(Continuação)
A este factor alia a pressuposta discordância com a vontade de Pessanha que estaria expressa na 1ª edição. Barahona considera que há uma factura a pagar pelas diversas edições que se vão fazendo ao livre arbítrio de cada crítico, ou professor, onde cada um adopta o seu método na selecção e fixação de poemas do poeta. Digamos que essa factura é consequência do "capricho" de cada um que se dedica a investigar Pessanha e que cria um "novo" Pessanha, em cada nova edição. O autêntico, esse, só estará presente na edição de 1920, porque foi aquela com que o poeta concordou.
Mesmo que os poemas sejam mudos, como os classificou Edmundo Bettencourt, "os poetas são todos ouvidos, na sua demanda do silêncio:" escreve Barahona. Comparam-se, pelo seu ouvido apurado "a um muálimo (professor) numa madrassa," que ouve a totalidade dos seus alunos como "uma orquestra vocal, numa sonora visão de conjunto." Assim se constitui a Clepsydra, num só Poema, mesmo que repetido em simultâneo por trinta leitores que recomecem em voz alta a ler cada poema.
Depois de ter apresentado razões da sua crítica ao trabalho de P. Franchetti ("fruto de quem não vê quase nada"), inicia a crítica à última edição, ou ensaio de edição, de Gustavo Rubim. Mesmo que Barahona veja, na sua edição, a virtude de intuir "a unidade da Clepsydra (falseada ou perdida) como Ou o poema contínuo" e uma tentativa de recompor o livro, considera que se enganou. E porquê? Porque o livro já estava composto. "Só não se engana, quando sentencia: «O livro não se confunde com a totalidade dos textos que alguém escreveu; num certo sentido, o livro de poesia nasce necessariamente como antologia. Faz-se por subtracção e desfaz-se quando se converte em mera acumulação.»"
"Gustavo Rubim não se terá dado conta de que a antologia de que fala, o livro apurado por subtracção, já estava publicado por Ana de Castro Osório, em 1920, com a aprovação expressa de Camilo Pessanha; e que as suas supracitadas considerações poder-se-iam aplicar à letra, à Clepsydra inicial, e não à sua, que, no seguimento das de João de Castro Osório e Paulo Franchetti, desvirtua a vontade do Poeta e os seus versos." (pp.142/143)
Transcrevemos esta crítica demolidora para realçar o facto de que Barahona considera como arquétipo ou "edição canónica", a de 1920. Tudo o resto são "viveiros de versões" que se nega a analisar porque, se tornaria fastidioso, ("à imagem dos próprios textos").
Mesmo que pareça um paradoxo, continua a haver um cânone; a única coisa a fazer é reeditar sucessivamente a 1ª edição poética.
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(Continua) p.6
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