quinta-feira, 16 de maio de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

A UM PASSARO CANTANDO

SONETO

Que alegre pendurado de hum raminho
          Cantando em alta vós estas contente,
          Sem temeres o mal estando auzente,
          Que te espera, ó incauto Passarinho!
Acorda pois depreça, que adivinho
          Se tardares hum pouco, descontente
          Inda mal choraras eternamente
          O roubo de teus filhos, & teu ninho.
Faze jà de meus males claro espelho,
          Pois por viver auzente, & confiado,
          Perdi tudo o que tinha merecido.
Mas ah! Que tarde tomas meus conselhos!
          Na perda ficaràs desenganado,
          Jà que cantas auzente, & divertido.

Anonymo


DO INFANTE D. LUIS

SONETO MORAL.

Horas breves do meu contentamento
          Nunca me pareceu, quando vos tinha,
          Que vos visse mudadas tão azinha
          Em tão compridos annos de tormento.
Os meus castelos, que fundey no vento,
          O vento mos levou, que mos sostinha,
          Do mal, que me ficou, a culpa he minha,
          Pois sobre cousas vans fis fundamento.
Amor com falsas mostras apparece,
          Tudo possível faz, tudo assegura,
          E logo no melhor desaparece.
Oh dano grande, oh grande desventura!
          Que por pequeno bê, que em fim fallece,
          Se aventura hum bem, que sempre dura.
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(continua) pp.37/38

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