espanto e de tanto gritarem de dor. Foram os bombeiros que se finaram como se fossem parte dessa mesma terra dessa mesma silvicultura. Jovens, meu Deus, tão jovens! Deram a vida para salvar as florestas inocentes, inocentes eram eles também. Tombaram pela força do fogo que não poupa ninguém. Troncos e ramos e humanos que em tão recentes minutos balouçavam ao vento e entoavam as suas canções. Diziam adeus aos seus filhos, aos seus amigos, aos seus pais, sem sonharem que não os tornariam a ver.
Isto foi o Verão deste ano da Graça de 2013, em que morremos um pouco mais na dor dos que tudo perderam.
Noutras terras viveram-se outros fogos outros inocentes mortos, só porque estavam na parada, ou num parque a jogar ou a pôr os filhos a brincar, ou às compras num Centro Comercial. Rajadas de tiros a alvos incrédulos com caras de terror que só balbuciavam: Meu Deus! 
E a Síria? Para quando o fim de tanta mortandade?
Foi isto o Verão. Todas as praias do mundo, todas as viagens de lazer, são fugas desesperadas num mundo
em tensão.
Venha o Outono e com ele o fim dos fogos, todos os fogos a nível mundial, para que possamos chorar os inocentes perdidos que se acolhem nas asas do Anjo seu defensor.  

  

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Chegou o Verão!

O calor chegou e as forças diminuiram. Os trabalhos que queria partilhar convosco terminaram com "O Tempo, protagonista do Período Barroco", que foi realizado para o seminário de Literatura Moderna. Os trabalhos de pesquisa que fiz sobre a «Gazeta de Lisboa» e os anúncios aí publicados sobre livros e papéis, desde 1715 até 1760, ficarão sem vos dar a conhecer. E porquê? Porque são trabalhos que somam, no conjunto, mais de oitocentas e muitas páginas.Talvez, em breve, sejam publicados. Vamos aguardar.
Voltarei sempre ao vosso convívio quando estiver disponível e o ânimo me ajudar. O verão é breve e merece ser vivido, mesmo que as forças físicas e anímicas não nos permitam mais que a busca das sombras e as horas cálidas e serenas dos dias.
Desejo a todos os meus leitores umas boas férias e um verão ventoroso.
Até breve.    

quarta-feira, 12 de junho de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

BIBLIOGRAFIA
(Continuação)

GRIMAL, Pierre, DICIONÁRIO DA MITOLOGIA GREGA E ROMANA, Tradução de V. Jabouille, Difel, Lisboa.

GONZAGA, Tomás António, MARÍLIA DE DIRCEU, e mais Poesias, com prefácio e notas de M. Rodrigues Lapa, Sá da Costa, Editora, 1ª ed., 1937.

HORÁCIO, ARTE POÉTICA, Tradução de R. M. Rosado Fernandes, Editorial Inquérito, Lisboa, 2ª ed., 1984.

HATHERLY, Ana, LAMPADÁRIO DE CRISTAL de Frei Jerónimo Baía, Editorial Comunicação, Lisboa, 1º ed., 1992.

HATHERLY, Ana, A EXPERIÊNCIA DO PRODÍGIO, INCM, 1ª ed., 1983.

HATHERLY, Ana, A PRECIOSA, de Soror Maria do Céu, INIC; Lisboa, 1ª ed., 1990.

HEINRICH, Lausberg, ELEMENTOS DE RETÓRICA LITERÁRIA, Tradução de R. M. Rosado Fernandes, FCG; Lisboa, 3ª ed., 1982.

MELLO, Francisco de Pina, de Sá de, ARTE POÉTICA, Oficina de Francisco Borges de Sousa, Lisboa, 1765.

MELLO, Francisco de Pina, de Sá de, RIMAS, Oficina de Joseph Antunes da Sylva, Lisboa, 1727.

MOURA, Carlos, HISTÓRIA DA ARTE EM PORTUGAL, O LIMIAR DO BARROCO, Editado por Publicações Alfa, S.A., Lisboa, 1986, VIII Volume.

PIRES, Maria Lucília  Gonçalves, POETAS DO PERÍODO BARROCO, Editorial Comunicação, Lisboa, 1ª ed., 1985.

RODRIGUES, Graça Almeida, LITERATURA E SOCIEDADE NA OBRA DE FREI LUCAS DE SANTA CATARINA (1660 - 1740), INCM, Lisboa, 1ª ed., 1983.

SERRÃO, Vítor, O MANEIRISMO E O ESTATUTO SOCIAL DOS PINTORES  PORTUGUESES, INCM, Lisboa, 1ª ed., 1983.

SILVA, Vítor Manuel de Aguiar, TEORIA DA LITERATURA, Livraria Almedina, Coimbra, 8ª ed., 1988.

SOBRAL, Luís de Moura, PINTURA E POESIA NA ÉPOCA BARROCA, Editorial Estampa, Lisboa, 1994.

TODOROV, Tzvetan, POÉTICA, Tradução de Carlos da Veiga Ferreira, Editorial Teorema, Lisboa, 1986.

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pp.51  


sábado, 8 de junho de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

BIBLIOGRAFIA

ARISTÓTELES, POÉTICA, Tradução de Eudoro de Sousa, INCM/FCSHUNL, 1986

A FENIS RENASCIDA OU OBRAS POETICAS Dos melhores Engenhos Portuguezes, I Tomo, dedicada ao Ex. Sr. D. Francisco de Portugal, publicação de Mathias Pereyra da Silva, Lisboa, 1716.

