quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Cartas Familiares de Cavaleiro de Oliveira

Carta 15

Ao Senhor Conde Claravino Basso, respondendo a hum reparo.

(O Conde acusa o escritor de usar muitas citações de escritores clássicos nas suas Cartas e diz-lhe que são muito difíceis de ler.)
(...)
"A culpa que V. M. me faz he verdadeyra. Eu a conheço porem em vez de prometer emmenda nella me obstino a segyla. (...) Quando escrevo, e a materia o pede digo Metheoro, Eolipido, Calamita, etc. com a mesma facilidade com que digo Homero, Socrates, e Temistocles... (...)
Ente V. S. que os meus Escritos são escuros e dificultosos por esse principio. Eu tenho-me applicado quanto posso a escrever, e a falar claro. (...)
Se V. S. entende que os meus papeis merecem Commentes e Notas, esse castigo he muito nobre, e muito mais desejado que o de buscar censuras, e criticas, bem merecidas. Meu Senhor, os nossos Gregos, Romanos, Hebreos, etc. tradusidos em idiomas vulgares cheyrão a ridicullarias, e sabem a ignorancias. ..."

(Segue-se na carta o comentário, do autor, à tradução das Cartas de Cícero a Áttico que têm muitas falhas, assim como as de tradutores franceses.)

Vienna de Austria, 24 de Fevereyro de 1737
(Carta VII, Tomo II, pp. 43/4)
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Aquilo que o escritor censura, a falta de clareza no discurso, também aqui lhe é apontada. Ele, com a sua frontalidade, aceita o reparo como verdadeiro, mas não quer emendar-se. Promete ser obstinado na sua maneira de escrever, porque considera que as traduções não são perfeitas e que os autores clássicos devem ser citados na sua língua original. Flui toda a sua erudição para fazer notar a ignorância de quem lhe aponta serem as suas Cartas difíceis de ler. O autor sabia que escrevia para a posteridade. Tinha o seu estilo, a sua dignidade.

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