quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Clepsydra de C. Pessanha - Resenha da Edição de Assírio & Alvim e A. Barahona

(Continuação da Conclusão)

Barahona pressupõe que só ao poeta, que ama outro poeta, enquanto artífice da palavra, é dado conhecer o "mistério" da poesia. Para um poeta que ama outro poeta, a sua voz torna-se "inesquecível". Assume-se como poeta que ama Pessanha, por isso, para si, a sua voz é inesquecível, tal como o terá sido para Ana de Castro Osório. Logo, a primeira Clepsydra, será a "voz inesquecível" dos que amam, amaram, Pessanha.
Digamos, em abono da verdade, que consideramos hiperbólicas as palavras "irrefutáveis; nunca (jamais); só o poeta entende de poesia." Pensamos que nada é irrefutável e que tudo se pode contradizer. Quanto a dizer que o poeta "nunca (jamais)" escreve sozinho, na esteira da eterna tradição grega que coloca o Poeta como um mensageiro, um oráculo divino, também pode ser contestável. O autor ao assumir a poesia como uma "tarefa" de profissional, está naturalmente a aceitar que todo o "sacerdócio" se aprende ou que qualquer tarefa pode ser aperfeiçoada. A afirmação de que "só o poeta entende de poesia, não como professor..." está, à partida, a negar a possibilidade de Franchetti, como professor, ou Gustavo Rubim, de entender "o mistério" da poesia de Pessanha. Critica a própria edição crítica e a crítica em geral, sempre que esta não utiliza a 1ª edição como única fonte fidedigna. Verificamos isso mesmo quando Barahona diz: Ao contrário do que afirma Paulo Franchetti na introdução à sua Clepsydra, que não a de Camilo Pessanha...
Quanto à edição de que se serviu Esther de Lemos ser a de 1920, ao estudarmos a edição crítica de P. Franchetti encontramos, de facto, aquilo a que Barahona se refere, mas este editor crítico faz um elogio rasgado a "Esther de Lemos que escreveu a mais demorada e sensível interpretação da poesia de Pessanha" admitindo logo no início "do seu trabalho pioneiro" que «A Clepsydra não constitui um todo organizado; é sob aquele título, uma colectânea de poemas de Camilo Pessanha...» (pp.42) Franchetti trabalhou com a 2ª edição da Editorial Verbo, 1981, A «Clepsydra»  de  Camilo Pessanha, de Esther de Lemos, e em nota 9, Barahona  refere a 1ª edição.
Não podemos verificar se de facto existe esse erro nas datas, por parte de Franchetti, mas aquilo com que refuta a "distracção" de P. F. talvez não seja de todo aceitável. Presume-se deste reparo, que a leitura de P.F. não terá sido atenta, mas também se pode presumir que não vem, de forma explícita, na obra da estudiosa, o livro que lhe serviu de texto-base.
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(Continua) Exc.12

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