sábado, 19 de janeiro de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca

"A relação entre a retórica e poética condiciona qualquer reflexão sobre a linguagem, desde a antiguidade até aos nossos dias (...) Aristóteles define a retórica como a arte de extrair de qualquer tema, o grau nele contido, e a única diferença entre arte retórica e arte poética está em que a primeira diz respeito à comunicação quotidiana (de ideia em ideia) e a segunda à evocação imaginária (de imagem em imagem). A poética de Aristóteles é consagrada à essência e à origem da poesia. A lógica estabelece que as operações sobre as palavras não fazem senão substituir as operações sobre as coisas e que, em consequência, se as palavras significam coisas, isto dá-se em função de certo grau de imitação. A poesia, que é operação sobre palavras, é portanto imitação, mimesis. (...) O facto de a poesia "imitar" a natureza indica que o criador, no momento do fazer reencontra o segredo da geração natural das coisas, o que lembra o parentesco morfológico entre poein, fazer, produzir, e poiésis, criação, produção, poesia. A noção de mimesis liga-se à verosimilhança da representação; o poeta pode representar as coisas mais belas ou menos belas do que realmente são, segundo a sua maneira de imitar e a finalidade da imitação (os géneros).
Para Aristóteles não havia poesia sem fábula (mytos), isto é, sem acção; insiste que: «é preciso que o poeta seja poeta de fábulas mais que de versos, visto que é poeta em razão da imitação, e imita as acções». Por fim, é preciso não esquecer a afirmação do início da poética: a harmonia e o ritmo são tão naturais no homem quanto a imitação." (15)
A linguagem da poesia barroca tem acção e, na sua singularidade, usou "mytos" e ornatos para chegar ao leitor. É necessário reencontrá-la e dar-lhe o lugar que merece na nossa língua e cultura. Que este trabalho seja um pequeno e "pobre" contributo, talvez, colocado ao lado, por exemplo, da Introdução do Postilhão de Apollo,  de que transcrevo parte, e dos cinco volumes da Fénix Renascida, "fogo preso", nos bem abençoados Reservados da Biblioteca Nacional.
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Notas:
(6); (8); (9); (10); (11) MOURA, Carlos, HISTÓRIA DA ARTE EM PORTUGAL, Publicações Alfa, Lisboa, 1993, pp. 147; 130; 142; 122; 150.
(12) CIDADE, Hernani, A POESIA LÍRICA CULTISTA E CONCEPTISTA, Seara Nova, Lisboa, 1968, 4ª ed., in: Prefácio, pp. VIII.
(13); (14) PIRES, Maria Lucília Gonçalves, POETAS DO PERÍODO BARROCO, Editorial Comunicação, Lisboa, 1985, 1ª ed., pp.32; 33; 37 e 38.
(15) DELAS, Daniel e Filliolet, Jacques, LINGUÍSTICA E POÉTICA, Editora Cultix, Ed. Universidade de S. Paulo, 1975, pp. 9 a 11.
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p.6

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