A FENIS RENASCIDA OU OBRAS POETICAS Dos melhores Engenhos Portuguezes, II Tomo, dedicada ao Ex. Sr. D. Joseph de Portugal, Publicação de Mathias Pereyra da Silva, Lisboa, 1717.

A FENIS RENASCIDA OU OBRAS POETICAS  Dos melhores Engenhos Portuguezes, III Tomo,
dedicada ao Ex. Sr. D. Joam de Almeyda, e Portugal, Publicação de Mathias Pereyra da Silva, Lisboa, 1718.
A FENIS RENASCIDA OU OBRAS POETICAS Dos melhores Engenhos Portuguezes, IV Tomo, dedicada ao Ex. Sr. D. Joam Mascaranhas, Publicação de Mathias Pereyra da Silva, Lisboa, 1718.

A FENIS RENASCIDA OU OBRAS POETICAS Dos melhores Engenhos Portuguezes, V Tomo, dedicada ao Ex. Sr. Francisco Manuel de Menezes, Publicação de mathias Pereyra da Silva, Lisboa, 1732.

A. J. Ayer, LINGUAGEM VERDADE E LÓGICA, Editorial Presença, Lisboa.

ÁVILA, St. Teresa de, SETA DE FOGO, Tradução de José Bento, Editora Assírio e Alvim, Lisboa, 1989.
BACELAR, Barbosa António, DESAFIO VENTUROSO, Organização e prefácio de Ana Hatherly, Assírio e Alvim, Lisboa, 1991.

BORGES, Nelson Correia, A ARTE NAS FESTAS DO CASAMENTO DE D. PEDRO II, Paisagem-Editora, Porto.

CASSIRER, Ernest, LINGUAGEM, MITO E POESIA, Tradução de Rui Reininho, Rés-Editora, Lda, Porto, (1874/1945)

CRISTOVÃO, Fernando, MARÍLIA de Dirceu, de Tomás António Gonzaga, Ou a Poesia como imitação e Pintura, INCM, Lisboa, 1981.

CHEVALIER, Jean; A. Gheerbrant, DICIONÁRIO DOS SÍMBOLOS, Editorial Teorema, Ld., Lisboa,1994.

ECCOS QUE O CLARIM DA FAMA DÁ. POSTILHÃO DE APOLO... Dedicado ao Monarcha D. Joseph I, na Officina de Francisco Borges de Sousa, Lisboa, 1762.

DELAS, Daniel, Jaques Filliolet, LINGUÍSTICA E POÉTICA, Editora Cultrix, S. Paulo.

DUCROT, Oswald, Tzvetan Todorov, DICIONÁRIO DAS CIÊNCIAS DA LINGUAGEM, Publicações D. Quixote, Lisboa, 6ª ed., 1982.

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(continua) pp.50  



terça-feira, 4 de junho de 2013

«O tempo, protagonista da Poesia Barroca»

A concluir faço minhas as palavras de Eugénio Coseriu: «a poesia não é, como amiúde se diz, um "desvio" relativamente à linguagem corrente (entendida como o "normal" da linguagem); em rigor, é antes a linguagem "corrente" que representa um desvio perante a totalidade da linguagem. Isto é válido também para as demais modalidades do "uso linguístico": com efeito, estas modalidades surgem, em cada caso, por uma drástica redução funcional da linguagem como tal, que coincide com a linguagem da poesia.» (7)
"A linguagem poética representa por conseguinte, a plenitude funcional da linguagem." (4)
A essa plenitude funcional da linguagem aliaram a metáfora como "vinculo intelectual que une a linguagem e o mito." Herder, no seu ensaio sobre a origem da linguagem sublinhou que: «já que toda a Natureza ressoa, o mais natural para o homem sensível é que ela viva, fale, haja.»
O tempo, como categoria da narrativa, assumiu as "falas" da Natureza e as "não falas", mimesis e diegesis. Aristóteles ultrapassou Platão e a sua Retórica, foi a "rampa de lançamento" do tempo como personagem principal de todo a "drama" barroco.

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Notas:
(1); (2) HATHERLY, Ana, A Experiência do Prodígio, INCM, Lisboa, 1983.
(3); HATHERLY, Ana, Lampadário de Cristal de Frei Jerónimo Baía, Ed. Comunicação, Lx, 1991, p.14
(4) VVAA: Congresso sobre a investigação e ensino do Português, Lisboa, Icalp., 1989, Diálogo. Compilação, in: «O texto literário e o ensino da língua materna», Victor, M. Aguiar e Silva
(5) C: Pierre Bourdieu, «Habitus, code et codification» in: Actes de la recherche en sciences sociales, 64 (1986), p.41.
(6) PAZ, Octavio, Pasión Critica, Barcelona, Seixs Barral, 1985, pp.76 e 126.
(7) COSERIU, Eugenio, El hombre y su lenguaje, Madrid, Gredos, 1977, pp.203.
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(continua) pp.49 

