sábado, 27 de abril de 2013

«O Tempo, protagonista da Poesia Barroca»

(Continuação)

                         32.

Que triunfos procuras, que vittorias,
Que não possa meu peyto assegurarte?
Na guerra vàs buscar estranhas glorias,
E as glorias deyxas, que eu pudera darte?
Solicitas no sangue altas memorias,
Deyxando a Vénus por seguir a Marte?
E a meu gosto teu risco sempre opposto,
Amas mais a teu risco, que a meu gosto?

                         44.

Se interesse te leva a estranhos climas;
E a caso por riquesas te aventuras,
Torna atrás, que no bem, que desestimas,
Mais riquesas terás, do que procuras;
Esta ambição dourada, donde animas
 Tanta luz de esperanças mal seguras,
Ay! Não te usurpe, não q he pouco experto
Numa incerta ventura hum prazer certo.

                         57.

Eu parto, mas se parto, he porque o brio
Do valor do meu sangue assim me ordena,
E porque com partir, Lydia, desvio
Hum descrédito a troco de huma pena:
Parto a fazer lisonja ao alvedio
No rigor, com que a ausencia me condena;
Para poder cuydar que te mereço,
Quando iguale o que te amo ao que padeço.

                         66.

Està sem vida Lydia, & està fermosa,
Inda mata sem vida, & sem sentido
Porque entre quantas vidas tira ayrosa,
Para poder viver, busca a de Armido:
Mas, como a naturesa cuydadosa
A Armido igual não deu, tendo-o perdido,
Em vaõ se cansa Lydia, em vaõ discorre,
Que em quantas vidas tira, em tantas morre.

                        67.

Como quando em hum prado arroyo breve
Derretidos crystaes disfarça em prata,
Porque o Dezembro os vestio de neve,
Elle com traição cândida os desata:
Ou como quando occulta em cinza leve
Dissimulada a chama se dillata,
Assim Lydia, encuberta a dor, & a màgoa,
Se prende em fogo, se desata em agoa.

                       113.

Mas quem poderá crer o desengano
De que fiquey sem ti, se estou comigo!
Não te partiste, não, que por teu dano
Era força partir também contigo:
Mas não, porque me basta o duro engano,
Com que em meu peyto estàs, doce inimigo,
Para que inda assistindo à menos parte,
Me não sayba deyxar, por não deyxarte!
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(continua) pp.29/30  

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