segunda-feira, 27 de maio de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

EXQUISITA ESTRATAGEMA
do vencimento


                    20

Afecto he já, o que era urbanidade;
          Já o ídolo n'alma tenho aceito;
          Viose nunca que as aras do respeito;
Lograssem sacrifício da vontade?
Pois esta he de amor a falcidade,
          Livre entrey, mas atado a seu preceito,
          Com tanta injuria estou, que me deleito
          De que tenha perdida a liberdade.
Não hà mais injustíssima violência
          Que me prenda à trayção, que a fantasia
          Me arraste sem nenhuma resistência,
Ea o tempo que me vexa, & me injuria,
          Que queira que eu lhe faça a continência
          De lhe louvar também a aleivosia.


PODEROSOS EFEITOS DO TEMPO
& da desventura

                    35

Depois de tanto tempo mal gastado;
          E em contínuos trabalhos consumido;
          Segunda vez me vejo reduzido,
A onde o objecto està de meu cuidado:
Que differente tudo! Que mudado
          Meus olhos estão vendo! Ou meu sentido
          Mo finge, ou he verdade que hão perdido
          Todas as cousas seu primeyro estado.
Esta não he a fonte, nem he esta
          A campanha, os curraes, os arvoredos,
          A serra, o rio, o mato, nem a gente:
Mudou-se o valle, o monte, & a floresta,
          Mudarão-se também estes penedos;
          Sò meu mal estâ firme, & permanente.

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(continua) pp.43

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