sábado, 1 de junho de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

4

CONCLUSÃO

LABIRINTO, QUEIXANDO-SE DO MUNDO

«Corre sem vela e sem leme/ O tempo desordenado,/ D'hum grande vento levado:/ O que perigo não teme,/ He de pouco exprimentado.»(pp.127) (1)
Estes cinco versos dão o mote para concluir este trabalho. Os poetas do período barroco viveram um tempo em que, como nos diz Ana Hatherly, "o poder despótico exercido pela autoridade (Igreja, Estado, Sociedade) revela-se, marcadamente no grande sofrimento e no medo que se adivinham em tantas obras do Maneirismo/Barroco peninsular. O terror que inspira a infracção das rigorosas regras da ordem - estética ou  outra - é a sua marca segura da repressão violenta, que reduz os cidadãos a súbditos humildes ou humilhados e conduz à adulação e à intriga, ao servilismo e à vontade de morte. (pp.123) (...)
Há também um recrudescimento do culto do herói que, se muitas vezes é um estereotipo de modelos míticos do passado, agora surge acrescido da alternativa de abdicação e martírio, nova forma de heroísmo que se contrapõe ao esplendor da afirmação dos novos conquistadores do mundo.
Os artistas têm de ser tão prodigiosos como os heróis que celebram, as suas obras têm de estar à altura, à medida, à desmedida dos feitos que memoram. Por outro lado, as misérias que se lamentam, se induzem à renúncia, revelam também o desânimo, a descrença, a impossibilidade do homem corresponder a esses modelos míticos que o aparecimento da novela picaresca e o D. Quixote começam já a contrabalançar.
As complicadas obras que se produzem nesse período, destinam-se a um público de «especialistas», que conhece os programas originais e sabe, por isso, avaliar a mestria da recriação das formas e personagens em que os novos valores e exercitam. Neles se revêem e se comprazem os poderosos. Os artistas, servos por necessidade do patrocínio, servem esses desígnios: louvam, louvam, repetem os seus louvores até à  loucura - até atingirem a aguda sensação de que a morte que a todos persegue em guerras e lutas intermináveis, é por fim um bem. Espiritualmente falando, é (talvez) a única libertação, pois liberta do mundo." (pp.124) (2)
O tempo assume, neste contexto, um protagonismo que até aí não tinha conhecido na literatura. A conjuntura social e histórica explica que, a própria morte, se apresente como resolução de muitas vidas sem sentido terreno. O divino e a vida celestial, apresentava-se como a única possibilidade de obter a felicidade. Pela renúncia obtinha-se a santidade. São exemplo os poemas de S. Teresa de Ávila: "Vivo sem viver em mim/ e tão alta vida espero,/ que morro por não morrer." As suas orações eram poesias de esperança: "Nada te inquiete, / nada te assuste; / pois tudo passa, / Deus nunca muda. / A paciência/ tudo alcança / Quem Deus tem / nada lhe falta. / Só Deus basta."
A crítica neo-clássica criou preconceitos sobre a literatura barroca que a levaram a não ser estudada durante séculos, "contribuindo para que toda uma volumosa produção literária, de numerosos e por vezes valiosos autores do século de seiscentos e parte de setecentos, tivesse ficado sujeita ou a um completo esquecimento ou às críticas mais injustamente depreciativas." (3)
Herder dizia que a poesia era a língua universal da Humanidade. E mesmo que o texto poético seja sempre codificado, "ele é também, todavia um texto capaz de jogar ironicamente com a sua própria codificação."(4)
Pièrre Bourdieu escreveu, num ensaio recente, que devemos «saber jogar com a regra do jogo até aos limites, mesmo até à transgressão, sem cair no desregramento.» (5)
Os poetas barrocos não caíram no "desregramento". Antes souberam ter aquela atitude moderna que Octávio Paz refere: «o criador perante a linguagem deve ter a atitude do enamorado. Uma atitude de fidelidade e, ao mesmo tempo, de falta de respeito ao objecto amado. Veneração e transgressão. O escritor deve amar a linguagem, mas deve ter a coragem de transgredir.»Porque, continua o mesmo autor, «a poesia é ruptura da linguagem, ou ruptura da superfície da linguagem, para penetrar no interior da linguagem. A arte de escrever, parece-se com o combate e também com o amor». (6)
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(continua) pp.48/49

sexta-feira, 31 de maio de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

BUENOS DIAS

                            93

O' domador del Python, ó famoso
          Auriga, más felice, que Phaetonte
          No tan a prissa al cielo se remonte
El ímpetu del carro luminoso.
Duerme el mayor varon: el perezoso
          Sosiego lhega al metrico horizonte
          Calle el relincho pues Pyroes, y Ethonte
          No profane las aras del reposo.
Mas si la obligación de dar al dia,
          La fatigada luz, del triste Herebo
          Romper el negro baratro profundo.
Ceda Apolo en la aurifera porfia,
          Dese la rienda de Ericeira al Febo,
          Para girar los ambitos del Mundo.

SEGUNDA PARTE

SONETO DE CAMOENS

Doces lembranças da passada gloria,
          Que me tirou Fortuna roubadora,
          Deixay-me descançar em paz hûa hora;
Que comigo ganhais pouca victoria
Impresso tenho n'lma larga hystoria
          Desse passado bem, que nunca fora,
          Ou fora, & não passara, mas jà agora
          Em mim não pode haver mais que a memoria,
Vivo em lembranças, morro de esquecido
          De quem sempre devera ser lembrado,
          Se lhe lembrara estado tão contente.
O' quem tornar poderá a ser nascido!
          Soubera-me lograr do bem passado,
          Se conhecer soubera o mal presente.

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Termino esta antologia de poemas com a ilustração do tempo nas Rimas de Francisco de Pina  de Mello. Da segunda parte e como remate do trabalho, um soneto a Camões, "príncipe dos poetas". Sem ele, possivelmente, não teriam existido muitos dos nossos Poetas. O seu nome brilhava no emblema da Academia dos Singulares, quase no cume da pirâmide que começava com Homero, Aristóteles, Vergílio, Ovídeo, Horácio, Camões, Garcilaso, Góngora e Lope. "«Os nove heróis da poesia, os nove príncipes do Parnaso» juntos no Templo da Fama." Esta Academia e a dos Generosos, deram o contributo que a todos permitiu a criatividade e singularidade da linguagem da poesia barroca.

