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Camilo Pessanha
(pp.109)
"Floriram por engano as rosas bravas
No inverno: veio o vento desfolhal-as..."
Camilo Pessanha
(pp.99)
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"Não sou filólogo em vão, sou-o ainda hoje, o que quer dizer professor de leitura lenta.
(...) A filologia é efectivamente, essa arte venerável que exige do seu admirador antes de tudo
uma coisa: manter-se afastado, ocupar o seu tempo, tornar-se silencioso, tornar-se lento.
(...) Ó pacientes amigos, este livro deseja apenas leitores e filólogos perfeitos:
aprendei a ler-me convenientemente."
F. Nietzsche (1)
INTRODUÇÃO
Mesmo que o sentido original de termo filologia, de procedência grega, queira dizer «gosto pela palavra» e que tenha sofrido, ao longo da sua utilização, uma certa evolução, nunca encontramos uma definição de filólogo que tanto apreciássemos: «professor de leitura lenta». O amor pela palavra leva a que se lhe dedique o tempo silenciosa e lentamente. Só assim há, de facto, uma leitura conveniente. O crítico textual deve pretender isso mesmo: ser leitor e filólogo perfeito.
A filologia foi a "mãe" de todas as ciências literárias, tal como a filosofia o foi de todas as ciências. Se hoje, quando interpretamos um texto, o seu estilo, fontes, estrutura, dizemos que trabalhamos no âmbito da crítica literária, ou se fazemos uma análise morfo-sintáctica e lexical, dizemos que estamos no domínio da linguística, é porque estas ciências se tornaram, a partir do século XIX, autónomas da sua raiz matricial.
Para os investigadores românticos, a «meta derradeira que um filólogo se propõe» é a de «entender, no sentido mais amplo do termo, quanto um outro homem, mesmo distante no tempo e no espaço, confiou aos signos».
O dicionário Morais, na sua 1ª edição, de 1789, define "Philologia" como «a arte, que trata da intelligencia e interpretação critica grammatical, ou Rhetorica, dos autores, das antiguidades, histórias, etc.» Passados duzentos anos, na sua 10ª edição, a sua entrada continua a ser historicista, aliada aos estudos de uma língua e da literatura nela produzida: «Ciência das línguas ou de uma língua em particular, no ponto de vista da sua história literária e gramatical.»(2)
Apesar das principais disciplinas filológicas não aceitarem que lhes seja aplicado este sentido geral do termo, ainda é hoje o mais corrente. Os diversos estudos linguísticos pós-Saussure e o próprio estruturalismo literário, portadores de posições diferenciais, colocavam a palavra filologia fora das novas ciências.
No entanto, a filologia, na sua acepção mais pura, mantém-se nas novas disciplinas, compartimentadas e com abordagens específicas, mas que são interdependentes e têm como fim último "o texto e a sua escrita."
Para designar esse conjunto principal de disciplinas: Paleografia, Codicologia, Manuscriptologia, Bibliografia Material, diz-nos Ivo de Castro que "não há termo mais apropriado que «Filologia».
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(Continua)
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