quinta-feira, 30 de maio de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

A HUMA CAVEIRA CERCADA DE FLORES

                           75

Com as flores a Morte! Há tal cegueira!
          As flores com a Morte! Há tal loucura!
          Quem fez desenganada a fermosura?
Quem fez desvanecida huma Caveira?
          Que seja a tumba a casa verdadeira
          Como a mesma vaidade conjectura?
          Como da Parca a mísera figura
          Se veste de huma gala lisonjeira?
Porem todo o espectáculo tremendo,
          Porem todo o Zodíaco florido
          Vay ou jà sazonando, ou corrompendo
Que muyto esteja o génio pervertido
          Se o que hão de ser as flores estão vendo?
          Se a Caveira está vendo o que tem sido?


A HUM BERÇO COM O FEITIO DE HUMA  TUMBA

                           78

Já he tumulo o berço, já tristeza
          O que foy alegria, escuro norte
          Segue a luz; & na câmara da Morte
Buscão os pulsos a vital proeza.
Já na casa da Parca a fortaleza
          Dos alentos se expoem; já passaporte
          Da Morte traz a vida; & desta sorte
          Se vão mudando as leys da natureza.
Não se admire ninguém, traça subida
          Foy do supremo Angélico conceito,
          Que altamente nos animos retumba.
Porque se tão depressa passa a vida,
          Quem pode duvidar, que hum proprio leito
          Pode vir a ser berço, & mais ser tumba?
_________________________________________________________________
(continua) pp.46

Sem comentários:

Enviar um comentário