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(continua) pp.47

quinta-feira, 30 de maio de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

A HUMA CAVEIRA CERCADA DE FLORES

                           75

Com as flores a Morte! Há tal cegueira!
          As flores com a Morte! Há tal loucura!
          Quem fez desenganada a fermosura?
Quem fez desvanecida huma Caveira?
          Que seja a tumba a casa verdadeira
          Como a mesma vaidade conjectura?
          Como da Parca a mísera figura
          Se veste de huma gala lisonjeira?
Porem todo o espectáculo tremendo,
          Porem todo o Zodíaco florido
          Vay ou jà sazonando, ou corrompendo
Que muyto esteja o génio pervertido
          Se o que hão de ser as flores estão vendo?
          Se a Caveira está vendo o que tem sido?


A HUM BERÇO COM O FEITIO DE HUMA  TUMBA

                           78

Já he tumulo o berço, já tristeza
          O que foy alegria, escuro norte
          Segue a luz; & na câmara da Morte
Buscão os pulsos a vital proeza.
Já na casa da Parca a fortaleza
          Dos alentos se expoem; já passaporte
          Da Morte traz a vida; & desta sorte
          Se vão mudando as leys da natureza.
Não se admire ninguém, traça subida
          Foy do supremo Angélico conceito,
          Que altamente nos animos retumba.
Porque se tão depressa passa a vida,
          Quem pode duvidar, que hum proprio leito
          Pode vir a ser berço, & mais ser tumba?
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(continua) pp.46

quarta-feira, 29 de maio de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

DO MEIO DIA

                           48

          Sobe ao ponto brilhante, o' Phebo ardente
          E o divino licor da pura fonte
          Banhe a circunferência do horizonte,
De ardor enchendo o Ceo, de luz agente.
No throno do Zenith teu rosto aquente
          Como o valle abatido, o excelso monte,
          E com igual distancia se remonte
          Dos districtos da Aurora, & do Occidente.
Parte a diáfana luz do claro dia,
          E na fragoa de nítidos fulgores
          Arda toda a redonda monarquia.
E eu cuberto de míseros horrores,
          Cheo de huma mortal melancolia
Fuja as luzes, profane os resplendores.


DA TARDE

                           49

Vem, o' benigna tarde; & em torno gira
          O abrazado esplendor da clara esphera,
          E ao florido matiz da Primavera
Docemente o Favonio lhe respira.
          As lisongeiras, auras a celera;
          E no fresco dos Zephyros tempera
          Os acendidos campos de Saphira.
Guia o brilhante Apollo ao lento Occazo
          E refresca, abatendo o ardor esquivo
          As métricas alturas do Parnazo:
Depois vem; & verás meu peito activo,
          Tão ígneo, que na chama em que me abrazo
Ardo morrendo, & abrazado vivo.

DA NOITE

                           50

Deita, o' noite funesta o negro manto
          Pela aerea, e terrena arquitectura,
          E influa de teu rosto a pompa escuta
Nos medrosos mortaes confuso espanto.
Do sepultado Phebo ao fogo santo
          Receba o pardo círio a chama impura,
          E expulse a imagem da mortal figura
          O mal sofrido horror do eterno pranto.
Infunda, pois, teu rosto entristecido
          Silencio infausto em toda a redondeza,
          Desperta a treva, o lume adormecido.
Alegre eu só; que he tal a natureza
          De hu tão triste, infeliz, como affligido;
          Que descança entre as sombras da tristeza.

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(continua) pp.45  

terça-feira, 28 de maio de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

INVECTIVA

DESORDENADA TAREA DEL TIEMPO.

                         46

Traidoras horas, que com fuerça ímpia,
          Arrebatando al tiempo el passo lento,
          Tardas siempre passais em mi tormento,
Siempre ligeras en la gloria mia.
Que de balde os detiene el alegria!
          Que en vano os apressura el sentimiento!
          Pues huyendo a la prissa del contento,
          La perèza com mi dolor porfia.
Yô nò se que solicita eficacia
          Os incita; yô no se que desventura
          Os detiene en rebelde contumacia.
Imagino que el Cielo hazer procura
          La eternidad del Evo en mi desgracia,
          El estrago del tiempo en mi ventura.


DA MANHAÃ

                          47

Acende o' branca Nynfa, a luz sagrada,
          E ao Ceo correndo a fúnebre cortina,
          Traze a tocha da chama matutina,
Dos tímidos mortaes, tão desejada.
De derretido aljôfar adornada
          O duvidoso rayo determina;
          Os assopros subtiz da madrugada.
Espalha com a roxa claridade
          A alegria cabal do humano alento,
          Pondo a Esphera em risonha suavidade.
E continua o curso a meu tormento:
          Todo o Mundo te espera com vontade,
          E eu te recebo só com sentimento.

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(continua)pp.44

segunda-feira, 27 de maio de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

EXQUISITA ESTRATAGEMA
do vencimento


                    20

Afecto he já, o que era urbanidade;
          Já o ídolo n'alma tenho aceito;
          Viose nunca que as aras do respeito;
Lograssem sacrifício da vontade?
Pois esta he de amor a falcidade,
          Livre entrey, mas atado a seu preceito,
          Com tanta injuria estou, que me deleito
          De que tenha perdida a liberdade.
Não hà mais injustíssima violência
          Que me prenda à trayção, que a fantasia
          Me arraste sem nenhuma resistência,
Ea o tempo que me vexa, & me injuria,
          Que queira que eu lhe faça a continência
          De lhe louvar também a aleivosia.


