Verney continuava, em Roma, a trabalhar num compêndio de Filosofia "destinado revolucionar a formação mental dos Portugueses." Ali foram publicados os livros: Apparatus ad Philosophiam et Theologiam ad usum Lusitanorum adolescentium, libri Sex; De Re Lógica ad usum Lusitanorum adolescentium; libi quinque; e De Re Metaphisica ad usum Lusitanorum adolescentium.
Cartas suas, mostram que assumiu o papel de conselheiro do nosso Primeiro Ministro, sobre os assuntos eclesiásticos e que a sua luta contra a Companhia de Jesus encontrava eco no Marquês de Pombal. Sugere a moralização dos mosteiros, através da disciplina rigorosa nas relações entre frades e freiras com medidas de proibição de herdarem, e de terem de executar trabalhos. "Quanto à Inquisição, não oculta as suas antipatias por um tribunal anticristão, invenção de Maomé, boa parte de cujas causas implica uma credulidade só comparável à crueldade dos seus processos. (...) Ele assim resume a sua condenação: «Queste non sono cose che si debbano permettere in un seculo illuminato» (pp.100) (...) Verney autoriza a sua repulsa pelo Santo Ofício com a própria antipatia que lhe vota em Roma, expressa nas diligências de Inocêncio XI para lhe moderar a crueldade dos processos."(in:Nota pp.100) Ele defendia igualmente que "a Ética devia tornar-se independente da Teologia, pois há moral fora do grémio cristão." (pp.103)
Faz a crítica do ensino da Medicina, porque se faziam experiências em carneiros, e se trocava Hipócrates por Galeno. No entanto, data de 1748 "a primeira tentativa de associar em academia os médicos e cientistas de mais moderna cultura. Foi Manuel Gomes de Lima (1727-1806), que primeiro fundou a "Real Academia Cirúrgica Prototypo-Lusitana Portuense, e depois associou-se a ele o Dr. João de Carvalho Salazar e surgiu a Academia Médico-Portolitana sob o patrocínio do Arcebispo de Braga, filho bastardo de D. Pedro II." (pp.182)
Verney pugnava pela observação, para que se pudesse conhecer a "verdadeira causa das coisas". Nascia aquilo que devia constituir o espírito filosófico, crítico, com o gosto pela sabedoria e pela interrogação permanente. Um conhecimento que, forçosamente, levará a conhecer o bem e a estimá-lo. O "narcisismo espiritual dos Portugueses, e a sua falta de independência crítica," traduzia-se "pelo desprezo ou pela desconfiança ante os aspectos diferentes da vida espiritual no estrangeiro." (pp.112) Verney irá lamentar que não se viagem pelo mundo, como os outros povos, para adquirirem um conhecimento de experiência feito.
Também a literatura mereceu a sua atenção de erudito e sobre ela dirá que "o voo engenhoso" logo perde de vista a realidade moral ou física que deve constituir "o permanente objecto de observação humilde e atenta. Considerando a Retórica como a arte de persuadir quere-a generalizada a toda a espécie de discurso" (pp.114). Censura os abusos da imaginação metafórica mas mais ainda os da imaginação dialéctica, utilizados na interpretação do texto bíblico. Sendo o Padre António Vieira visado nesta crítica. Era contra o Cultismo que considerava como jogos de palavras. Tinham que se articular ideias, "Ao critério da beleza antepõe o critério da verdade" (pp.123) e condena o uso abusivo da mitologia pagã, inclusivé n'Os Lusíadas. E os mais belos sonetos de Camões critica como não tendo "graça alguma". (pp.124) Quanto à poesia do século XVIII considerou-a muito artificial.
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(Continua)