terça-feira, 21 de maio de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

IV TOMO

PENANDO AUZENTE, E PRESENTE

MADRIGAL

Se a vossos olhos chego,
Se deles me desvio
Na dura auzencia, & no suave emprego,
Hum incêndio padeço, & choro hum rio;
E sempre em tal pezar, & prazer tanto,
Se turba a vista em luz, se turba em pranto,
Ay como temo, que me façaõ cego,
De ver no gosto, & de naõ ver na magoa,
Vossos olhos cô fogo, & os meus cô agua.

J. Baya


GLOSA DO MESMO AUTHOR.

Vida fallayme hoje
Que a manhã vem longe

DECIMAS

                1

Senhora, que sois de Amor
Melhor Vénus, mor Deidade,
Vós menos que flor na idade,
Na lindeza mais que flor,
Abranday tanto rigor,
Sem esperar hum momento,
Que aquém foge o pensamento,
Também o tempo lhe foge;
Vida fallayme hoje, 
Que a manhã vem longe.

                 2

Ah deyxay tanta tardança,
Pois sinto, doce Sirena,
Eternidades de pena,
Em minutos de esperança:
Minha affeyçaõ naõ se cança,
Mas temo que a vida falte,
Antes que amor vos assalte,
E do desdém vos despoje;
Vida fallayme hoje,
Que a manhã vem longe.
___________________
(continua) pp.38/39

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