PODEROSOS EFEITOS DO TEMPO
& da desventura

                    35

Depois de tanto tempo mal gastado;
          E em contínuos trabalhos consumido;
          Segunda vez me vejo reduzido,
A onde o objecto està de meu cuidado:
Que differente tudo! Que mudado
          Meus olhos estão vendo! Ou meu sentido
          Mo finge, ou he verdade que hão perdido
          Todas as cousas seu primeyro estado.
Esta não he a fonte, nem he esta
          A campanha, os curraes, os arvoredos,
          A serra, o rio, o mato, nem a gente:
Mudou-se o valle, o monte, & a floresta,
          Mudarão-se também estes penedos;
          Sò meu mal estâ firme, & permanente.

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(continua) pp.43

sábado, 25 de maio de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

AS  RIMAS
De
Francisco
De Pina, de Mello
MOÇO FIDALGO DA CASA DE SUA
MAGESTADE.

Primeira, & segunda Parte

Offerecidas

Ao Excelentissimo Senhor
D. GABRIEL
DE ALENCASTRO, PONC, E DE LEON,
Duque
De Aveiro, e de Banhos

Coimbra:

Na officina de Joseph Antunes da Sylva
Impressor da Universidade, & familiar do Santo Oficio
______________________________________________
Com todas as licenças necessárias
Anno de MDCCXXVII

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                 3

PRIMEYRA PARTE

                 15

Exquisita Idea do Fado

Quando me ponho a ver minha tristeza,
          Cuido mil annos tem meu sentimento,
          E se olha para vòs o pensamento,
Sempre encontra mayor vossa belleza
E inda vay minha dor, & a natureza.
          Da vossa bizarria em crescimento:
          Com que se hà cousa igual a meu tormento,
          Sò pode ser a vossa gentileza.
Em vez da temporal voracidade
          Gastar a perfeição, & a desventura,
          Augmenta a pena, estende a divindade.
Ora veja o que o Fado conjectura?
          Quer fazer huma nova eternidade
De meu mal, & de vossa fermosura.
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(continua) pp.42

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

V Tomo

MANDANDOSE UN RELOX
De movimiento en una ausência

SONETO

Que importa, ò Laura, pues mi amor ignoras
          Que esse relox, q a mi cuidado enbias,
          La mudanza me apunte de los dias,
          Si la igualdad me cuenta de las horas.
Muestre su movimiento a las Auroras
          Quan varias son; que las firmezas mias
          Nunca podràn frustrarse a las porfias,
          Que ha tanto son a tu Deidad deudoras.
Si pues firme en su proprio movimiento
          Mi de un relox con tan igual decoro
          Un hora, un punto, un atomo, un momento;
Que importa, ò Laura, que este mal que lloro,
          Te diga en las mudanzas, que me ausento
          Si muestra en las firmezas, que te adoro?

Anonymo


Na occasiaõ em que o Real Convento do Carmo de Lisboa
Celebrou a noticia do Papa Benedicto XIII.
ter mandado que em toda a Igreja se rezasse
da Senhora do Carmo, fez o mesmo
Autor o seguinte

SONETO

Virgem fermosa, honra do Carmelo,
          A quem o Sacro Empirio reverente
          Louvores mil, alterna docemente
          Do Candor que lograes, sem paralelo,
Fazey do affecto meu, eterno prelo
          Porque estampado fique, & permanente
          No vosso doce amor, com zelo ardente
         Em cada coraçaõ hum Mongibelo.
Para gloria de toda a Christandade
          Hoje o vosso louvor, faz mais jocundo
          De Benedicto Summo a Santidade.
Pois gravou seu espírito profundo
          No Padraõ immortal da Eternidade
          Solemne o vosso culto em todo o mundo.
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(continua) pp.41

quarta-feira, 22 de maio de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

                3

Sabey, Idolo de neve,
Que o Menino Deos arqueyro,
He por setas muy ligeyro,
E por azas muyto leve:
Amay pois em tempo breve,
Deyxay taõ cançado modo,
Porque amor, que he preça todo,
Dos vagares naõ se enoje;
Vida fallayme hoje,
Que a manhã vem longe.

                 4

A flor, que entre espinhos mora,
Que quando as aves daõ salva,
Recolhe perolas da Alva
Entre nacares de Flora:
Quando a Abelhinha a namora
Logo defere a Abelhinha,
Nunca pois a flor Rainha
Ser taõ dura se lhe antoje;
Vida fallayme hoje,
Que a manhã vem longe.

                 5

O Sol, que, qual gyrasol,
A vossas luzes se entrega,
Tão veloz corre, que chega
De hum mundo a outro com Sol:
Imitay pois seu farol,
Para que naõ se repare,
Em que hum Sol na terra pare,
E no Ceo hum Sol se arroje.
Vida fallayme hoje,
Que a manhã vem longe.
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Nesta glosa de Jerónimo Baía vemos representado o "cerpe diem" de Horácio. A urgência de se viver o Amor, "...hoje,/ que a manhã vem longe". "... a quem foge o pensamento,/ Também o tempo lhe foge" - metáfora hiperbólica do fluir do tempo, que o pensamento transforma.
"Ah deixai tanta tardança, (...) minha afeição não se cança,/ Mas temo que a vida falte" - personificação da "afeição" e da própria vida: "Vida falai-me hoje..."
"Sabei, Ídolo de neve" - metáfora da brancura da sua amada, e da sua frieza. "Que o Menino Deus arqueiro" - metáfora de Cupido, filho de Vénus, que apesar da sua cegueira, é "ligeiro" a atirar as setas e a "voar" com as suas asas. "A flor, que entre espinhos mora," - personificação; analogia com a jovem. "Recolhe pérolas de Alva"- metáfora das gotas de orvalho da manhã, ou das lágrimas de Aurora.
"O Sol, que, qual girassol" - Comparação com a flor. "Tão veloz corre, que chega/ De um mundo a outro com Sol" - personificação do Sol, e, metáfora hiperbolizada do giro do sol, de Oriente ao Ocidente.
"Imitai pois seu farol" - metáfora da luz do sol. "Em que um Sol na terra pare" - personificação do sol e metáfora da vida que pode parar, na sua morte. 
"E no Céu um Sol se arroje." -metáfora da morte da amada que, qual anjo, pode ir, como um Sol, para o Céu, sem ter vivido a vida.
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(continua) pp.39/40 

