O POETA E A POESIA COMO EDUCADORES
Quando escrevemos num texto a palavra valor, a imagem íntima da mesma revela-nos qualquer coisa como quantificável. A prata? O ouro? A platina? Então verificamos que a palavra valor adquire velozmente no pensamento os mais diversos sentidos. Como foi aplicada ao longo dos tempos em relação à poesia? Qual é o valor da poesia? Poderá ser quantificável? Qualificável? Não tem valor? A poesia acontece. É. É o tudo que pode ser o nada. Para alguns. Para outros é sentimento e razão de ser. Impossível de transaccionar ou de se lhe atribuir valor.
O que é a poesia? É razão de viver. Em tudo poderemos ver poesia? Que parâmetros? Desde tempos imemoriais, milénios talvez, que estas ou outras interrogações se põem. Na verdade, sabemos, como nos diz a sextina de Diogo Bernardes, que "Querem trabalho e tempo as altas Musas". Ora trabalho e tempo são ontem e hoje, talvez mais do que nunca, quantificáveis. Representam diversos valores. É também o poeta que diz que a tarefa de fazer poesia não se compadece com o "ócio vil", porque "não se descobre sempre a luz de Febo". É a pouco e pouco. Surge como "metáfora de viagem", que leva a "trilhar corajosamente o caminho áspero."(39)
Isto porque a mitologia grega colocou "Apolo ou Febo, deus da poesia," lá nos píncaros do Pindo ou do Parnaso! Verdadeiramente esta é a realidade; longa e dura a caminhada. Assim sendo, a vida do poeta é comparável à de Sísifo que vai tentanto subir e elevar a sua voz a Febo. Quantas vezes recomeçando? As vezes que forem precisas. Também Cícero assim o fez. Ele mesmo refere que ao estudo se consagrou, e que viveu para ele de tal modo, que "nem o lazer o atraíu, nem os prazeres o arredaram, nem, enfim, o sono o retardou." (40) A este autor não faltou o ânimo. Ele sim, foi naturalmente coroado "Da sua (que foi Ninfa) planta verde".
Então o valor da poesia reside na sua dignidade? Sim. Digna a poesia e os poetas, porque eles são "os depositários e continuadores de um credo tão antigo como Apolo, Orfeu, e as Musas."(41) Mas perante este tão grande valor, inquantificável, surge o "Domine non sum dignus"(42) que leva o poeta a sentir-se pequeno perante tão imensa tarefa! Elevar-se face à "essência divina", como era vista a poesia, "conceito de tradição pitagórica e platónica."
Vejamos então vários opiniões sobre o assumto: já Pindaro, nos séculos IV e V a.C. fala sobre o valor de poesia, através de Epodo:
Eu abrasarei com meus cantos fogosos
Essa cidade bem amada,
E, mais rápido que o cavalo magnífico
E que o alado navio, espalharei este louvor
Por toda a parte,
Se, com mão assinalada pela sorte, eu sei cultivar
O jardim priviligiado das Graças. São elas
Que concedem todo o deleite. Os homens, esses valem
Conforme os deuses concedem
Pela coragem ou pela arte..........................
(Olímpicas, IX, 21.29) (43)
O valor da poesia está aqui elucidamente expresso. "Uma mão assinalada pela sorte" que poderemos equiparar à inspiração das Musas quando o poeta escreve, mas também à sorte de saber "limar", como dizia mais tarde Horácio na sua «Arte Poética», as arestas, aquilo que não se insira dentro dos contornos do quadro que se pinta. Então, ao poeta será dado o poder de criar cantos maviosos, fogosos, em louvor da cidade, pelo seu encanto poético e deleitoso. Assim, a sua pena terá maior poder e rapidez que o "cavalo magnífico" ou um presumível "alado navio", para espalhar as Graças concedidas e cultivadas quais flores do mais mimoso jardim.
(continua)
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