quinta-feira, 26 de abril de 2012

Ancestrais (Introdução)

«Ancestrais - uma introdução à História da África Atlântica» é um trabalho apresentado no Seminário de HISTÓRIA DA ESCRAVATURA, no Mestrado em Estudos Portugueses - Época Moderna, no segundo semestre de 2003/2004. Consiste numa Sinopse da Edição de Mary del Priori e de Renato Pinto Venâncio, e foi realizado como opção, para além dos seminários obrigatórios. Devo dizer que neste Seminário aprendi muito sobre a História da Escravatura e que adquiri uma visão clarividente deste período da história da humanidade. Que bom seria que nunca tivesse acontecido, mas estes heróis, para mim, mudaram o mundo para todo o sempre.
Vamos ao trabalho.

ANCESTRAIS

Introdução

Mary del Priori e Renato Pinto Venâncio dizem ao leitor, logo na badana do seu livro "que a escravidão foi responsável por vários preconceitos a respeito da África" e que isto aconteceu a todos os níveis e nas diversas classes sociais. As sociedades africanas foram vistas como miseráveis e atrasadas. Por isso, o que os autores pretendem mostrar é que, de facto, não era essa a realidade, principalmente na África Atlântica, donde foram levados, para as diversas partes do Mundo Novo, cerca de 90% dos escravos. O que pretendem sublinhar é "a diversidade económica, social e cultural das civilizações" que estão na base da maioria do povo brasileiro, porque toda a complexidade da África Atlântica se revelou, na sua faceta magnânima e implacável, através duma "das mais fascinantes dimensões da aventura humana."
O Brasil tornou-se um país pluriétnico uma vez que, segundo os autores, quase todos, actualmente, são descendentes de afro-brasileiros. Durante a introdução a este tão proveitoso trabalho, salientam que hoje se conhece muito sobre a permanência dos europeus, mais alguma coisa sobre o povo indígena, mas que, para além do monótono e rotineiro trabalho escravo, pouco se sabe do seu verdadeiro contributo «enquanto "colonizadores", com tradições culturais rivais às dos europeus». Realçam o aspecto de que durante muito tempo foram os mitos e os mais diversos preconceitos que fizeram esquecer o continente africano, partindo do princípio que sendo um povo sem escrita não tinha história. Ora, assim sendo, não se ensina às crianças, nem mesmo nas universidades, a real história dos seus avoengos. Sabendo nós que tudo partiu de uma memória oral, desde o legado de Homero, de Sócrates, ou até do legado cristão, que foram escritos à posteriori, concluímos, tal como os autores, que de facto as memórias dos africanos não tiveram o devido valor e realce que hoje permitam estarem tão estudados como os europeus ou os dos próprios indígenas.
Aos pioneiros, como Léo Frobénios, no estudo dessa multifacetada e rica história cultural, não foram dados ouvidos. Por isso é que surgiu a necessidade de um estudo que abordasse a história dos antepassados, nos seus próprios países de origem, para dar a conhecer a multiplicidade de etnias que viveram diversas realidades, também elas mestiças, "resultantes da mistura de várias tradições em permanente recomposição."
Advogam os autores que escrever sobre a história da escravidão e sobre a África é também escrever sobre a história do racismo, do ódio e do desprezo; por isso, é fazer renascer a memória passada do Brasil e de uma época que de facto se quis ou quer esquecer. E esquecer porquê? Porque ela transporta em si mesmo a evidência de que os antepassados foram senhores e escravos. Mesmo que seja uma história que remonta há dez mil anos, com registos que identificam o aparecimento de sociedades esclavagistas nos vários continentes, muito antes de Colombo ter chegado à América,ela prova que "desde Platão e Aristóteles, ou ainda a Igreja Católica e o Islão, as grandes filosofias ocidentais, até ao século XVIII, jamais condenaram a escravidão de pagãos... incluindo nela a deportação de africanos para o trabalho forçado."
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(continua)

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