INTRODUCÇAÕ
POETICA
(Continuação)
XXIII
Nesta, pois, Estação deliciosa,
Em que o mundo de novo recupera
Quando a Estação do Inverno rigorosa
Lhe roubou triste, lhe furtou severa:
Neste tempo, em que a terra mais formosa
Traja gallas de linda Primavera,
Quis Apollo se abrisse a Academia,
Para reformar de novo a Poesia.
XXIV
Como ouvia dizer se murmurava
Sem respeito nenhum, ou cortezia,
E que o vulgo ignorante motejava
Com solta língua a nobre Poesia:
Sendo o que nisto mais se adiantava
O que della talvez nada entendia;
Quis que se consultasse no Parnaso
O que era bom fazer-se neste caso.
XXVI
Põm-se gentil Cyllenio accelerado
As azas tão ligeiras, como ayrosas,
E navega sobre ellas estribado
Por golfos de Crystal maré de rosas:
Os ventos, quando o vêm tão apressado,
As próprias azas tem por vagarosas,
Dando ao filho de Maya a primazia,
Assim nos voos, como em bizarria.
XXX
Assim todas as Musas, que assistião
Na floresta cheirosa entre as boninas,
E com Flora gentil se divertião
Junto ás agoas da fonte crystalinas,
Sendo os crystaes undosos, que corrião,
Espelho as suas faces peregrinas,
Attrahidas da musica, que ouvirão,
Ao cume do Parnaso se subirão.
XXXI
Intimou-lhes Cyllenio o seu mandado,
Que da parte de Apollo lhes trazia,
E logo alli ficou determinado o dia,
Como lhes pareceo mais acertado,
Para poder abrir-se a Academia:
E com isto Cyllenio se despede,
E co' as azas do vento as próprias mede.
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(continua) pp.21
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