sábado, 24 de novembro de 2012

Clepsydra de C. Pessanha - Resenha da Edição Assírio & Alvim e A. Barahona

I

Barahona coloca a sua tese alicerçada em "três argumentos irrefutáveis:" «1º - o poeta nunca (jamais) escreve sozinho: anjo, mulher, ou demónio está sempre a seu lado e pega-lhe na mão enquanto escreve; 2º -  o poeta tem a sua poética; e 3º - só o poeta entende de poesia, não como professor, mas como professo e profissional.»
Em nota, chama a atenção para o sentido da palavra "profissional" que aqui aplica no sentido que Pascal lhe atribuiu: «alguém que cumpre uma tarefa por vocação e sacerdócio.»
Prosseguindo, defende que não há a menor dúvida de que Pessanha aceitou como sua, a 1ª edição de Clepsydra, tornando-se assim na "lição autorizada", e com o mesmo estatuto de um texto publicado em vida do escritor. Para a confirmação desse facto transcreve o 3º e 5º parágrafo da carta de Pessanha a Ana de Castro Osório, datada de 3 de Junho de 1921, e passa a rejeitar todas as probabilidades e conjecturas que Franchetti coloca acerca da mesma.
Apela à clarividência que se entronca na sensibilidade poética, vivida através da biografia, "havida ou a haver," do entendimento poético entre ambos, e recorda a ternura do post scriptum da mesma carta: «Seria uma iniquidade pedir-lhe que me escrevesse; mas, quando houver jornais... não se esqueça de me mandar um ou outro... e que eu reconheça no endereço a sua letra. É também para mim uma doce evocação familiar.» Para Barahona é evidente que «A carta não é protocolar, nem manifesta nenhum desagrado no respeitante à edição da Clepsydra: é a carta de um apaixonado, tímido e não correspondido, à sua cúmplice e musa, aquela que, com ele, escrevia e, simultaneamente, o inspirava. (...) Camilo Pessanha amava Ana de Castro Osório.»
A chave da Clepsydra está, segundo Barahona, nesse amor. Mesmo que não tenha sido um amor correspondido no plano sentimental, Ana Osório tornou-se numa amiga amorosa, sendo a prova mais evidente desse amor espiritual, a publicação do livro de Pessanha. Esse amor também terá sido pelo seu filho, João de Castro Osório, mas este ao querer passar a Clepsydra de uma antologia para uma colectânea, traiu esse amor espiritual entre poetas. Barahona vê na sua diligência e na sua busca de inéditos e variantes uma penitência que não o redime do desastre das posteriores edições.
Lamenta o facto de Franchetti afirmar que Ester de Lemos trabalhou com a edição de 1920, quando o texto estudado por esta autora foi o de 1945. Barahona diz que P. Franchetti quis "fundamentar o equívoco de que não há unidade na Clepsydra, mas tão-só uma recolha de poemas arrumados segundo «critérios puramente formais» alheios ao projecto do autor." (pp.140)
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(Continua) p.4

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