quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Clepsydra de Camilo Pessanha - Resenha da Edição Assírio & Alvim e A. Barahona

(Continuação da Introdução)

Sabemos que Camilo Pessanha também começou por publicar os seus poemas em revistas e jornais. E que foram, alguns desses textos, que serviram de "lição" para a recompilação, mais tardia, que se fez da sua obra dispersa. No entanto, apesar da maioria dos autores rever o texto antes da sua publicação em livro, crê-se que Pessanha não tornou aos poemas que foram publicados nos periódicos. Possivelmente nem mesmo emendou todos aqueles que ditou, que foram escritos à mão e posteriormente impressos. Os erros podem ter surgido nestas fases intermédias e nas próprias edições sucessivas da sua obra. Foram vários, desde Ana de Castro Osório, aqueles que fixaram o texto, Clepsydra. O que verificamos, depois da leitura de edições diferentes, é que há opiniões diversas acerca de variados poemas, quer no que concerne à pontuação, quer no que se refere à ortografia, ou mesmo na aplicação de outras palavras que alteram o sentido dos poemas. Por isso, é que Blecua salienta que o texto pode sofrer, através das sucessivas edições impressas, transformações tão profundas, que o convertem numa obra praticamente nova. (pp.230)
Proust escreveu que «os livros são relíquias preciosas do crente pela inteligência, do apaixonado pelo pensamento.» Poderemos nós, leitores de Pessanha, possuir neste seu livro essa relíquia, esse texto ideal que nos dá a sua inteligência, sensibilidade, ser e pensamento? J. McGann diz-nos que os "textos ideais" não existem e que os críticos usam o texto ideal heuristicamente, como um aviso focando o estudo dos documentos existentes. Porém, para o editor dos trabalhos modernos mais recentes, o primeiro e crucial problema não é como descobrir viciações, mas como distinguir, e finalmente escolher, entre versões textuais. Vamos partir para a escolha que fez António Barahona e verificar as principais diferenças entre a sua fixação de texto na edição da Assírio & Alvim, e a edição crítica de Paulo Franchetti e de outras edições que são referidas por este Poeta que faz a fixação do texto de outro Poeta: Camilo Pessanha.
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(1) ARAGON, «D'un Grand Art Nouveau: La Recherche» In: Essais de Critique Génétique, Paris, Flammarin, pp.8.
p.2

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