terça-feira, 21 de maio de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

IV TOMO

PENANDO AUZENTE, E PRESENTE

MADRIGAL

Se a vossos olhos chego,
Se deles me desvio
Na dura auzencia, & no suave emprego,
Hum incêndio padeço, & choro hum rio;
E sempre em tal pezar, & prazer tanto,
Se turba a vista em luz, se turba em pranto,
Ay como temo, que me façaõ cego,
De ver no gosto, & de naõ ver na magoa,
Vossos olhos cô fogo, & os meus cô agua.

J. Baya


GLOSA DO MESMO AUTHOR.

Vida fallayme hoje
Que a manhã vem longe

DECIMAS

                1

Senhora, que sois de Amor
Melhor Vénus, mor Deidade,
Vós menos que flor na idade,
Na lindeza mais que flor,
Abranday tanto rigor,
Sem esperar hum momento,
Que aquém foge o pensamento,
Também o tempo lhe foge;
Vida fallayme hoje, 
Que a manhã vem longe.

                 2

Ah deyxay tanta tardança,
Pois sinto, doce Sirena,
Eternidades de pena,
Em minutos de esperança:
Minha affeyçaõ naõ se cança,
Mas temo que a vida falte,
Antes que amor vos assalte,
E do desdém vos despoje;
Vida fallayme hoje,
Que a manhã vem longe.
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(continua) pp.38/39

segunda-feira, 20 de maio de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

SONHANDO QUE VIA
A MARCIA

SONETO

Pintais, sono gentil, com bello ornato
          Meu claro Sol, na vossa sombra escura,
          Que posto que da morte sois retrato
          Retrato sabeis ser da fermosura.
Eu vendo o grato rosto, & peyto ingrato,
          Quando fermosa a sigo, a temo dura
          Porèm firme no amor, fácil no trato,
          Me coroa a esperança, a fè me jura.
Cante pois por tal gloria, por tal sorte
          Cante vosso louvor minha Thalia
          No Occaso, no Oriente, Sul, & Norte.
Chamevos clara luz, não sombra fria,
          Causa da vida, não irmão da morte,
          Filho da noyte não, mas pay do dia.

J. Baya 

quinta-feira, 16 de maio de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

A UM PASSARO CANTANDO

SONETO

Que alegre pendurado de hum raminho
          Cantando em alta vós estas contente,
          Sem temeres o mal estando auzente,
          Que te espera, ó incauto Passarinho!
Acorda pois depreça, que adivinho
          Se tardares hum pouco, descontente
          Inda mal choraras eternamente
          O roubo de teus filhos, & teu ninho.
Faze jà de meus males claro espelho,
          Pois por viver auzente, & confiado,
          Perdi tudo o que tinha merecido.
Mas ah! Que tarde tomas meus conselhos!
          Na perda ficaràs desenganado,
          Jà que cantas auzente, & divertido.

Anonymo


DO INFANTE D. LUIS

SONETO MORAL.

Horas breves do meu contentamento
          Nunca me pareceu, quando vos tinha,
          Que vos visse mudadas tão azinha
          Em tão compridos annos de tormento.
Os meus castelos, que fundey no vento,
          O vento mos levou, que mos sostinha,
          Do mal, que me ficou, a culpa he minha,
          Pois sobre cousas vans fis fundamento.
Amor com falsas mostras apparece,
          Tudo possível faz, tudo assegura,
          E logo no melhor desaparece.
Oh dano grande, oh grande desventura!
          Que por pequeno bê, que em fim fallece,
          Se aventura hum bem, que sempre dura.
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(continua) pp.37/38

quarta-feira, 15 de maio de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

III TOMO

A Hum Rouxinol Cantando

Soneto
          Ramilhete animado, flor do vento
          Que alegremente teus ciúmes choras,
          Tu cantando teu mal, teu mal melhoras, 
Eu digo minha dor ao sofrimento,
          Tu cantas teu pezar, a quem namoras,
          Tu esperas o bem todas as horas,
          Eu temo qualquer mal todo o momento.
Ambos agora estamos padecendo
          Por decreto cruel do Deos Menino;
          Mas eu padeço mais, só porque entendo.
Que he tão duro,& cruel o meu destino,
          Que tu choras o mal, que estás sofrendo,
          Eu choro o mal, que soffro, & q imagino.

Francisco de Vasconcelos

Sobre Las Palabras de Job

DIES MEI TRANSIUNT

SONETO

Buelan las horas, passanse los dias,
           Corren los meses, huyense los annos,
          Y nuestra vida hidropica de engaños
          Breve ambiciones, pasce tyranias;
Sim ver que el gusto es todo fantesias,
          Sin que la vida aprenda de sus daños,
          Que el alma, q'arrastrou sus desengaños,
          Es toda a su delicto idolatrias:
O' mundo ciego, a la rason difunto,
          Como no ha hecho en ti más movimiêto
          Verte al peligro por instantes junto?
Dexa la liviandad, mira de asiento,
          Que ha de espirar la vida a cada punto,
          Pues se muere la edad cada momento.

