sábado, 9 de fevereiro de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

ARTE
 POETICA
PARTE PRIMEIRA
(Continuação)

O instrumento, que faz a semelhança
Aos métricos retratos, he sómente
A medida das vozes, incluida
Na differente espécie, que ela emprega:
A representação a tudo chega:
Sobe ao throno de Deos, ao claro Emperyo,
Aos Anjos, aos Espíritos Celestes,
Ao Sol, à lua, e a todo o Firmamento:
Todo o objecto mortal, todo o elemento,
Toda a maquina eterna, e ser humano
Póde ser imitado da cadencia:
Não inclue a geral circunferencia,
Ou espírito, ou corpo, ou alma, ou ente
Animado, ou sem vida, que presente
O não ponha o desenho da Poesia;
Mas nesta imitação não basta a guia
Do deleite, que nella se procura:
He preciso chegar a mais altura
Pois para ser o plectro luminoso
Deve o util seguir-se ao deleitoso
Nesta parte a Poesia vence a Historia,
E o esforço dos Philosophos, que intentão
Promover as virtudes nos dictames;
A ethica, ou a Historia em seus exames
Nos propõem a virtude carrancuda,
Despida, melancolica, sezuda;
Objecto quasi sempre desabrido:
Hum Poeta remontado, e esclarecido,
Nunca perde a occasião, em que a proponha
Benigna, alegre, amável, e risonha,
Desmentindo em canora suavidade
A asparesa da sua gravidade.
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(continua) p.9

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