"Quem polluiu, quem rasgou os meus lençoes de linho,
Onde esperei morrer, - meus tão castos lençoes?"
Camilo Pessanha
CONCLUSÃO
Jerome J. McGann diz, num texto que nos foi dado ler, que devido a circunstâncias históricas especiais sob as quais o criticismo textual se desenvolveu, o problema crucial com que se defronta o editor de textos modernos acabou por envolver uma determinação das intenções finais. Este problema teve se ser resolvido, pois a sua solução habilita o editor que trabalha sob regras predominantes a decidir sobre um texto - base para a sua edição crítica. De acordo com a linha de raciocínio Gaskell-Thorpe, a primeira edição será normalmente escolhida como texto-base, porque permanece perto do «texto como o autor queria que fosse lido» (pp.64). Mas a posição de Bowers é a de que o manuscrito do autor é uma autoridade mais alta - está mais perto das intenções finais do autor - visto que não contém qualquer da contaminações produzidas durante a passagem do trabalho pela imprensa.
Estas posições rivais partilham a opinião de que a regra das intenções finais orientará a escolha do texto-base.
O que acontece é que este autor, J. McGann, defende que tais decisões não precisam, de modo nenhum, de depender de qualquer conceito das intenções do autor. Refere como exemplo Greg, que ao fazer uma análise racional de Shakespeare não empregou tal conceito, ou pelo menos em parte, porque compreendia muito bem as circunstâncias sociais e históricas em que os textos foram produzidos. O conceito das intenções do autor não pode ser usado como medida definitiva para determinar decisões editoriais quando se não adequa à realidade ou circunstância em que a obra foi escrita. Reconhece, no entanto, que quando os editores lidam com trabalhos posteriores, (como é a edição de P.F.), as decisões acerca do texto-base têm, progressivamente, vindo a envolver determinações acerca das intenções do autor. E porquê? Porque, devido à evidência da muita documentação que se apresenta à crítica, o conceito é usado não como determinante, mas como um guia para escolher que versão do texto se vai trabalhar.
O que acabamos de constatar é que P. Franchetti, apesar de apreciar a primeira edição (A), como a mais próxima dos documentos autógrafos, não considera ser a lição a seguir nesta sua edição. Adopta, na ordenação dos poemas, as orientações exclusivamente atribuíveis a Pessanha. O que o coloca na esteira da posição de Bower, ao prezar os manuscritos do autor como a autoridade mais alta. No entanto, também perspectivou com muita acuidade todas as circunstâncias sociais e históricas em que a obra de C. Pessanha foi produzida e as consequências nefastas que isso implicou para a sua fixação de texto. Seguiu a recensão, fez o cotejo dos testemunhos, praticou a estemática e estabeleceu o texto a partir dos vários testemunhos, ordenando as fontes e dividindo-as em seis grupos por ordem de prioridade, seguindo princípios por si determinados, antecipadamente. Completou o seu trabalho com o registo das variantes, a anotação e todo o aparato crítico.
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(Continua)
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