DO MEIO DIA
48
Sobe ao ponto brilhante, o' Phebo ardente
E o divino licor da pura fonte
Banhe a circunferência do horizonte,
De ardor enchendo o Ceo, de luz agente.
No throno do Zenith teu rosto aquente
Como o valle abatido, o excelso monte,
E com igual distancia se remonte
Dos districtos da Aurora, & do Occidente.
Parte a diáfana luz do claro dia,
E na fragoa de nítidos fulgores
Arda toda a redonda monarquia.
E eu cuberto de míseros horrores,
Cheo de huma mortal melancolia
Fuja as luzes, profane os resplendores.
DA TARDE
49
Vem, o' benigna tarde; & em torno gira
O abrazado esplendor da clara esphera,
E ao florido matiz da Primavera
Docemente o Favonio lhe respira.
As lisongeiras, auras a celera;
E no fresco dos Zephyros tempera
Os acendidos campos de Saphira.
Guia o brilhante Apollo ao lento Occazo
E refresca, abatendo o ardor esquivo
As métricas alturas do Parnazo:
Depois vem; & verás meu peito activo,
Tão ígneo, que na chama em que me abrazo
Ardo morrendo, & abrazado vivo.
DA NOITE
50
Deita, o' noite funesta o negro manto
Pela aerea, e terrena arquitectura,
E influa de teu rosto a pompa escuta
Nos medrosos mortaes confuso espanto.
Do sepultado Phebo ao fogo santo
Receba o pardo círio a chama impura,
E expulse a imagem da mortal figura
O mal sofrido horror do eterno pranto.
Infunda, pois, teu rosto entristecido
Silencio infausto em toda a redondeza,
Desperta a treva, o lume adormecido.
Alegre eu só; que he tal a natureza
De hu tão triste, infeliz, como affligido;
Que descança entre as sombras da tristeza.
_________________________________________________
(continua) pp.45
Sem comentários:
Enviar um comentário