sexta-feira, 10 de maio de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

EPITAFIO
Na sepultura de Lydia

Por hum anonymo.

Soneto

Esta, que vês, errante peregrino,
Urna funesta em mármore erigida,
       He sepulchro horroroso de huma vida
                Morta ás mãos, ou da Parca, ou do destino:
         Foylhe mortal doença o amor mais fino,
   O querer bem lhe foy fero homicida; 
       Se fosse, como quis, tam bem querida
                                                        O tempo contaria Nestorino:
 Lydia jaz aqui, Lydia desgraçada,
     Lydia aquelle de amor raro portento,
           Mas ah! Não cuydes, não, que sepultada
       Entre as cinzas está do esquecimento,
      Está viva Lydia, ainda que enterrada,
               Que inda em seu peyto amor infunde alento.

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"Urna funesta em mármore erigida" - metáfora da morte/vida em "estátua"erigida. Morte por amor: "Foi-lhe mortal doença o amor mais fino." - Hipérbole e adjectivação do amor.
"O tempo contaria Nestorino" - metáfora do longo tempo que viveu Nestor, a quem Apolo concedeu uma idade avançada. Nestor que surge, tanto na Ilídia como na Odisseia, como um ancião sensato, corajoso, bom conselheiro. Se Lídia tivesse sido amada como desejava, talvez Apolo lhe concedesse viver uma longa vida. Mas, "Está viva Lídia, ainda que enterrada"; - antítese, da vida/morte que leva a que o tempo seja incapaz de destruir o Amor. Ele vive no Mito.
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A HUMAS SAUDADES

SONETO

Saudades de meu bem, que noyte, & dia
                    A alma atormentais; se he vosso intento
           Acabaresme a vida com tormento
       Mais lisonja será, que tyrannia,
                                                   Mas quando me matar vossa porfia,
               De morrer tenho tal contentamento,
                    Que em me matando vosso sentimento,
               Me há de ressuscitar minha alegria:
                                                   Porém matayme embora, que pretendo
          Satisfazer com mortes repetidas
              O que à bellesa sua estou devendo;
                                                    Vidas me day para tirarme  vidas,
                         Que ao grande gosto, cõ q as for perdendo,
              Serão todas as mortes bem devidas. 

A. Barbosa Bacelar
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(continua) pp.34

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