sábado, 6 de abril de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

INTRODUCÇAÕ
POETICA

                     I

Era do anno a estação primeira,
Em que de Colchos o animal luzido
Acaba no Zodíaco a carreira
Depois da porta ao anno ter abrido:
E fugindo dos peixes, derradeira
Estação do Inverno desabrido,
Luzes promette ao ceo, flores á terra
Nas ausências do frio, que desterra.

                     II

E o dourado véllo sacudindo
Das geadas do Inverno rigoroso,
Está sobre campo de ouro descobrindo
Hum bordado de prata muy vistoso:
Indo com a dourada ponta abrindo
Caminho neste campo luminoso,
Pizando ayroso lúcidas estrellas,
Mais rico de esplendor que todas ellas.

                    XI

Na terra a Deosa Flora debuxava,
Sentada em verde estrado, subtilmente
Formosa Primavera, que igualava,
Se não vencia, este Orbe transparente:
E nas flores da terra arremedava
As estrellas do Ceo resplandecente
Com tal arte, e primor, tal galhardia,
Que a terra novo Ceo se parecia.

                  XII

Para o rico bordado se servia
Da seda, que lhe offrecem lindas flores,
Das quaes com destra mão subtil fazia
De cores mil finíssimos lavores:
E com ellas ao campo revestia,
Cortando-lhe vestidos de mil cores,
Engastando por pedras preciosas
As lágrimas da Aurora mais lustrosas.
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(continua) pp.20

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