J. Freyre de Andrade

SOBRE AS PALAVRAS DE JOB

QUI  QUASIFLOS EGREDITUR, & CONTERITUR.

SONETO

Si la vida del hombre incierta, y breve,
          Es luz, que passa, y flor, que se marchita,
          Para que fin el alma solecita
          De humano bien la vanidade aleve?
El mismo passo, que a vivir se mueve,
          Para la muerte el tiempo precipita;
          Y los estragos de su gusto incita,
          Quien con más prisa sus engaños beve.
Pues si la vida un punto apenas dura,
         Y es voz que nos avisa el mismo daño,
         Quien esta luz ephimeral procura?
O' fi el mundo faliera de su engaño,
          Que escarmiento no fuera una ventura!
          Que ventura no fuera un desengaño!
J. Freyre de Andrade

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Poemas que ilustram o protagonismo do tempo na linguagem barroca. Bem à maneira de Gongora, aqui está retratada a passagem do tempo que provoca danos e "quem com mais pressa seus enganos bebe" mais vê que a "ventura" é um "desengano". - Metáfora da passagem do tempo e do engano/desengano.
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(continua) pp.36/37

segunda-feira, 13 de maio de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

II TOMO

A HUMA ROSA

Romance

          Como tens tão pouca vida?
          Quem tão depressa te mata?
          Flor do mais illustre sangue
          Que deu de Vénus a planta?
Huma Aurora só que vives
          Flores te chamão Monarcha
          Na mesma do Império,
          Que foi berço, tens a campa.
Lastima da tarde chamão
          A ti doce mimo da alva,
          Gentil pérola nascida
         Entre concha de esmeralda.
Águia nos voos florentes
          Estendes ao Sol as azas,
          Mas quando os rayos lhe logras
          Fenis em rayos te abrasas.
Em quanto em verde clausura
          Te fecha o botão as galas,
          Paras os logros que desejas
          Te dão vida as esperanças.
Mas quando a púrpura bella
         Te serve jà de mortalha
         Sentido o Sol chora rayos,
         Buscando a morte nas agoas.
De fermosura tão rica
          Não sey quem foy o pyrata
          Tão attrevido, que rouba,
          A Joya da madrugada.

J. Bahia


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Um poema metafórico e hiperbólico que nos mostra a brevidade da vida na personificação da rosa. Beleza a quem o tempo condena."Uma Aurora só que vives",- metáfora do tempo, um só dia tem a rosa de esplendor, mesmo que filha de Vénus. "Sentido o Sol chora raios,/ Buscando a morte nas águas" - personificação do Sol, que "chora", mas, com os seus "raios", leva a rosa à morte. Metáfora do poente e da morte, quando o sol se esconde no mar e se faz noite. "A Jóia da madrugada," - metáfora do alvorecer do dia e da juventude efémera.
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(continua) pp.35

sexta-feira, 10 de maio de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

EPITAFIO
Na sepultura de Lydia

Por hum anonymo.

Soneto

Esta, que vês, errante peregrino,
Urna funesta em mármore erigida,
       He sepulchro horroroso de huma vida
                Morta ás mãos, ou da Parca, ou do destino:
         Foylhe mortal doença o amor mais fino,
   O querer bem lhe foy fero homicida; 
       Se fosse, como quis, tam bem querida
                                                        O tempo contaria Nestorino:
 Lydia jaz aqui, Lydia desgraçada,
     Lydia aquelle de amor raro portento,
           Mas ah! Não cuydes, não, que sepultada
       Entre as cinzas está do esquecimento,
      Está viva Lydia, ainda que enterrada,
               Que inda em seu peyto amor infunde alento.

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"Urna funesta em mármore erigida" - metáfora da morte/vida em "estátua"erigida. Morte por amor: "Foi-lhe mortal doença o amor mais fino." - Hipérbole e adjectivação do amor.
"O tempo contaria Nestorino" - metáfora do longo tempo que viveu Nestor, a quem Apolo concedeu uma idade avançada. Nestor que surge, tanto na Ilídia como na Odisseia, como um ancião sensato, corajoso, bom conselheiro. Se Lídia tivesse sido amada como desejava, talvez Apolo lhe concedesse viver uma longa vida. Mas, "Está viva Lídia, ainda que enterrada"; - antítese, da vida/morte que leva a que o tempo seja incapaz de destruir o Amor. Ele vive no Mito.
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A HUMAS SAUDADES

SONETO

Saudades de meu bem, que noyte, & dia
                    A alma atormentais; se he vosso intento
           Acabaresme a vida com tormento
       Mais lisonja será, que tyrannia,
                                                   Mas quando me matar vossa porfia,
               De morrer tenho tal contentamento,
                    Que em me matando vosso sentimento,
               Me há de ressuscitar minha alegria:
                                                   Porém matayme embora, que pretendo
          Satisfazer com mortes repetidas
              O que à bellesa sua estou devendo;
                                                    Vidas me day para tirarme  vidas,
                         Que ao grande gosto, cõ q as for perdendo,
              Serão todas as mortes bem devidas. 

A. Barbosa Bacelar
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(continua) pp.34

quinta-feira, 9 de maio de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

(Continuação)

44 -"Torna atrás, que no bem que desestimas,/ Mais riquezas terás, do que procuras," - metáfora do Amor que tem "mais riquezas" do que as que procura em "estranhos climas" - metáfora das terras de além mar.

