"O retrato de D. Isabel de Moura, por Domingos Vieira, o Escuro, (Museu de Arte Antiga), considerado um dos melhores retratos da pintura barroca portuguesa, deve ter sido pintado cerca de 1635. (:::) Eugénio D'Ors chegou mesmo a admitir que a sua força anunciava a pintura de Goya. Se Goya supõe Velazquez, Domingos Vieira supõe a pintura espanhola contemporânea." (8)
Josefa de Óbidos, pintora de naturezas-mortas duma enorme beleza descritiva, pintou "o Êxtase Místico de Santa Teresa em 1672, para o Convento das Carmelitas Descalças," (hoje na Igreja de Cascais), com "uma certa carga espectacular irradiando da composição," que nos mostra a "sua origem, na distribuição e tratamento dos efeitos luminosos e cromáticos."(9) "É no retrato e na natureza-morta, esta última não isenta de simbólica religiosa, que a pintura seiscentista melhor se afirma (...) extremamente decorativa, a pintura dos tectos é outra modalidade em destaque, com repercussão no vocabulário da azulejaria, renovando-se na figuração do azul e branco (...) alargada a áreas de significação alegórica e narrativa (...) suscitando um campo de escrita complementar da pintura." (10)
O Palácio dos Marqueses da Fronteira (...) é também um repositório de azulejos nacionais e holandeses, integrando um arco temporal que abrange o barroco do século XII e XVIII. (...) A galeria dos Reis e os painéis dos Cavaleiros" demonstram "as potencialidades da representação figurativa em grande escala. Os retratos equestres foram largamente divulgados pela pintura barroca, sendo bem conhecidos os de Velazquez. A figura atravessada do Cavaleiro, dominando a fogosidade da montada, pretendia exprimir o dinamismo do espírito barroco e associava-se às qualidades da nobreza e comando militar." (11)
Aliada a todo este esplendor da arte pictórica estava a música, como nos é dado constatar. Na Academia dos Singulares, a par dos poetas e pintores estavam, em 1670, "dois outros académicos, músicos e compositores, ligados mais ou menos directamente à Corte. Sebastião da Fonseca e Paiva (Lisboa 1625- Palmela 1705), que acompanhara D. Catarina de Bragança a Inglaterra em 1662 como Mestre Capela. (...) E António Marques Lêsbio (Lisboa 1639-Lisboa 1709), contrapontista famoso e muito elogiado por Barbosa de Machado, (...) trabalhava na Capela Real em 1692, sendo nomeado bibliotecário da Real Livraria de Música em 1692 e Mestre da Capela Real em 1698. Versado em latim, grego, italiano e castelhano, possuía vastíssima erudição." (5)
A linguagem da poesia barroca diz todo o primor, decoração, vigor, exaltação, luz, cor e som, da arte desta época. Assume-se como construção. Adorno e festa, para a qual se colocam "brincos retóricos" da mais fina filigrana de ouro ou de prata. Capta o tom dialogante das gentes e também um tom épico com pendor lírico. Transforma-se numa "estátua" rica de ornamentos, num quadro, num retrato sumptuoso, num jogo labiríntico, emblemático, onde se confirma o preceito de Horácio: "Ut Pictura Poesis erit." "Busca ansiosa de lumes e formosuras", que fazem do Lampadário de Cristal, de Jerónimo Baía, "a mais vistosa girândola" dessa competição pirotécnica que é a Fénix Renascida". (12) Na sua constante dualidade, porém, a linguagem da poesia barroca entoa um canto triste e fúnebre, apela à visão da "miséria" que todo este esplendor transporta. A beleza que se transforma em ruína, o engano em desengano, a alegria em tristeza, a vida em morte.
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(Continua) p.3
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