Hoje começo por vos falar de Pearl S. Buck que foi prémio Pulitzer de ficção em 1932, e Nobel da Literatura em 1938. É uma das autoras que vem representada nesta colecção do DN, com o livro Histórias Maravilhosas do Oriente. Esta romancista norte-americana nasceu em 1892 e faleceu em 1973. Os cenários e temáticas habituais da sua narrativa desenrolam-se na China, pois aí foi educada e viveu a maior parte da sua vida; mas, nesta leitura, também encontrei contos de encantar da Turquia, do Japão, uma graciosa história da Arábia, da Índia, e da Rússia. O conto que mais me encantou foi: A história de Ming-Y. E, por fim, foi-me dado ler a escritora Nadine Gordimer, que foi prémio Nobel da Literatura em 1991 e está representada nesta colecção do DN com o romance Um Mundo de Estranhos. Trata a problemática do apartheid na África do Sul, com muito conhecimento de causa, pois é sul-africana. Posso dizer que foi uma descoberta para mim, não só no plano da tecitura do seu romance, com histórias de amor e vivências quotidianas das personagens, mas também na sua escrita bela e perfeita, a lembrar o romance inglês do século XIX. Seguidamente dediquei-me a ler, da mesma autora, o romance A História de Meu Filho que trata a a mesma problemática com uma estrutura semelhante. Este segundo livro é da Colecção Mil Folhas, vendida pelo jornal Público (que são cem livros da melhor qualidade).
Tenho que reconhecer que são só estas quatro escritoras que estão representadas na colecção Prémio Nobel, que comporta cinquenta livros que abrangem o Nobel desde 1907 a 2001, tirando aquele período em que o Nobel não foi atribuído. Digamos que as mulheres escritoras têm sido um pouco "relegadas" neste prémio, uma vez que só foram contempladas treze vezes.
A escritora que está mais representada nas minhas estantes, em obras lidas por mim, sendo prémio Nobel da Literatura, é a Doris Lessing, talvez porque havia várias traduções das suas obras aquando lhe foi atribuído o prémio e depois porque a temática sobre a África me interessa sobre maneira.
Em 1949 foi prémio Nobel da Literatura William Faulkner. Reli com a mesma paixão a Luz em Agosto e O Som e a Fúria . Devo dizer-vos que Faulkner é único e magistral na sua escrita. Apaixona quem gosta de apreciar a técnica de narrar e ao mesmo tempo a beleza poética das palavras, mesmo quando duras como pedras, como setas que magoam e fazem doer ao leitor.Vou continuar sempre a lê-lo.
Cada vez estou mais entregue aos autores americanos, ingleses e também aos alemães. Penso para mim: fosse eu jovem com um percurso de estudos normal e teria seguido os Estudos Ingleses e Alemães! Sonhava com o conhecimento do meu País e nossa cultura, a nossa literatura, uma vez que passei quase metade da minha vida em África, afinal que desilusão! Que ensino, que paupérrimo é o nosso meio literário que damos quase sempre o dinheiro por mal gasto quando compramos novos autores. Valham-nos os clássicos que são o nosso refrigério, o nosso calor de alma.
Mas adiante que estou a fugir ao tema! Li Hermann Hesse. Curiosamente comecei a lê-lo através do seu livro O Elogio da Velhice (da Difel) Os seus poemas, a sua escrita sempre recorrendo à natureza, à beleza do quotidiano, ao observar os mais pequenos pormenores...prendeu-me para sempre. Vou transcrever um poema que vem mesmo ao terminar este livro:
OUTRORA, MIL ANOS ATRÁS
Acordado de um sonho incoerente
Inquieto, sempre ávido de viagens,
Escuto noite fora a sua canção,
O sussurro dos meus bambus selvagens
Não consigo descansar ou ficar deitado,
Os velhos hábitos tenho de largar,
Faz-me voar, projecta-me para longe,
Viajo para onde o infinito me levar.
Houve uma pátria, um jardim,
Outrora, mil anos atrás.
Outrora, mil anos atrás.
Por entre a neve espreitava o açafrão
No canteiro onde o pássaro jaz.
Gostaria de poder estender asas
Escapar-me aos feitiços que me assombram
Voltar a viver os bons tempos,
Cujas riquezas ainda hoje me deslumbram.
E depois li o Peter Camenzind que está na colecção Prémio Nobel do DN, porque Hermann Hesse foi Nobel da Literatura em 1946. Bebi todas as palavras sem me cansar, apaixonei-me pelo autor, pela personagem, pelos amigos de Peter, pela sua solidão senti tristeza, e rejubilei quando ele voltou a casa depois de tantos anos a errar por Zurique, por Paris, pela Itália, onde em Assis tinha o seu adorado S. Francisco, por Basileia, enfim, eis que regressa às suas amadas montanhas. É indescritível a beleza desta prosa. Foi uma descoberta. Em seguida dediquei-me à leitura de Siddhartha (colecção Mil Folhas). Um "poema indiano" como o definiu H. Hesse. A procura da explicação do Eu, de um "todo" que vai desde a ascese até à experiência das paixões e vícios mundanos e, por fim, o despojamento de toda a riqueza e a realização total encontrada numa vida simples, simples, simples.