domingo, 20 de janeiro de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

II 

A R T E 

P O E T I CA

PARTE PRIMEIRA

Mandais-me que vos dicte algumas regras
Daquella soberana melodia,
A quem se deo o nome de Poesia:
Não sey que extravagante movimento
Vos dispõem ao estranho pensamento
Deste infeliz emprego: este exercício
O tem já reputado, como vício,
O nosso Portugal: he bem verdade
Que o julgou de outro modo a Antiguidade
Tão natural aos homens se mostrava
O alcanse de huma luz tão deleitosa, 
Que foy inda primeiro, do que a Prosa,
A ligada oração: Santificava
Nella a Infância do Mundo aquelles hymnos,
Com que as graças, em métricos louvores,
Rendia aos benefícios superiores.

Os mais altos espíritos julgarão
Por hum divino incendio esta eloquência:
A doutrina lhe deo a preeminência
Em todas as funçoens do engenho humano:
No Civil, no sagrado, no profano
Entre as Nacoens mais sabias, e polidas,
Não só foy sempre amavel esta chamma,
Em que anima o clarim a eterna fama,
Mas inda no confuso labyrinto,
Em que dorme, em que geme, em que se occulta
A Província mais tosca, e mais inculta.

Só nas sombras fatais deste Occidente,
Onde a Patria formou seu domicilio,
Pode nunca alcançar hum nobre auxilio
Esta infancia Celeste: Se com tudo
Quereis exercitar o infausto estudo,
He preciso fazer hum serio exame
De vossa propensão; pois o dictame
Aqui, sem natureza, não ensina:
He melhor mestre o genio, que a doutrina.
Porèm como se excita, ou se melhora
O génio, com a arte, eu vos proponho
As regras, que Aristóteles prescreve:
Atégora outra guia mais segura,
Para chegar ao cume, e á grande altura
Do harmonico esplendor: eu só acceito
Para dar huma ordem, sem defeito
A' rapida extensão do ardor brilhante
Com benigno, com placito semblante
A vaga liberdade do alvedrio
Estas regras receba: eu principio

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(Continua) pp.7 





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