Carta XXXVIII
(Tomo II)
A' Senhora Condeça de N. a respeito do Praser.
(...)
"A deleytação do Praser he em tal fórma inimiga do descanço, que he impossivel que os homens se entreguem a ella sem que se fação miseraveis, e criminosos. He tal na opinião do Padre Serrault (1) que fere a alma e o corpo com o mesmo golpe, enfraquecendo a alma, e corrompendo com remedios ainda peores do que o mesmo mal de que nos pretende curar."
(1) Serrault, Tratado do uso das Payxoens, trat. 6. Cap. 1.
Vienna de Austria, 18 de Mayo de 1737
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Carta V
(Tomo III)
Ao Senhor Conde de La Fimoneta, a respeito da Pobresa.
(...)
"Lembrou-me o que disse Seneca depois de Epicuro, que o remedio para ser rico era o de se acordar hum homem com a sua pobresa. Isto a falar verdade parece-me que não he mentira. (...)
Creyo que Seneca devia ter os pés bem quentes quando escreveo estes admiraveis pensamentos, porque se os tivesse descalços, gelados, e metidos em dois sapatos de pão, achando-se sem hum só toco para acender a sua chaminé, e aquentar o seu forno, creyo que estando mais frigido seria menos rigido.
El viver para ser pobre/Es cosa senor tan cosa/Que solo el que la padece/Sabe ser Zampa limosnas.
Exaqui o que disse hum Terencio Hespanhol, e exaqui huma sentença mais verdadeyra que todas as de Seneca."
Vienna de Austria, 24 de Janeyro de 1738
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