A grande maioria dos ancestrais brasileiros vieram da "chamada África Ocidental e Centro-Ocidental," denominada, neste trabalho, como "Atlântica". Desde o Senegal até Angola, esta região revelou, através da sua história, a existência duma prática da agricultura e do trabalho do ferro, muito antiga. Pertenciam ao grupo de línguas nigero-congolês ou banto e tinham uma organização social que de longa data foi marcada pela luta constante contra a natureza hostil dos territórios que habitavam.
Desde a antiguidade que como forma de ampliar as sociedades e resistir ao inclemente clima, os colonos foram para as savanas, à procura de melhores condições de vida. A desertificação constante do Sara e decrescente florestação do sul do deserto, levou a que os grupos se estabelecessem, de forma dispersa, nas planícies com água abundante e de preferência com pequenas colinas onde formavam os povoados. Esta escolha tinha que ver com a necessidade de se protegerem das feras e dos ataques inimigos.
Por volta do século I, os grupos de aldeias neste território começaram a reunir-se em micro estados e a formar-se politicamente. Buscavam zonas em que houvesse caça abundante, rios com peixe e terras aráveis. Estabeleceram contactos com os pigmeus e trocavam os produtos que produziam mais abundantemente, como o inhame e a palma. A sua tradição migratória levou-os a instalar-se muito perto de povos com origens diferentes e com as línguas mais diversas. No entanto, esta diversidade permitiu-lhes uma certa mobilidade sempre que os recursos se mostravam insuficientes. Seguiam os cursos dos rios e por volta do ano 1000 já tinham penetrado em toda a região florestal que vai da Senegâmbia à Costa do Marfim. Muitos destes grupos somavam à agricultura a criação de bois, o que lhes permitia o abastecimento de carne e couro, assim como o estrume para a fertilização das suas terras, ao qual juntavam os restos de cozinha e a irrigação. Construíam socalcos nas encostas e praticavam a rotação das culturas. Verificavam quais eram as mais produtivas e plantavam os mais variáveis vegetais. Se qualquer cultura não vingasse, tinham outras que se mostravam proveitosas. Produziam as suas roupas e também compravam aos berberes fazendas de lã e algodão com formas geométricas.
Começava um tempo de sedentarização longe dos tempos nómadas. A escolha dos lugares não era aleatória, porque desde o século X, que se formavam áreas de intensiva produção agrícola e cultural que se multiplicavam por vales onde corriam rios e por terras onde fecundavam os solos com as enxadas de lâmina estreita ou os bastões com que cavavam as terras quotidianamente. "Foi assim que no século XI, um povo chamado por seus percursores de Tellem, se instalou nas falésias do Mali para cultivar as bordas do extenso planalto de Bandiagara. (...) A partir do século XV, tal gente," foi absorvida por um povo de origens diversas, os Dogons. Estes povos eram muito criativos e sabiam aproveitar a água que encontravam. Cultivavam o milhete ou painço e no curso do rio Niger plantavam arroz de sequeiro. A eles se devem, segundo os autores, as mais belas esculturas e máscaras de toda a África, destinadas a guardar as "almas dos ancestrais." As aldeias eram cercadas por espaços incultos e formavam-se em anéis concêntricos separadas entre si. Eram formadas por grupos de população irregular e desigual que iam alargando as suas terras conforme o poder da guerra, do número de habitantes, secas que sofriam ou dos poderes dos próprios feiticeiros que intimidavam os jovens, levando-os a estabelecer-se noutros locais vizinhos.
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(continua)