57 - "Parto a fazer lisonja ao alvedrio" - metáfora hiperbólica do livre-arbítrio.

66 - "mas como a natureza cuidadosa" - personificação da natureza. Estrofe construída com antíteses, vida versus morte.

67 - O tempo, a Estação do Inverno, personificada. "Derretidos cristais disfarça em prata" - metáfora das gotas de orvalho que se transformam em neve.
"Se prende em fogo, se desata em água". - Metáfora antitética da dor ardente encoberta e do caudal de lágrimas.

113 - O engano e desengano está presente na estrofe através da antítese: "De que fiquei sem ti, se estou comigo! / Não te partiste, não, que por teu dano/ Era força partir também contigo": (...) " Me não saiba deixar, por não deixar-te."

123 - Utilização do vocativo; - personificação do Céu, do Dia e do Mar; adjectivação do amado como "ingrato" que prefere a "beleza" do Céu, e o  seu trabalho de militar no Mar.

125 - Enumeração, personificação e invocação dos elementos da natureza que retratam e lhe dão "a imagem" do seu "bem", para que tenham pena do seu sofrimento e sejam "testemunhas" do seu "doce engano" - metáfora do amor. "Imitareis ao vivo este tirano" - metáfora hiperbólica do amor e do amado. (Por analogia com a poesia que imita a vida e a retrata no tempo e sofrimento)

128 - Intervenção do narrador nas falas da personagem, ("diz Lídia/torna a dizer"). "Porque me mata este rigor violento" - metáfora do amor que dá a morte.

131 - A morte está turbada, está corrida" - personificação e adjectivação da morte, mas como personificação do mal, "... a dois troféus ufana/ Mata por bela, mata por tirana." - anástrofe (repetição do verbo), adjectivação da morte e enumeração: "dois, Armido e Lídia mata. Metáfora do verdadeiro amor; dois em um. Morre Lídia, morre Armido.

133 - "Oh Tirana pensão de um pensamento/ Porque se chama amor ao que é tormento!" - personificação da tirania que "impõe" a ideia do amor. Antítese; amor/tormento.

134 - "Sobeja em Lídia o amor, falta a ventura" - antítese; demonstração de que o amor é portador da desventura.

135 - "No templo  te eterniza da tua fama" - metáfora do amor eternizado na morte.
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(continua)pp.33

sábado, 4 de maio de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

(Continuação)

1- "Era o tempo, em que pálido retrata/ Seus ardores o Sol na Thetis fria," - metáfora de um tempo de guerra, e, personificação do Sol e de Tétis, com adjectivação qualificativa. (Tétis, divindade marítima, a mais célebre entre as Nereides, toma o leme da nau Argos. Recusa o amor de Zeus ("fria"), e é inacessível aos amores dos deuses. Peleu desposou-a e dela nasceu o herói Aquiles. Nem Tétis o salvou do seu destino fatal.) Os dois primeiros versos do poema anunciam antecipadamente (prospecção) aquilo que vai acontecer a este trágico amor, com a partida de Armido para a guerra.
"Porque em berços de neve morre o dia" - metáfora do fim de um dia  de Inverno; personificação do dia.
"Quando entre escuma de mentida prata;" - metáfora das ondas a rebentar na areia, quando se desfazem em espuma.
" O vento com gentil descortesia;" - personificação do vento, e adjectivação antitéctica.  "Inchava as ondas, e batia as velas;"  - metáfora adjectivada da tempestade.

2 - "E o tambor guerreiro se dobrava," - personificação, adjectivação e metáfora da guerra, reforçada pela hipérbole adjectivante de "horrendo som".
"Plantas de galas, e jardim de plumas"; - metáfora dos "louros" do soldado que vence na guerra.

3 - " Graças de natureza, alentos da arte;/ Em quem juntou amor a competir-se/ Galhardias de Adónis, leis de Marte," - metáforas das artes do poeta, que junta em si Adónis, o belo, aquele que divide o tempo entre Afrodite (ou dois terços) e Perséfone, e, em si contém, igualmente Marte, o "horrendo" deus da guerra. (aventura e desventura do poeta).

4 - "Que como é guerra amor, braço imperioso;" - Comparação da guerra com o amor, metáfora do braço-de-ferro que o amor trava com a guerra, que o proíbe, o torna impossível.

5 - "Altas prendas de Lídia, que por belas,/ Nelas a ser estrelas, e as flores" - metáforas adjectivadas das qualidades e virtudes de Lídia.

6 - Estrofe construída com ideias antitéticas e em quiasmo: - "Ausentar-se sem vê-la não ousava/ vê-la e logo ausentar-se não podia:" (...)"No valor uma morte pressentia; (...) Uma morte vencia em outra morte."

11 - "Ai caduco prazer, falsa ventura/ Sombra vã, leve flor, doce mentira!" - metáforas adjectivadas do tempo enganador, do desengano, do amor como "doce mentira".

15 - Antíteses e hipérboles constroem esta estrofe. O destino injusto, "fado iníquo", "as duras leis" dita: Porque, se porque ficas, cá me fico, / Também porque me levo, lá te levo."

32 - "Solicitas no sangue altas memórias", - metáfora dos valores de honra dos antepassados, que faziam com que os jovens não pudessem deixar de ir à guerra.
"Deixando a Vénus por seguir a Marte?" - metáfora interrogativa da troca do amor pela guerra. Personificação do Amor (Vénus) e da Guerra (Marte).
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(continua) pp.32